27 junho 2010

Prisioneiro

O tempo começa a fugir
-sente-se na pele e nas entranhas-
e essa fuga é assustadora;
magoa a alma,
marca o físico
(sem possibilidade de marcha atrás);
mas, estimula,
uma outra parte de nós:
levanta-nos o ego
-e à volta -,
numa cadência eterna
é o eterno fugitivo
prisioneiro...

Poesia de Paula Raposo

Armaduras

Olho-te nas mãos. As mãos assim tão fechadas
que sufocam os dedos,
que os queres mudos.
Ficamos longe, os dois. Sorrimos e as falanges
mesmo brancas falam por si, dizem-se comprimidas
em esconderijos demasiados pequenos,
absurdos.
Agora que vi, nada aqui poderá ser como antes.
Agora que vi as grades, as pestanas cerradas
nos olhos; eles querem ver, tolos,
assim fechados,
as meninas tão doces. Elas perderam-se rentes
aos lábios;
afinal, sabem, nunca foram beijadas;
os olhos nunca choraram ou riram,
amordaçados
pelos dedos sem palavras que nas mãos escondes.
E eu? Eu nunca serei capaz de abraçar armaduras.

Ginástica no carrinho de mão (louça com cordelinho das Caldas da Rainha)

Crise rouba clientela às prostitutas



HenriCartoon

26 junho 2010

Agudo

Se ao menos a fome me desse uma janela, eu poderia entrar em tua casa.

Se ao menos os meus dedos te abrissem as portas, te abrissem o corpo e mais que o corpo nu e derrotado me desses; ágil, agudo, maldito, em balanços no meu corpo que é ramo, e tu, sempre tão senhor dessas árvores, arrancas vontades como raízes para se enrolarem no teu tronco já manso desse cheiro que tinge.

Vem, não me faças cair mais que pontuações; não me tires também o sentido. Não. Sim, tira.

Não me queres mudar a cor, agora? Só fome e palavras e paixão? Seja, aceito-te assim mesmo, nesta derrota a três: a minha, a tua, a da fome para além da fome. A derrota aumenta os nãos, os nãos aumentam as fomes, as fomes fazem estremecer as mãos que procuram, afogadas em dedos, ancorar na nudez.

Que seja assim, como queres, que seja apenas a fome que encosta a testa ao ventre das árvores; nunca a encostará às raízes. Porém, será - prometo que não sempre - aguda.


«Imaculadamente concebido>



Anúncio polémico dos gelados Antonio Federici

Daisy Lowe - isto é dançar

Mãos e pilas - 8 pequenas peças... digo, piças pela Milena Miguel

Já conheço a Milena Miguel e o seu marido (casal que está à frente do Atelier S. Miguel, no Formigal, perto das Caldas da Rainha) há vários anos.
Como é já tradição, este ano a Milena também me fez umas peças especialmente para a minha colecção. Desta vez, oito miniaturas aproveitando e dando ainda maior realce aos detalhes que ela tanto gosta de mostrar em peças maiores.
E, desta vez, até foram oferta.
Obrigada, Milena!

25 junho 2010

Foda Nos Sentidos ( part I )

Sou um reflexo rasgado, um cenário árduo e profundo...
E quanto engano ou quanto escondo nos meus simples dizeres;
«Duas da tarde e as palavras ficam sem ar... »
Ar quente. Abafado. Corpo. Fogo, visão, quente e começo a despir-me ao som das tuas palavras. Lentamente cobrem-me os poucos de todas as minhas curvas, e no embalo da ilusão, o meu olhar cavalga sofrego no dorso dos teus lábios.
Duração eterna dos sentidos, os lábios falam-te por mim. Devasso-te no corte duro, no olhar, duração eterna numa foda dos sentidos.
A minha vagina espasmódica recita-te o desejo, poesia, sinais que no teu olhar provocante, procura a minha mente. O corpo pulsa, ao toque dum olhar, que estremece;
«Eu sou, tua, nua, (agora) no sentir, a sentir, (no agora) tu, no meu íntimo»
Manso púbis deslisante nos meus seios, tecendo a sombra, desejo, na vaga dos teus dedos semipétricos, pulsantes. Olhos que olham longamente, olhos que engolem imperiosamente.
Toque ardente da pele. O sentir das secreções, momento a momento, as mãos imorais sentem o odor nos palavrões anais, vaginais, esses pequenos orifícios onde reluzem os nossos poemas.
Supremas penetrações onde me enlaça a alma, nada dizes;
«Nada oiço, (agora) lábio a lábio... boca com boca (no agora) haste louca, a glande leve... húmus, (é isso) calidez, cio»
As palavras soam líquidas, deleitosas, na greta da gruta. A minha mente não pode ficar de quatro e agachar-se, ou esgueirar para gozar, muito menos num lugar público fora da zona de qualquer página ou de qualquer texto, e estourar-se nos limites de uma foda.
No silêncio baço do espelho o teu olhar pressinto. O tesão é brisa nua. Luz mordida, adoro-a no avesso.
O fogo corre, de veia em veia, não oiço...
Frémito que embala, perdido sem ar.
Feliz de mim quando penetro o mistério, o teu corpo sem penitência ou decência.
«Se queremos sentir a felicidade de amar, devemos fundir-nos com a alma e só assim encontraremos a satisfação»
A conversa terminou, cravando-me os dentes...
O quarto é um templo onde me torno Deusa, e nesse mesmo instante sou somente;
«boca, pele, pêlos, línguas, boca»
A tarde amanhece sem versos, com a música no teu hálito ofegante, poesias brotam de dentro de mim;
Breves os segundos onde me despi do pudor e sou agora feliz.
Tuas mãos desvendam o cigarro, na chama da semente, mãos que tentam esconder o segredo, olhando para mim calando o silêncio sem precisar de dizer mais nada.
Quero que me possuas inteira, corpo e alma transformando meus segundos, em fecundos infinitos de êxtase e prazer num encontro total;
«Como dizer-te?»
Como abrir a boca, e dizer-te que chove sobre o meu cio, que as minhas pernas se prendem à tua serpente. Presas em duelo.
A minha despudorada arma anseia o teu cálice de sémen;
«Calma, calma a confusão prossegue pele a fora, daqui a pouco gozamos, bem perto do osso»
Eu (penso).
Os teus passos descobrem todos os caminhos do meu, e eu quero estar onde te mergulhas em mim, onde é suposto supostamente proibido passar, onde o ar é vidro ardente, e as labaredas te torram a língua;
A macieza dos passos, no chão, vão subindo... até onde?
Como é o corpo?

[Blog Vermelho Canalha]

O silogismo da queda do cavalo ou "silojoanismo"

Os homens não se medem pela carteira. (Esta parte eu já sabia)

Os clientes são homens. (Pois, também já tinha percebido)

Logo, os clientes não se medem pela carteira.
(E agora, alguém me explique como é que levei nove meses a perceber esta?)




Confissões

Os meus poemas são as minhas confissões:
não tenho que me confessar.

Quando escrevo - confesso-me (?!)-
deixo um pouco de mim;
longe de uma confissão,
este é um (es)pasmo
que não quero analisar.

Não me confesso;
mas de mim deixo
- mais de metade -
inimagináveis promessas
(prováveis sentimentos),
que não cabem em palavras.

Por agora.

Poesia de Paula Raposo

Cinzeiro em metal com surpresa por trás

Uma oferta da São Patrício (obrigada, rapariga!) para a minha colecção.



A bicha



HenriCartoon