07 maio 2010
Noite
Na penumbra deste quarto vazio, só eu escuto o silêncio duma casa sem ruído, sem vozes, sem presenças, sem afectos, sem abraços e sem rumo. Só eu escuto o vento lá fora, a chuva que cai e bate nas vidraças, o relâmpago que por breves instantes entra sem pedir licença.
Na escuridão da noite fria de Inverno, abafou-se o silêncio naquele toque da campainha da porta. Pensei quem seria que me pedia licença para entrar, naquela noite, trazendo os relâmpagos do meu passado.
Não respondi. Não podias ser tu. Tu não estavas aqui, tu nunca mais estarias aqui, não irias bater à minha porta naquela noite tão fria de Inverno. Nada mais me interessava, só tu. Por isso não abri, não falei, não deixei que entrasses.
Foto e texto de Paula Raposo
IBIZA FUCKING ISLAND
06 maio 2010
o fotógrafo estava lá...
ao juntar naquela esquina
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O Santoninho sai do seu santo ninho para oder também:
"Nem foi mão divina, decerto
Nem foi discreto o pontífice.
Arma-se em chico esperto
Com a técnica do artífice
E o que a bela lhe revela,
O espírito lhe ouriça.
Pudesse ele meter-lhe nela
Não os olhos... mas a piça!"
Ao abrigo do direito de resposta, o OrCa reode:
"faz-me tanta confusão
- vou até beber da Freeze -
ter um papa de roldão
aqui no meio da crise...
fará falta a quem o santo?
ao parlamento, à justiça
ao celibato, ao quebranto?
a quem faz ele falta, chiça?!
em gravadores, Alcochetes,
sucatas e o que mais salta
engraxadores, tiranetes...
ao Primeiro é que ele faz falta...
pelas crianças não digo
mas nem perdem p'la demora
apesar de ter comigo
que aqui há gato... ora... ora..."
A Olinda odeu na página da funda São no Facebook:
"Mas que tentador rabiosque
estava no teu quiosque
inocente Papa
só passeava no bosque
tu maldizente pensavas...
papa-a, papa"
E o Santoninho reode:
"De Prada, o papa se calça
Na calça que imita saia.
E que numa veste... realça
Vontade de um fruto: papaia!
De acordo... que papaia
É melhor do que mamão.
Está debaixo da saia
Mesmo ao alcance da mão!
Ratz... rato... fuças esconsas,
Linguajar... ora pro nobis!
Tontas lérias, meio sonsas...
Escalda a mão no clitóris...
Abrenuntio! Que pecado...
Esconde a boca com a mão.
Dá marradas no bocado
Truca truca... com tesão!
Dominus vobiscum... num aceno
De manifesta irregularidade.
Fodeu-se! E num gesto obsceno,
Perdeu-se... sem ver a idade..."
O OrCa desta vez até ode três:
"miraculosa mirada
entrefolhos de entreacto
anda a igreja aguada
à conta do celibato
vade mecum de sotaina
vade retro, Satanás
uma labuta - uma faina
p'ra salvar tanto rapaz
venha o Demo que os leve
ou Satã que os transporte...
a cruz não temem mas deve
haver quem lhes dê e forte
olhai bem para o que eu digo
a apregoar ladaínhas
mas fazer, deixem comigo:
«vinde a mim, ó criancinhas...»"
A Palavra
A palavra estava ali e era ele e ele era a palavra mas não a dizia.
Os seus olhos, o seu rosto e o seu corpo eram o reflexo da palavra. Um espelho era o que ele era naqueles momentos. Apenas um espelho que reflectia uma única palavra. Uma palavra muda, sem som, sem corpo, sem existência.
As palavras que não se dizem não existem.
E os espelhos não são o que reflectem.
Depois, depois da palavra não dita mas representada, vinham as explicações, as justificações, as tergiversações, as promessas e as juras. Tudo, tudo como se se abrissem as comportas de uma barragem, como se, por milagre, o mudo ganhasse voz. Ele seria outro e a palavra que não fora dita jamais seria necessária. Jamais!
Até que a palavra lhe chegava de novo aos lábios, lhe enchia mais uma vez o olhar e se repetia para lhe desabar a expressão do rosto e do corpo sem, como sempre, ser dita. Nunca foi.
E era tão fácil, doutor, tão fácil.” Concluiu a arguida, correndo o olhar pelo colectivo de juízes e, fixando-se no juiz-presidente, desabafou: “O que é que lhe custava, nem que fosse por uma vez, pedir desculpa?”
“Agora já não pode.” Deixou escapar o magistrado.
“Agora já não.” Concordou a arguida.
De silenciar
sobre o corpo da voz minha
antes lágrima sozinha.
