É passado. Mas onde estão agora os amores vivos que enterrei no meu peito? Tinha, em cada vez, o pensamento nu dos ingénuos, do sonho despido de todas as coisas do lado de fora das minhas janelas. O corpo quente que pensei que ficava no meu, que quereria sempre no meu. É passado. Tornei-me pele de cada um, depois já não era. Arde, corpo! Arde, mão que desce o ventre! Dois ventres colados e o amor, o amor, esse pateta de ventre único, de vendas suadas que ensopam cabelos e encharcam a nudez e a lucidez. Depois, em todas as vezes, é o calor das lágrimas que arrefece as gotas que pingam dos cabelos. As vendas já geladas. A nudez dorida, inútil, desperdiçada, termina em si, veste-se de engano e desilusão. Perda. Passado. Amor vivo enterrado no peito. Mais uma vez. Alguns - quase todos - acabam por falecer na anóxia do esquecimento. Outros, sei-o bem, vivem em cada sopro; ainda que o ar seja ténue, eles respiram as memórias rarefeitas que vagueiam no peito.
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Uma por dia tira a azia