04 maio 2010

Dedos teus

Moinho nas tranças,
os dedos teus moem
cada pequena semente
nos olhos antes meus;
são tuas as meninas
que correm as tardes
quando despidos em grão
as roupas nos doem
e os dedos teus moem
um corpo, um instante;
antes, semeia-os teus
teus como teus são
os lugares distantes
que em grão se abrem
quando tu aqui entras
e os dedos teus moem
o moinho nas ancas
pequenas, mãos pequenas
de ti, grande, tão cheias
que assim te enchem
e os dedos teus moem
moinho nas tranças.


E assim se vive

Encolho-me
Imediatamente
Caracol búzio ou ostra
Sei lá
Desapareço é isso
Em milésimos de segundo
Não sabias pois não
Claro que não
Acho que sabes
Mas finges não saber
E eu já me encolhi
Pequenina saborosa
Salgada viscosa
Talvez caracol búzio ou ostra
Sei lá
Nas carapaças
Que eu mesma escolho.

Foto e poesia de Paula Raposo

Pureza é força



Lápis Lazuli


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oglaf.com

03 maio 2010

O que acharias se fossem dois homens?

Passado aqui

É passado. Mas onde estão agora os amores vivos que enterrei no meu peito? Tinha, em cada vez, o pensamento nu dos ingénuos, do sonho despido de todas as coisas do lado de fora das minhas janelas. O corpo quente que pensei que ficava no meu, que quereria sempre no meu. É passado. Tornei-me pele de cada um, depois já não era. Arde, corpo! Arde, mão que desce o ventre! Dois ventres colados e o amor, o amor, esse pateta de ventre único, de vendas suadas que ensopam cabelos e encharcam a nudez e a lucidez. Depois, em todas as vezes, é o calor das lágrimas que arrefece as gotas que pingam dos cabelos. As vendas já geladas. A nudez dorida, inútil, desperdiçada, termina em si, veste-se de engano e desilusão. Perda. Passado. Amor vivo enterrado no peito. Mais uma vez. Alguns - quase todos - acabam por falecer na anóxia do esquecimento. Outros, sei-o bem, vivem em cada sopro; ainda que o ar seja ténue, eles respiram as memórias rarefeitas que vagueiam no peito.

Do Celibato. Celibato religioso.

II. Celibato religioso. Sem duvida o christianismo tem exaltado o estado religioso em que o celibato é prescripto. Mas não chama a este estado senão o pequeno numero dos perfeitos, e se a Egreja designa como bemaveuturados os que vivem como os eunucos, em muitos outros logares faz o elogio do casamento e S. Paulo exhorta particularmente os seus discipulos n'este sen­tido. O christianismo nascido no seio da grosseira an­tiguidade, onde as mulheres não eram consideradas senão como instrumentos da voluptuosidade, proscre­veu-as como proscreveu a intemperança e o luxo; pros­creveu-as na sua qualidade de prisões materiais e porque queria desembaraçar os homens do lodaçal da terra e fazer-lhes levantar de novo os olhos para o céo: recommenda a castidade do corpo, porque lhe parece a indispensavel garantia da do coração. O desprendi­mento do mundo perecível e o apêgo immediato ao mundo perfeito e eterno, eis a doutrina do Christo. O mundo tem necessidade do concurso de duas ordens diversas d'existencia. Submettido, por uma parte, a viver plenamente no presente está submettido tambem a caminhar constantemente para um futuro novo. Aquelles que são destinados a prisidir à sua marcha, os guias d'essa carabana (sic) da humanidade, não terão deveres novos que são incompativeis com os que im­põe o casamento? É precisamente o que se dá e o que assegura a santidade das palavras de Jesus Christo. (…)
Deixemos, pois, o celibato, àquelles cuja vocação é servir directamente e exclusivamente o genero humano, consideremol-o (sic) como um voto de fidelidade necessaria aos seus interesses; es­ta condição é a unica que póde tornal-o (sic) honesto e pôlo acima dos attaques da reprovação publica.
Mas lembremo-nos de que elle merece ou a censura, ou a honra, e que entre estes dois extremos não lhe poderiam arranjar logar n'outra parte, porque é um estado que não convem e não pertence senão às gran­des almas. Não é n’aquelles que são dignos de se con­servar nas fileiras d'esta cohorte santa que germinará o amor do deboche e da iniquidade. Não são elles que se comprazem de partilhar o opproprio das virgindades despedaçadas e atiradas à lama; não são elles que tomarão por officio o atirar a deshonra à face dos casa­dos; não é sobre elles que cahirá o nome de corruptores do mundo.

