11 dezembro 2009

De pernas para o ar


De repente foi como
se o mundo se tivesse virado
de pernas para o ar.

Meteras-te onde?
Porque não aparecias
À hora marcada?
Investigo.
Procuro-te.
Canso-me de não te encontrar…

Até que, num último rasgo
de uma brilhante ideia,
bato à porta daquela casa.

E tu apareces, nu,
quando eu oiço uma voz masculina
(que eu tão bem conhecia)
vinda do quarto
perguntar:

- Quem é, amor?

A vontade foi esganar-vos
a ambos
logo ali. Sem mais.

Fui embora.

Foto e poesia de Paula Raposo

Pelo sim, pelo não, falo de pila

Reparei, durante a minha vista de olhos pelas últimas postas publicadas, que voltei a entrar num daqueles períodos em que me disperso por temas de caca, coisas sem interesse algum para a maioria dos visitantes de blogues sem rumo temático como o Charquinho.
E por isso resolvi hoje retomar os temas verdadeiramente importantes para a esmagadora maioria de nós, as coisas que mexem com o dia a dia das pessoas. Sim, vou falar de pila e das questões que lhe estão associadas (sim, eu sei quais são as questões que lhe estão associadas mas não gosto da palavra testículos).
Começo por esclarecer que o meu interesse na matéria não incide na óptica do utilizador. Ou melhor, de usufrutuário de outras pilas que não a minha. Isto só para separar as águas para melhor entendimento do sentido das minhas palavras, para facilitar a leitura e assim.
Esse interesse a que faço alusão prende-se com o arquétipo da pila perfeita que conseguimos esboçar a partir de uma análise atenta dos desabafos, elogios, críticas e até louvores que proliferam por essa net e pelas mesas de café do lado por esse país fora.
É fascinante a diversidade de opiniões acerca desse tema, embora seja igualmente óbvia a relativa ausência de controvérsia no que concerne ao padrão da melhor pila para cumprir outra função que não a de fazer chichi.
Das conclusões fáceis de retirar mesmo a partir de uma observação (ou de uma audição indiscreta como quem não quer a coisa) inclui-se a de que o mito masculino do tamanho, esse incontornável critério de avaliação, não é documento. É consensual entre os/as apreciadores/as do membro em apreço que os extremos não atraem, sendo que demasiado pequeno sabe a pouco e demasiado grande é ter mais olhos que barriga (chamemos-lhe assim). Ainda assim, excepção feita a quem por esta ou aquela razão possui apetência pelo exagero, é clara a opção pelo nem bem nem mal passados e dentro deste segmento existe uma inclinação pela classe média/alta em detrimento das pilas remediadas ou assim-assim. Aquela do pequenino mas trabalhador não cola...
Quer isto dizer que o tamanho, não sendo documento, possui alguma relevância enquanto factor de distinção embora não constitua factor eliminatório.
A inclinação para o segmento mais abastado não possui referências frequentes à inclinação propriamente dita. Ou seja, tanto faz a tendência ideológica de esquerda ou de direita embora o ícone mais popular aponte de caras para o centro.
De resto, a política não parece interferir tanto nos critérios de definição da pila ideal como o respectivo estatuto sócio-económico como o defino no parágrafo anterior.
No entanto, é inevitável regressar à sensível questão das dimensões para abordar o diâmetro enquanto argumento. E nesse aspecto há que salientar uma preferência maioritária (com excepções à regra em função do destino a explorar) pela largueza. Curta ainda vá, mas diametralmente generosa para compensar.
Fui surpreendido, talvez pela combinação de cromossomas que me influencia o raciocínio, pela escassez de alusões às tais questões acessórias ou associadas.
De facto, a uma pila perfeita não parece estar necessariamente ligado um conjunto específico (ou especificado) de acessórios de origem. É a regra dotanto faz, tamanha a irrelevância do(s) pormenor(es). Desde que lá estejam e cumpram cabalmente a sua função até podem ser quadrados que ninguém parece reparar por aí além.
Finalmente, e para não tornar demasiado extensa esta desinteressada análise ao tema, resta-me citar os únicos aspectos onde a unanimidade é um dado adquirido: pila perfeita, qualquer que seja o segmento em que encaixe, tem que ser sólida (nas convicções, presumo eu), capaz de enfrentar desafios prolongados tanto na óptica da velocidade como da resistência sem vergar ao peso da responsabilidade ou outro.
E acima de tudo, de acordo com os elementos obtidos (que eu disso não percebo nada), a pila perfeita tem que reflectir no desempenho aquilo que se espera por parte do resto que traga agarrado.