Deita-te num silêncio
inteiro corpo num olhar meu
sereno de olhar teu
que corta o fôlego
que corta o vão
que corta o nada
na lâmina do sossego
peito de gume na mão
e eu atravessada.
Deita o teu silêncio
sob o ventre da paz minha
e ela, nua, o teu adivinha.
05 maio 2010
O fornecedor de Orgasmos
Apresentou-se pelo nome, e com uma figura discreta vagamente desportiva, quase como se fosse um personal trainer. Tinha um pequeno saco consigo. E, sobretudo, tinha bons modos. Ela abriu-lhe a porta e encaminhou-o para o quarto à direita onde havia luz directa do sol. Ambiente quente. Tanto na cor que invadia o espaço como na temperatura, ligeiramente acima para o normal daquele mês. Mas muito útil, como se veria.
O que o levara ali estava muito bem definido. Não foram precisas muitas palavras além das de cortesia. Ela despiu-se rapidamente e ele sentou-se à beira da cama, abrindo o seu pequeno saco. Retirou alguns óleos de massagem e aplicou-os nas suas mãos, esfregando-as para obter uma temperatura agradável. Quando se virou para ela, já ela repousava despida sobre a cama. Massajou-a longamente, em silêncios ocasionalmente cortados por sons que penetravam o pouco da janela aberta, ou por suspiros de alívio que ela emitia quando eram pressionados alguns músculos mais tensos.
No final da massagem ele voltou ao seu pequeno saco, para limpar as mãos com um toalhete. Ela virou-se na cama, de costas para baixo, entreabrindo timidamente as pernas. Ele retirou do saco um par de luvas cirúrgicas que calçou com a destreza de quem o faz há muitos anos. Ajeitou-lhe um pouco mais as pernas, para um melhor ângulo, e massajou-lhe o interior das coxas, as virilhas, o clitóris e o interior da vagina. Sempre naquele silêncio com sons ocasionais, e com o sol a entrar directo e a conferir tons laranja a todas as superfícies. Quando ela finalmente atingiu o orgasmo, retirou as luvas. Colocou-as, do avesso, dentro de um saco de plástico preto. Enquanto corria o fecho do saco, com aquele ruído muito característico, ela disse-lhe “Para a próxima… estava a pensar, se para a próxima pode ser sem as luvas?”. Parou de correr o fecho a meio, e respondeu-lhe, resoluto, “Minha senhora, eu faço massagens e forneço orgasmos. Não me envolvo mais do que qualquer outro prestador de serviços”.
Deixou-a deitada, levantou-se, e caminhou em direcção à porta e em direcção ao próximo agendamento. Que seria, obviamente, com luvas.
Caralhos, não coelhos!
Maria, em doçura, entregava o pito
mas, um dia, ecoou-lhe nos pintelhos
o sabor de um bem gemido grito
Gritava um cogumelo já aflito
que a desejava foder de joelhos,
estrebuchar afogado, lamber-lhe o clito,
sugar-lhe inteiros mil doces orvalhos.
Maria, de olhos azuis tão mimalhos,
sentiu alvoraçarem-se os mamilos no peito,
ao ar expôs um mamalhal tão farto
e gritou: "és único entre mil mangalhos!"
Enrubescida, entregou-se em fúria ao dito:
"quero-te, fode-me como mil caralhos"
Ah, desilusão, mas tudo é tão finito!
No fim gritou: caralhos, não coelhos!
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O OrCa não consegue ouvir falar em caralhos que os ode logo:
"Brava Maria à espera que o bosque traga a demasia que o corpo lhe pede sem que o sossegue algum caramelo, mesmo cogumelo, mas forte de malho que role com ela nas gotas de orvalho...
fica-se Maria entre alhos e elhos
de sarda sequiosos os lábios tão quentes
e o seu corpo todo grita-lhe conselhos
que aos cogumelos até crescem dentes
nas sarças por sardas todas elas ardentes
com ânsias de novos e saber de velhos
que Maria queria senti-los latentes
roliços e firmes sem quaisquer engelhos
nos lábios do corpo visitas urgentes"
Amor de uma vida que foi
O melhor amante numa vida passada, desinteressante por comparação porque ofereceu o coração em vez de usar a cabeça, sem o gosto da aventura e da incerteza, uma relação jamais perdura desprovida da defesa natural para uma presença eventual que nunca enfrenta o perigo de se assumir como um dado adquirido a sua manutenção.
O primado da razão como um torno implacável da utopia impraticável que se alimenta de uma força que não provém da cabeça mas de outro lado qualquer, a energia que faz valer o tempo que a vida nos dá. Teimosia ou insistência, obstinação ou persistência que fazem avançar o quebra-gelos na superfície de um mar que às tantas solidificou.
