17 março 2010
Lucía, gabinete de sexologia -"O que faço, doutora?"
Mais uma história do livro «Lucía, gabinete de sexologia», com a autorização de publicação pela editora el Jueves:
16 março 2010
Amor?!...
- Ama-me.
É pedir muito?
Possivelmente.
Amar não é para todos:
custa, magoa, revolve as entranhas.
- Amas-me?
É uma pergunta chata?
Possivelmente.
Amar não é para todos:
revolve-nos, magoa, custa sentir.
- Porque amas?!
Amas.
Amas?
Amas!
Não...
És um imbecil
à volta da sua própria cauda,
buscando o que não encontra:
mas saberás o que procuras?!
Foto e poesia de Paula Raposo
_________________________
O PreDatado propõe uma versão fundíssima:
"Mamas-me a chata?
Possivelmente.
Mamar não é para todos
revolve-nos, enjoa (não vale mentir).
- Porque mamas?
Porque sou imbecil,
eu queria mesmo era chupar-te a cauda
mas ando às voltas e não te encontro.
Voltas?
Às sete."
Raízes
Pétalas da mesma flor, folhas da mesma árvore - só quando assim formos podemos enraizar. Ah! Mas entretanto, abraçamo-nos enrolados e nus como raízes soltas e famintas que encontram terra húmida. Das noites nossas fica sempre o teu orvalho quente nas minhas folhas. Não me vou repetir, não me vou repetir, não me vou repetir que aqui me esgoto; só aí, em ti, eu nunca me esgotava; era sempre muito mais o que de ti me enchia do que toda a imensidão que em ti libertava. Tantas vezes nos parece que já é tarde, chegamos assim ao corpo um do outro, montados nesse relógio que nos tenta desmontar; fecha os olhos, o tempo tenta-nos enganar - às vezes parece-me que sabes - é cedo ainda. Ainda é demasiado cedo? O tempo diverte-se, abraçamo-nos e os braços ainda são ponteiros; abraçamo-nos e passamos e o tempo acaba-se quando ainda é e foi demasiado cedo. Só quando assim fossemos - pétalas da mesma flor, folhas da mesma árvore - poderíamos enraizar.
O filho de Kronar
2 páginas - basta cricares em "next page" a partir da página inicial acima
oglaf.com
15 março 2010
Caprichos de amor
Aproximo-me de ti num movimento gracioso de felino enquanto me contemplas com esse teu brilho no olhar. Num gesto suave e sensual começo a beijar os teus pés, sugando um dedo e atirando-te um olhar provocador. Beijo após beijo percorro cada pedacinho das tuas pernas enquanto as mãos acariciam o teu membro viril, que erecto manifesta o prazer que te dou. Roço ao de leve a lingerie preta sobre o teu corpo para me voltar e debruçar sobre aquele membro entumecido que bem erecto me pede para me voltar para ele. Beijo-o e deixo a língua brincar com ele. Inclino-me para que me beijes no sítio exacto e me arranques um gemido de prazer. Sinto a tua língua dentro de mim e a excitação a aumentar. Sinto na minha boca o leve pulsar do teu falo e sei então que está pronto para gozar. Deito-me de costas e abro as pernas para o receber dentro de mim. Ah, como anseio por ti meu amor. Com movimentos ritmados iniciamos a nossa dança lenta do amor, até cairmos extasiados num abraço sem fim.
Faz-me tua outra vez meu amor, então te direi quando por fim te contorceres libertando espasmos e arrepios de prazer.
Maria Escritos
http://escritosepoesia.blogspot.com/
Os amantes
E os braços que se deitam
deito-me neles pela cintura
desce uma madrugada segura,
nela os amantes acordam
nos seus corpos pouco dura
o dia de que se lavam
E os seios que se moldam
em pedintes de ternura
desce entre eles paixão dura
neles os amantes jorram
a marca da sua loucura
até aos lábios que a beijam
E os joelhos que se afastam
oferecem a rosada cura
aos reféns da paixão pura
neles os amantes se lançam
como quem procura
que os dias não mais nasçam.
deito-me neles pela cintura
desce uma madrugada segura,
nela os amantes acordam
nos seus corpos pouco dura
o dia de que se lavam
E os seios que se moldam
em pedintes de ternura
desce entre eles paixão dura
neles os amantes jorram
a marca da sua loucura
até aos lábios que a beijam
E os joelhos que se afastam
oferecem a rosada cura
aos reféns da paixão pura
neles os amantes se lançam
como quem procura
que os dias não mais nasçam.
14 março 2010
Flechas
Ainda estás acordado? Tantas vezes digo as palavras, tantas vezes as hei-de dizer, tantas vezes digo as palavras que elas vão deixar de ser palavras e vão apenas ser. A magia é o equilíbrio - tantas coisas, tantas vezes me perguntam, como se a tivesse - mas eu nem a tenho, eles não conseguem ver que o mágico és tu. O mágico és tu e eles não conseguem ver a margem do rio onde me trespassaste com a varinha de condão e amarraste, para sempre, a tua magia aos meus tornozelos a rebentar de palavras. Os tornozelos andavam rentes ao chão, agora andam na lua e as palavras também. A magia é o equilíbrio, as palavras devem dominar-me, afundar-me, enrolar-me - comecei a latejar com elas - a magia é o equilíbrio, eu devo dominar as palavras para que não fluam sem harmonia, em catadupa embriagada; o papel é uma toalha que deve ter nódoas de flechas de arcos de sentido e de sentido para além do sentido, como círculos perfeitos de vinho tinto em linho branco. Quando se fizerem sentir, quando explodirem de mim para implodir no outro; quando baterem noutros peitos e conseguirem impor o seu ritmo ao coração do mundo, é então e apenas então que serei mágica como tu. Ainda estás acordado? Não? Dorme, dorme. Um dia vou ser mágica como tu, vou ter a violência abrasadora do teu sentido na minha vida bem no meio das palavras - com a mesma intensidade com que te tenho no meio das minhas pernas, com a mesma intensidade com que te aperto com os meus joelhos e te levo ao fundo sem te deixar respirar mais que o meu cheiro; por instantes vives do meu ar, para sempre as minhas palavras vivem de ti. Não, não se enterram apenas os mortos; quando te enterras, assim, - de corpo em mim, de cabelo molhado a encharcar-me o peito, e fazes um trilho marcado, quase sulcado, a gotas de ti, até aos meus lábios - diz-me que morres; que é quando quase se morre que realmente se vive. Ainda estás acordado?
Acontece
Decididamente não era o meu dia:
cheia de ramela, o cabelo nojento,
duas borbulhas(!) no meio de cada bochecha,
uma vontade imensa de vomitar
e o desconhecimento da data:
que dia era?
sábado? terça feira? sexta feira?
tinha que ir trabalhar ou não?!
Que raio!
Que horas eram?!
sem electricidade não era nada fácil, saber.
Sem rede no telemóvel, ainda menos.
Cheia de frio, a sentir-me horrorosa,
lá me levantei.
O espelho tinha mudado de lugar,
a casa de banho, também.
A cozinha era minúscula
e a sala não estava onde eu pensava(?!)
E?! Eu estava onde?
Nunca o soube.
Mas sobrevivi.
Foto e poesia de Paula Raposo
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