Pensa em adoptar um estilo de vida como dominadora: o teu homem vai ficar entusiasmado com o frémito sexual acrescido... e tu nunca mais vais precisar de esfregar o chão da casa de banho.

10 dezembro 2009

Gozo

Adoro o teu ódio. Adoro essa tua dedicação constante, permanente, total a que o teu ódio te condena. Adoro saber que me basta tão somente existir para que vivas arqueado, a rebentar em dolorosa frustração. Adoro ser o veneno em ti, o veneno do ódio que acidifica, que te corrói e se aloja no teu ventre, ampliando-te a erecção firme, incómoda, descontroladamente prenha de mim e pronta a sujar-te de uma ejaculação que te cobre de mais ódio e de vergonha, de desprezo por ti mesmo. E basta tão pouco...basta um cheiro vagamente semelhante ao meu.


Rendição

Sinto-me desarmado perante a força desse teu sorriso encantado, como eu fico, presente de fadas ou de deuses para o mundo que felizmente me inclui.
O risco de ser hipnotizado como eu fui, à solta pelas ruas, uma boca feiticeira que ilumina uma cidade inteira quando se abre numa expressão de alegria ou de satisfação, cada um que a sorte bafeja com a visão dessa boca que um dia vi e que, é mesmo assim, beija ainda melhor do que sorri.

Bactérias de Gajas atrás de mim...

Mais livrinhos de cordel para a minha colecção

A Fernanda Frazão, da Apenas Livros, enche-me de mimos: publica obras que de outra editora jamais sairíam, num formato de livros de cordel a lembrar os tempos bem antigos e ao preço da uva fodilh... mijona.
Já tinha na minha colecção:
Grande Gaita! - Gabriela Morais
A Peidologia - Domingos Monteiro d'Albuquerque e Amaral
Ninfa - João Lopes Barbosa
O Pintelho da Maltrapilha - Garízio D.B.
A Punheta do Canhoto - Garízio D.B.
Puerilidades - La Lica
O Caralho - Rodrigues Baptista
Coisadas… assim ao decorrer do poema - Jorge Castro
Odes no Brejo & Alguns pecados - Jorge Castro [com muitos poemas publicados em primeira mão no blog porcalhoto]
Havia trigo - Jorge Castro
Auto das Danações - Jorge Castro [peça de teatro feita por encomenda, dado o mote, e representada pela Tuna Meliches no 7º Encontra-a-Funda, em Caria]
Poemas de Mensagem - Jorge Castro
A Punheta do Canhoto - Garízio D.B.

Desta vez comprei mais estes:
'Da-se!!! - P. Esse Lopes
As Aventuras Maravilhosas de Jacin Totudo Fu Deer - Gilmar Kruchinski Junior
Gosto das Mulheres que Gostam Deles Grandes - Aníbal Silva St.
A Arte das Putas - Nuno Rebocho
Tríptico Fálico - Vítor Vicente

Estou consoladinha...

Coisas boas


Alexandre Affonso - nadaver.com

09 dezembro 2009

Uma gaja no céu aos olhos da São

Guardo


Guardo-te sobre os dedos
No parar do tempo
Na calma com que toco a pele hoje despida

Guardo-te no olhar
Como a luz das manhãs
E a força dos dias inventados por ti

Guardo-te no instante em que me calo
E não escuto o teu silêncio
Murmurado ao meu ouvido

Guardo-te nas rugas do nosso leito
Nas ondas sedentas
Das torrentes rubras de paixão

Guardo-te nos acordes sublimes
Das notas produzidas no corpo
E das suaves melodias geradas em mim

Guardo-te na saudade ressaltada
E no suspiro dos dias de repouso
Que acarinham o vazio deixado por ti

Guardo-te no travo da minha boca
Num sabor doce que me desperta
A vontade louca de te amar

Maria Escritos
Blog Escritos e poesia

Before You Can Read Me...



