Naquele campo de trigo conseguia seguir o vento com o olhar, conseguia perceber-lhe o vaguear pelas espigas.
Ali acompanhava as danças sob a luz do sol que nasceu anunciado pelos sopros do céu numa esplendorosa alvorada, testemunha convocada pelo acaso para a plateia de um espectáculo privativo, para observar de tão perto a beleza de um dia no seu parto alaranjado, o escuro da noite rasgado pelos primeiros raios no horizonte para lá da barreira que as serras desenhavam para lhe esconder a magia.
Mas esta irrompia por detrás, com toda a força que o sol é capaz de exibir quando chega a hora de expulsar a madrugada para outro lado qualquer, longe daquele campo de trigo onde conseguia apreciar o vento a dançar sobre as espigas pintadas pelas cores emanadas a leste, de onde o dia se agitava numa brisa que se desenhava de forma suave no solo que nesse momento sentiu como fazendo parte de si. Ou o contrário, com os seus pés a criarem um contacto que julgava imaginário, raízes de energia, com a terra que o recebia como mais uma árvore para alimentar, e percebeu que a brisa começava a acariciar-lhe os cabelos que abanavam como pequenos galhos, como pétalas de flores, como se o vento tivesse amores para consumar enquanto decorria a celebração do calor que já se fazia sentir, com o sol a espreitar por cima dos picos mais altos que o faziam sorrir com a pose que não se coadunava com a pequenez relativa, uma pose altiva desmascarada pela grandeza do astro-rei.
E o vento passeava pelo jardim do palácio improvisado, o mundo inteiro concentrado naquele campo de trigo onde a testemunha involuntária o conseguia seguir, gravando na memória sensações inesquecíveis que acrescentaria com o amor que fazia agora no chão com a companheira de emoção naquele dia em que o vento, enciumado, tentou em vão destapar com o despeito soprado sobre o trigo que os escondeu, quem olhava para outro lado e nesse momento, nesse pedaço de tempo, já não o seguiu.
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Uma por dia tira a azia