Sempre me preocupou o excesso de intimidade entre os casais...
Bem sei o quanto a intimidade é importante, pois sim, mas tudo o que é demais, é demasiado.
Acho que falta, a muitas pessoas, preservar determinadas coisas que só interessam a si.
Quando estamos no início dos relacionamentos existem coisas que não questionamos, porque estamos apaixonados e aquela pessoa parece sempre perfeita, sempre tão atraente e desejável.
Mas quando passamos a partilhar o mesmo espaço, a descobrir determinadas coisas, pode ser assustador e existem mesmo situações em que o excesso de intimidade pode ser um veneno para a nossa química relacional. Vejamos por exemplo, o uso e partilha da casa de banho: muitos casais, adoptam um à-vontade tal, que parece que voltámos àquele tempo em que, em crianças, tínhamos os nossos pais como espectadores das nossas poses no bacio.
Alguém me explica o sentido de estar sentado na retrete de revista na mão enquanto o(a) companheiro(a) faz a barba, ou toma duche?
Alguém pode achar atractivo que o(a) parceiro(a) saque à sua frente daqueles aparelhos que tiram os pêlos de todos os orifícios do corpo, pêlos que nós quase nem imaginávamos que existissem? Alguém poderá achar interessante ver a companheira com as pernas cheias de creme depilatório e rolos na cabeça?
Existem coisas que são do nosso espaço e que são nossas, que apenas deviam existir por detrás de uma porta fechada para não corrermos o risco da química se perder.
Claro que todos sabemos que existem pêlos em determinados sítios e que são retirados para não serem encontrados; todos sabemos que existem tampões, pensos higiénicos e necessidades fisiológicas... mas daí a vê-los, ouvi-los e cheirá-los vai uma grande distância...
Importam-se de oferecer as vossos amigos que vão viver juntos pela primeira vez, aquela coisa fantástica que se coloca na porta e avisa: «Não incomodar, se faz favor»? Garantidamente não imaginam o bem que lhes fará, porque eles até podiam viver sem ela, mas não era a mesma coisa....
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Nota da ediSão - recomendo a visita semanal às crónicas «Sexo Tabu» da Vânia Beliz na revista Sábado, às terças-feiras. Estão aqui.
22 abril 2010
Cândida: conto de papel
A casa no folheto, amor. Só olho. Só olho. Só olho. Mas faço os caminhos à volta em palavras soltas; peças do dominó que tirei do armário. A casa no folheto dói, amor, quando o amor não tem casa. Não espalhes o meu dominó. Não tropeces com tanta força nas minhas palavras. Eu assusto-me; vejo os meus caminhos lançados aos tropeções pelo ar e assusto-me. Não, as portas ainda não me endureceram. Sim, deviam ter endurecido. Sim, assusto-me. Não, amor, mais não. Até a casa do folheto me assusta. Porque tudo pode passar e a casa nunca sair do folheto. E se a casa existe - eu sei que existe - se calhar é a minha vida que é feita de papel. Papel humedecido em sonhos de dominó não endurece; palavras rasgadas aos tropeções.
O mistério do discóbolo sem disco
21 abril 2010
Amor soprado
Naquele campo de trigo conseguia seguir o vento com o olhar, conseguia perceber-lhe o vaguear pelas espigas.
Ali acompanhava as danças sob a luz do sol que nasceu anunciado pelos sopros do céu numa esplendorosa alvorada, testemunha convocada pelo acaso para a plateia de um espectáculo privativo, para observar de tão perto a beleza de um dia no seu parto alaranjado, o escuro da noite rasgado pelos primeiros raios no horizonte para lá da barreira que as serras desenhavam para lhe esconder a magia.