L. Seraine. 19??:164-169

Erro de destinatário



Alexandre Affonso - nadaver.com

02 maio 2010

o nosso estandarte...


adaptaSão livre de um estandarte do
Raim´s blog ... pelo próprio
.


E o OrCa ode:

"Raim, chapelada pelo desassombro!

virtudes papam-se tantas
de mãos postas - de joelhos
que é vulgar nos sacripantas
virem-se a nós com conselhos

«olhai bem para o que digo
nunca olheis para o que eu faço»
e estamos nós de castigo
papados pelo embaraço

dizer «com papas e bolos
meus santinhos, meus fedelhos,
é que se enganam os tolos»
são ditos velhos e relhos

mas a suma eminência
que faz na terra o seu céu
tenha lá santa paciência
outros darão, que não eu..."

TV alemã mostra jovem a masturbar-se


O Chatroulette é um site que permite aos seus utilizadores comunicarem por video conferência de forma aleatória com perfeitos desconhecidos. Se, por algum motivo, um dos utilizadores não quiser continuar a ligação com a pessoa que lhe apareceu à frente, pode simplesmente activar a "roleta" outra vez, passando à próxima pessoa.
Contudo, e apesar das regras bem definidas mas obviamente difíceis de implementar, por vezes aparecem no Chatroulette utilizadores mais... desinibidos, como descobriram aliás recentemente os espectadores do programa "Busch @ N-TV", transmitido ao vivo pelo canal N-TV.
O apresentador estava a demonstrar o funcionamento do Chatroulette, interagindo com utilizadores ao vivo quando, subitamente, apareceu no ecrã em grande plano um jovem, visto apenas na sua metade inferior, que melhor do que em qualquer aula de educação sexual, demonstrou ao país como se pratica de forma simplificada o acto masturbatório.
Vejam o excerto do vídeo-tutorial no site do BILD

Para além


Sei de cor a música breve
Que o sonho comanda
O tom grave e melódico
Que acompanha as palavras
O humor nelas contido
E a ternura esvoaçando
Em meu redor
Ao som da breve música
De um dia qualquer
Igual a muitos outros
Que foram e que virão
Na bruma matinal junto ao mar
Sei de cor os gestos
Sei-te para além de mim
No desmedido abraço eterno.

Foto e poesia de Paula Raposo

A prostituta azul (IV)

O deserto escorre no peito do homem. Ouviu a areia gemer alguns grãos molhados, eram lágrimas secas, esfolavam-lhe os cotovelos. Abriu-lhe a camisa, dedilhou os botões ensopados de madeira crua, tapou os ouvidos para ouvir melhor e soprou. A areia caía-lhe das pestanas; os olhos abriram-se, arranhados, contra o ventre nu e tentaram adivinhá-la livre da nudez. Queria beijar uma mulher vestida. Aquela, sim, que sabia soprar. Os papelinhos coloridos de feio compram actos mas não compram vontades nem sopros. E ela soprou. O resto? Já tinha visto tudo, já tinha feito tudo o que lhe vendiam por papelinhos coloridos de feio. Disse-lhe que podia ir. Que era tudo, nada mais queria. Ela entendeu. Alguns gostavam de bailarinas, outros de pés e de mãos: o homem queria comprar uma ilusão; as ilusões vendem-se como são compradas, tal e qual como são. Vestiu-se. E disse ao homem que ficava porque queria ficar. Ficar no beijo que despe...

A gaja está bem passada!


crica para visitares a página John & John de d!o

01 maio 2010

Embalar

Silêncio
A chuva seca a voz
na garganta
deixa que fale a mão
da fome irrequieta
em silêncio
e a voz é do olhar
num pestanejar de farol.

Silêncio
os olhos desfazem nós
que o nós desperta
deixa que não diga não
de mão atenta
em silêncio
e a voz a cabecear
cabelo rimado de sol.