A pessoa que tanto (se) desejou, despromovida à condição de quase uma obrigação a cumprir, um ritual que deve servir, reforçada, a solidez desmascarada pela lucidez traiçoeira que constitui uma ratoeira para todas as coisas que se querem ignorar.
A coragem para lutar que enobrece quem consiga perceber que a vida acaba logo ali e que nada vale por si, sem a resistência emprestada por quem tem consciência da hora sortuda que constitui o acaso que nos cruza com quem faz acontecer. A atenção que faz por nos merecer quem consegue despertar sob o gelo de qualquer mar o sono de um vulcão que explode numa erupção de vontades e de ansiedades e de saudades a cada instante, que sacode debaixo dos pés o chão e leva o coração ao rubro como um motor acelerado, prego a fundo, à solta e sem freio no horizonte interminável de uma planície banhada pelo sol.
O amor de uma vida que foi, magistral, de olho no tempo onde se perfila o renascimento tão plausível como a alternativa provável à luz da experiência que tanto esclarece como baralha a existência, à vista desarmada, com o inevitável desacerto na previsão especulada.
04 maio 2010
Levava droga dentro da vagina para um recluso em Coimbra
(crica para ampliares... a vagina... e o resto)
Há notícias que conseguem fazer-me passar o dia com um sorriso. Como esta do jornal «as Beiras» de hoje.
Só tenho duas dúvidas:
1) No subtítulo da edição em papel, referem que "Uma mulher foi detida pela presumível prática de tráfico de estupefacientes. que consistia na introdução dos produtos no Estabelecimento Prisional de Coimbra" - afinal... ela introduzia os produtos na prisão ou na vagina?!
2) "A mulher, de 30 anos, escondia dentro do corpo, no interior da vagina, algumas quantidades de droga, que levava ao recluso, de 37. “Quando chegava à cadeia para o ver, na troca de beijos e abraços, ela retirava o produto estupefaciente, colocava-o no bolso e depois entregava ao companheiro, que o introduzia no ânus”, acrescentou a fonte." - não será mais notícia a parte dele?!
Prendinhas para ocasiões especiais
Nada temam! Quanto mais elas se exercitarem na prática e na descoberta do seu prazer…tanto maior será também o prazer e a disposição de o fazerem convosco. Em matéria de sexo e prazer, para uma mulher, quanto mais, mais. Quanto menos, menos. E, claro, é muito simpático que sejais vós mesmos a tomar semelhante iniciativa… pois este será um passo decisivo para a criação de novos laços de cumplicidade e de intimidade.
De resto, com a vossa participação ou sem ela, às claras, ou à socapa, é quase inevitável que elas acabem por experimentar… e, provavelmente, gostar. Trata-se sobretudo de uma questão de atitude e de preferência: se querem aproveitar o “convívio” e tê-las mortinhas para vos ver chegar, cheias de disposição para dividir convosco a sua “brincadeira”; ou se preferem tê-las mortinhas para vos ver pelas costas de maneira a poderem entregar-se à vontade às suas brincadeiras privadas.
E já nem há razões para duvidar de que encontrarão neste âmbito o presente dos sonhos da vossa amada, pois a oferta actual de mercado é extraordinária. Há-os para todos os gostos, de todos os feitios, todas as cores, com todas as funcionalidades, e para todas as carteiras… “believe it, or not”… mesmo com aplicações em ouro de dezoito quilates!
(… outra vantagem… sim… porque as mulheres nem sempre são fáceis de satisfazer! Nunca mais será necessário dar voltas e voltas à cabeça para descobrir a oferta mais adequada à celebração de uma ocasião especial… pois, em qualquer outro momento, um outro modelo voltará a ser o presente perfeito).
Dedos teus
os dedos teus moem
cada pequena semente
nos olhos antes meus;
são tuas as meninas
que correm as tardes
quando despidos em grão
as roupas nos doem
e os dedos teus moem
um corpo, um instante;
antes, semeia-os teus
teus como teus são
os lugares distantes
que em grão se abrem
quando tu aqui entras
e os dedos teus moem
o moinho nas ancas
pequenas, mãos pequenas
de ti, grande, tão cheias
que assim te enchem
e os dedos teus moem
moinho nas tranças.
E assim se vive
Imediatamente
Caracol búzio ou ostra
Sei lá
Desapareço é isso
Em milésimos de segundo
Não sabias pois não
Claro que não
Acho que sabes
Mas finges não saber
E eu já me encolhi
Pequenina saborosa
Salgada viscosa
Talvez caracol búzio ou ostra
Sei lá
Nas carapaças
Que eu mesma escolho.
Foto e poesia de Paula Raposo