Mas esta irrompia por detrás, com toda a força que o sol é capaz de exibir quando chega a hora de expulsar a madrugada para outro lado qualquer, longe daquele campo de trigo onde conseguia apreciar o vento a dançar sobre as espigas pintadas pelas cores emanadas a leste, de onde o dia se agitava numa brisa que se desenhava de forma suave no solo que nesse momento sentiu como fazendo parte de si. Ou o contrário, com os seus pés a criarem um contacto que julgava imaginário, raízes de energia, com a terra que o recebia como mais uma árvore para alimentar, e percebeu que a brisa começava a acariciar-lhe os cabelos que abanavam como pequenos galhos, como pétalas de flores, como se o vento tivesse amores para consumar enquanto decorria a celebração do calor que já se fazia sentir, com o sol a espreitar por cima dos picos mais altos que o faziam sorrir com a pose que não se coadunava com a pequenez relativa, uma pose altiva desmascarada pela grandeza do astro-rei.
E o vento passeava pelo jardim do palácio improvisado, o mundo inteiro concentrado naquele campo de trigo onde a testemunha involuntária o conseguia seguir, gravando na memória sensações inesquecíveis que acrescentaria com o amor que fazia agora no chão com a companheira de emoção naquele dia em que o vento, enciumado, tentou em vão destapar com o despeito soprado sobre o trigo que os escondeu, quem olhava para outro lado e nesse momento, nesse pedaço de tempo, já não o seguiu.
Ali acompanhava as danças sob a luz do sol que nasceu anunciado pelos sopros do céu numa esplendorosa alvorada, testemunha convocada pelo acaso para a plateia de um espectáculo privativo, para observar de tão perto a beleza de um dia no seu parto alaranjado, o escuro da noite rasgado pelos primeiros raios no horizonte para lá da barreira que as serras desenhavam para lhe esconder a magia.
Mas esta irrompia por detrás, com toda a força que o sol é capaz de exibir quando chega a hora de expulsar a madrugada para outro lado qualquer, longe daquele campo de trigo onde conseguia apreciar o vento a dançar sobre as espigas pintadas pelas cores emanadas a leste, de onde o dia se agitava numa brisa que se desenhava de forma suave no solo que nesse momento sentiu como fazendo parte de si. Ou o contrário, com os seus pés a criarem um contacto que julgava imaginário, raízes de energia, com a terra que o recebia como mais uma árvore para alimentar, e percebeu que a brisa começava a acariciar-lhe os cabelos que abanavam como pequenos galhos, como pétalas de flores, como se o vento tivesse amores para consumar enquanto decorria a celebração do calor que já se fazia sentir, com o sol a espreitar por cima dos picos mais altos que o faziam sorrir com a pose que não se coadunava com a pequenez relativa, uma pose altiva desmascarada pela grandeza do astro-rei.
E o vento passeava pelo jardim do palácio improvisado, o mundo inteiro concentrado naquele campo de trigo onde a testemunha involuntária o conseguia seguir, gravando na memória sensações inesquecíveis que acrescentaria com o amor que fazia agora no chão com a companheira de emoção naquele dia em que o vento, enciumado, tentou em vão destapar com o despeito soprado sobre o trigo que os escondeu, quem olhava para outro lado e nesse momento, nesse pedaço de tempo, já não o seguiu.
Não percebi bem. Como é mesmo, Figo?
Quanto ao duelo que está a marcar a actualidade, entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, Luís Figo admitiu que desfruta mais a ver o pequeno génio argentino. “São jogadores distintos, depende do estado de forma de cada um. Mas sem dúvida que para mim é um prazer ver Messi jogar, é como ter um orgasmo, é um prazer incrível”, disse Figo.Figo, queres usar figuras de estilo, não é? Mas espera, olha lá bem para isto...
E agora centra a tua atenção nisto:
E pronto. Agora diz-me lá porque é que me parece que a figura de estilo não soa muito bem. Esta só pode ser uma das metáforas mais mal metidas de sempre. Há tantas maneiras de pegar nisto, que até fico cansado só de pensar. E, fundamentalmente, fico muito, muito longe desse tal prazer incrível quando vejo Messi. Mas isso sou eu, que sou esquisito.