Eu não escrevo.
Às vezes digo uns... disparates.
E agora vou começar a dizê-los aqui também.

(...you got to learn how to see me.)

Penúltima Guerra!



Veja os capítulos anteriores:
Guerra dos Sexos #1
Guerra dos Sexos #2
Guerra dos Sexos #3
Guerra dos Sexos #4
Guerra dos Sexos #5
Guerra dos Sexos #6
Guerra dos Sexos #7
Guerra dos Sexos #8

Capinaremos.com

08 dezembro 2009

Mario Vargas Llosa escreve sobre o desaparecimento do erotismo no «El Pais»

Concordo quase completamente... e terei tudo isto em conta se um dia abrir ao público a minha colecção.


(crica para acederes ao artigo original e completo)

Alguns excertos em tradução livre:
"Há muitas maneiras de definir o erotismo, mas talvez a melhor seja chamar-lhe a desanimalização do amor físico, a conversão, ao longo do tempo, graças ao progresso da liberdade e da influência da cultura e das artes na vida privada, da mera satisfação de um impulso instintivo numa tarefa criativa e compartilhada que prolonga e sublima o prazer físico, rodeando-o de rituais e refinamentos que o convertem numa obra de arte.
(...) o erotismo representa um momento elevado da civilização e é um dos seus ingredientes determinantes.
(...) O erotismo, no entanto, não só tem essa função positiva e enobrecedora de embelezar o prazer físico e abrir um amplo leque de sugestões e possibilidades que permitam aos seres humanos satisfazer os seus desejos particulares e fantasias. É também uma tarefa que traz à tona aqueles fantasmas escondidos na irracionalidade, destrutivos e mortais por natureza. Freud chamou-lhes a vocação de Thanatos, que disputa com os instintos vitais e criativos - Eros - a condição humana. Abandonados a si mesmos, sem qualquer travão, aqueles monstros do inconsciente que se assomam e reivindicam o seu direito à presença na vida sexual, se não forem contidos, de algum modo poderiam levar ao desaparecimento da espécie. Por isso o erotismo não só encontra na proibição um estímulo voluptuoso; quando os limites são violados, também se transforma em sofrimento e morte.
(...) O erotismo não é tanto um feito em si, uma entidade isolada e diferenciada de outras, mas sim um olhar, uma escolha subjectiva, uma paixão ou uma mania que se projectam sobre tudo o que existe, erotizando às vezes coisas que pareceriam ser-lhe totalmente alheias e até adversas, como a religião.
(...) O desaparecimento de travões e censuras, a permissividade total no campo amoroso, ao invés de enriquecerem o amor físico e elevá-lo a níveis superiores de elegância, sofisticação e criatividade, banalizam-no, vulgarizam-no e, de certa forma, levam-no de volta aos tempos remotos dos primeiros antepassados, quando consistia apenas na satisfação de um instinto animal.
(...) Esta banalização e degradação do erotismo nos nossos dias é, por paradoxal que pareça, consequência de uma das grandes conquistas da liberdade vivenciada pelo mundo ocidental: a permissividade sexual, a tolerância para práticas e fantasias que antes mereceram a rejeição pela moral vigente e eram objecto de condenação social e punição legal. Ao desaparecer a proibição, também desapareceu a transgressão, aquela aura temerária, a sensação de violar um tabu, de pecar, que condimentou a prática do erotismo no passado e que tanto atiçou a criação literária e artística.
(...) o erotismo já não existe, (...) passou a ser caricatura e reprodução grotesca do que foi.
É bom ou mau que isto tenha ocorrido? Em termos sociais é bom, sem dúvida. A vigência do preconceitos, proibições e censuras trouxe consigo violações, abusos, discriminação e sofrimento para muitas pessoas (neste caso, especialmente para as mulheres e para as minorias sexuais). Mas, do ponto de vista das belas artes e da literatura, fez com que o prazer físico se tornasse um tema anódino e convencional (...). Fazer amor já não é uma arte. É um desporto sem risco, como correr num tapete no ginásio ou pedalar numa bicicleta fixa."