Se ao menos a fome me desse uma janela, eu poderia entrar em tua casa.
Se ao menos os meus dedos te abrissem as portas, te abrissem o corpo e mais que o corpo nu e derrotado me desses; ágil, agudo, maldito, em balanços no meu corpo que é ramo, e tu, sempre tão senhor dessas árvores, arrancas vontades como raízes para se enrolarem no teu tronco já manso desse cheiro que tinge.
Vem, não me faças cair mais que pontuações; não me tires também o sentido. Não. Sim, tira.
Não me queres mudar a cor, agora? Só fome e palavras e paixão? Seja, aceito-te assim mesmo, nesta derrota a três: a minha, a tua, a da fome para além da fome. A derrota aumenta os nãos, os nãos aumentam as fomes, as fomes fazem estremecer as mãos que procuram, afogadas em dedos, ancorar na nudez.
Que seja assim, como queres, que seja apenas a fome que encosta a testa ao ventre das árvores; nunca a encostará às raízes. Porém, será - prometo que não sempre - aguda.
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Uma por dia tira a azia