(os mais curiosos, procurem no Google por imagens com o nome da Helen, que encontram coisas giras)
Vera: conto da "prostituta renitente"
Sorriu aos rios que subiam. Nada soube até então, como eles. Talvez ainda nada soubesse. Mas sabia que, se eles não sabiam sequer se desciam ou subiam, também poderia não o saber. Era pequena, infinitamente pequena e ignorante; era ainda mais pequena que o rio, talvez tão pequena como a folha embrulhada na corrente. Uma folha que pensava. Demasiado pequena e embrulhada na corrente do rio para ver o todo. Para ver o caminho. Para ver o mar. Para ver o mundo, as margens, a floresta. Ah! Mas podia imaginar. Mas podia virar-se. Mas podia deslizar mais rápido se mergulhasse mais na corrente ou deslizar mais devagar ao ficar mais à tona. Podia chegar-se mais à margem. Podia, afinal, tantas coisas e todas com alguma influência no percurso e no fim. Muita influência? Pouca? O que interessa? Bastava saber-se. E mergulhou mais no rio de perguntas para deslizar mais rápido na corrente.
20 abril 2010
O melhor da minha colecção...
... é tudo aquilo que me faz recordar um bom momento, uma história curiosa e, como diz uma rapariga que eu conheço, "o bolo em cima da cereja" são os gestos de amizade.
A minha colecção tem um pouco/muito disto tudo.
E, a partir de agora, tem uma caixa feita pelo Raim com os seus desenhos originais (a lápis) para o «diciOrdinário ilusTarado» e outros "para encher a caixa", como me explicou o Raim quando ma ofereceu.
A Caixa.
O conteúdo.
Alguns dos muitos desenhos.
«Já deu o que tinha a dar»
E este, que divulgamos pela primeira vez, quando adivinhávamos que algo estava mal na editora do «diciOrdinário ilusTarado» (Via Occidentalis, que pouco tempo depois entraria em falência) quando o seu gerente, Júlio Sequeira, não respondia às nossas tentativas de contacto:
Encomendinha da funda São para a Via Occidentalis.
A minha colecção tem um pouco/muito disto tudo.
E, a partir de agora, tem uma caixa feita pelo Raim com os seus desenhos originais (a lápis) para o «diciOrdinário ilusTarado» e outros "para encher a caixa", como me explicou o Raim quando ma ofereceu.
A Caixa.
O conteúdo.
Alguns dos muitos desenhos.
«Já deu o que tinha a dar»
E este, que divulgamos pela primeira vez, quando adivinhávamos que algo estava mal na editora do «diciOrdinário ilusTarado» (Via Occidentalis, que pouco tempo depois entraria em falência) quando o seu gerente, Júlio Sequeira, não respondia às nossas tentativas de contacto:
Encomendinha da funda São para a Via Occidentalis.
O meu quadro
Nesse dia imenso de sol
Havia uma clareira
De esperança no meu olhar
E nas tuas mãos
O nervosismo da despedida.
Regressei porque quis,
Ao azul do quadro
Espetado sem querer
Naquela parede,
Trazendo o imenso brilho
Do sol e o olhar
De verde esperança,
Como sempre.
Nesse dia de sol
Havia um outro brilho
Nas tuas mãos de despedida.
Havia eu. Só eu.
E...talvez o azul do quadro
Espetado naquela parede,
Sem querer.
Foto e poesia de Paula Raposo
Leonor: conto de pedra
Cair. Sabes cair? Onde cais? Não te deixo cair no chão. Não deixo. Não deixo. Não deixo. Mas, cais no meu colo, cais no meu colo; só cais no meu colo - não cais em mim. E caíste tantas vezes só no meu colo que o resto de mim é uma rede dormente. E se eu arrancar o meu colo? Já não sei se vou tentar, já não sei como fazer, já nem sei como olhar. Olhos de colo, mãos de colo, tudo quente, tudo sem. Tudo vazio a perder traços de uma pedra que abraça o meu corpo. Não devia estar aqui; não enquanto te emprestas à pedra; não enquanto a pedra me empresta uma nudez fria. E quando as pedras caiem? E quando as pedras rasgam o chão? E quando o chão é o meu colo, sabes cair? Não.
19 abril 2010
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