Avô, eu vi os prédios. Avô, eu vi depois as pedras no chão quente; o ar seco cortava as paredes em pó. A violência entrançava o ar, avô; a paz instalada como uma redoma tensa, chicoteada, sempre chicoteada. Eu sei que tu também viste, avô: viste como sou dentro de mim. Aqui dentro viste as ruas que percorro lá fora. Não te deixo ver os homens, avô, dentro de mim só ficam as mãos desumanas e inchadas; tudo o resto se apaga das janelas. A tua mão também aqui está, avô, nem um Inferno a apagaria, nem um sonho apagaria o estalo que feriu o ar e rebentou na face. Depois os braços inteiros, avô; ainda te lembras? Arrastaste-me das ruas, puxaste-me das ruas; ainda as pernas aqui, andaram de lá para as portas. E eu vejo que não entendes porque volto, eu vejo a tua mão rebentar no impulso da dúvida, sem rancor, sem fúria, só o pasmo. Arrastaste-me das ruas, avô, mas as ruas ainda estão dentro de mim. Arrastaste-me das ruas e pensas que volto e eu não volto, são elas que voltam a mim, se algum dia se foram de mim; eu acho que elas moram aqui, nos prédios. Não fiques triste, porque eu não estou. Avô, sabes, quero dizer-te que nem sei porque te chamo avô; afinal nunca tive pai mas tive sempre a quem dar essa palavra.
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Uma por dia tira a azia