08 junho 2010

Casamento gay



HenriCartoon

XX

Repetidas vezes me perdi, num tesão, ardente e ágil.
Num pensar ardente e ágil, de sexo comendo um sexo negro ardente e ágil.
Na opulência agressiva amassada em suor.

Não há beleza mais empolgante que é o foder, onde tudo febrilmente se move, desde a palpitação à pulsação do ar.
Tudo se agita. Tudo grita. Tudo se come.
Tudo geme sem esforço, cintila, na ilusória aparência, que tudo quieto está...

Tudo pode ser duro e o tudo se pode foder com nada. Depende apenas das fomes que cada um tem...



[Blog Vermelho Canalha]

Luto(a)


Quando as palavras
são punhais
(perfuram)
trespassam o desejo
dentro do elo
da imaginação:
essas são as palavras
inaudíveis
do luto(a).
Que luto? Que luta?

O(A) que nos engole
as saudades dos dias.

Foto e poesia de Paula Raposo

Canela fodida


Alexandre Affonso - nadaver.com

07 junho 2010

A palestra



HenriCartoon

Trinta euros

Sentou-se ao balcão. Agora, os olhos já boiavam no copo vazio. Devolveu-os às órbitas e atirou-os para a porta. Entravam homens que eram gargalhadas; entravam homens que eram solidão; entravam homens que eram palhaços mascarados de guerreiros; entravam homens que eram estilhaços; entravam homens que eram fantasmas; entravam homens que eram mendigos; entravam homens que eram ironias; entravam homens que eram vazios; entravam homens que eram vitórias; entravam homens que eram sarcasmos, entravam homens que eram ruídos; entravam homens que eram silêncios; entravam homens que eram as coisas que eram antes de ser. Entrou o homem que pediu três beijos para lhe encher o copo e caminhos para lhe encher o corpo. Soletrou fome por extenso. Mas ele não soube repetir. Então pediu-lhe trinta euros. A pensão ali ao lado...

Poema do grande mestre Millôr Fernandes

"Príapo foi pra cama com Cupido.
Um saiu extasiado
E o outro – bem servido.
(Poemeu com sabor clássico)"


Millôr Fernandes

O truque para fazer os homens interessarem-se pelo cancro da mama...

... é tratá-los como as crianças que são. Isto é o que diz a agência de publicidade Change Integrated. E substituiram uma das modelos por «Edyta» na secção de adultos de um site polaco muito popular.

Check out these boobs! from nienaut on Vimeo.

Segundo essa agência, a «Edyta» ajudou a treinar perto de 175.000 homens, numa só semana, para saberem como examinar as mamocas das suas parceiras.
Podes experimentar aqui.

06 junho 2010

Um: broche

Escreves. Desenhas. Pintas.
Não te conheço.
Por enquanto.

Oiço-te: dizes alguns poemas meus.
Delicias-me.

Atiramo-nos ao infinito,
voltamos, partimos,
amamo-nos, largamo-nos
e deixamo-nos um dia.

E os dias já não são os mesmos:
nunca mais te senti na minha boca.

Foto e poesia de Paula Raposo

Tradução dos vazios

Lava a alma branca do rosto do homem. Lava a alma branca dos ais. Deixa a cal em cima da mesa de pernas tortas e sai para as ruas e agradece o frio que faz sempre com que se sinta melhor o calor da próxima porta: casa. Lavou a alma branca das mãos do mendigo de ilusões. A água correu, deu o que tinha, deu tudo, deu nada, recebeu água que lava e lava e lava. Sorrisos dos dois, sorriso do mendigo de ilusões que ficou, também de alma lavada. Lavou a alma do rosto e das mãos. Não lavou a alma de mais marcas; a alma não está suja, a alma nunca está suja quando lava almas. Os corpos são ténues, sempre ténues, nunca te esqueças. Os corpos apagam-se da noite para o dia e a noite chega sempre. Por isso há sempre algo de muito bonito em cada homem, nem que seja o corpo ténue, porque é ténue. A casa vazia. A casa sempre vazia. São assim, os amantes ténues. Lava-se a alma mil vezes mas fica pintada de solidão. Em troca do instante cheio encontra-se, depois, a casa vazia. Sim, a casa já estava vazia e a alma já estava sozinha. Não entendes? Eu entendo. Pendura um quadro na parede vazia. Agora tira-o. Estava vazia antes. Mas agora está vazia e falta-lhe algo. Quando algo falta, o vazio incomoda e não lava. E, tantas vezes, o que se pendura ainda nos leva um pedaço de parede.

"Pau Mole" - poema de Maria Rezende dito pela própria

Obrigada pela sugestão, Rui Pato!

05 junho 2010

Contos das putas nas esquinas de ruas perdidas no peito

Avô, eu vi os prédios. Avô, eu vi depois as pedras no chão quente; o ar seco cortava as paredes em pó. A violência entrançava o ar, avô; a paz instalada como uma redoma tensa, chicoteada, sempre chicoteada. Eu sei que tu também viste, avô: viste como sou dentro de mim. Aqui dentro viste as ruas que percorro lá fora. Não te deixo ver os homens, avô, dentro de mim só ficam as mãos desumanas e inchadas; tudo o resto se apaga das janelas. A tua mão também aqui está, avô, nem um Inferno a apagaria, nem um sonho apagaria o estalo que feriu o ar e rebentou na face. Depois os braços inteiros, avô; ainda te lembras? Arrastaste-me das ruas, puxaste-me das ruas; ainda as pernas aqui, andaram de lá para as portas. E eu vejo que não entendes porque volto, eu vejo a tua mão rebentar no impulso da dúvida, sem rancor, sem fúria, só o pasmo. Arrastaste-me das ruas, avô, mas as ruas ainda estão dentro de mim. Arrastaste-me das ruas e pensas que volto e eu não volto, são elas que voltam a mim, se algum dia se foram de mim; eu acho que elas moram aqui, nos prédios. Não fiques triste, porque eu não estou. Avô, sabes, quero dizer-te que nem sei porque te chamo avô; afinal nunca tive pai mas tive sempre a quem dar essa palavra.