O folclore eleitoral brasileiro, a política mais colorida do mundo, pode muito bem vir a tornar-se no padrão da democracia do futuro, construída sobre as ruínas da credibilidade da classe política dita séria.
Dá gosto perceber na motivação dos candidatos a deputado federal o apelo da sociedade civil para contrariar com um sorriso o desgosto que os governantes de (quase) todo o planeta constituem para as populações que os aturam ou os elegem mas que, acima de tudo, os sustentam.
Como o título desta posta indica, de todas candidatas e candidatos cujos spots de campanha pudemos apreciar nas televisões portugas os meus preferidos são a dupla Tiririca/Mulher Melão. E se no primeiro aprecio sobretudo a
espontaneidade devastadora de uma palhaçada assumida por contraponto à mal disfarçada que nos toca, no segundo (na segunda)
os argumentos estão à vista. Já que temos que levar com tempos de antena e cartazes de rua e toda a parafernália habitual nas andanças eleitorais a figura da minha fruta preferida (sim, adoro melão) é refrescante para a vista e da validade da ideologia estamos conversados quanto à prática dos que simulam terem uma para nos impingir.
E a mulher melão até tem duas...
Restam-me poucas (ou nenhumas) dúvidas de que se o Ricardo Araújo Pereira se candidatasse a qualquer cargo político neste país ganhava mesmo sem o apoio de algum partido político. E quem diz o RAP diz a Fátima Lopes (a da TVI, ex-SIC) ou qualquer das figuras públicas mais próximas do coração dos portugueses fartos de votarem com a cabeça para os resultados à vista.
O Tiririca vai ser eleito deputado, tudo indica. Da Mulher Melão, a outra croma digna de uma Marvel Comics (mas na versão Vilhena), já não existem tantas certezas porque fruta daquela abunda no país irmão e porque será certamente penalizada pelo eleitorado feminino que estas coisas da... política suscitam sempre muitas invejas.
Claro que é fácil para mim, ou para qualquer dos ilustres analistas da blogosfera, da tv ou da cassete pirata, fazer a apologia da seriedade, do sentido de Estado, da necessidade de elegermos figuras respeitáveis (nem que seja para depois as etiquetarmos de vigaristas, incapazes, gays ou qualquer outro dos mimos com que desde Sá Carneiro - o alegado caloteiro - se rotulam todos os figurões tão sérios que vão protagonizando os cartazes de rua nas campanhas eleitorais).
Contudo, na ressaca do anúncio de mais uma machadada valente no optimismo acerca da recuperação económica que já soa como o próximo título do Sporting (é sempre pró ano), esgota-se um bocado a pachorra para os gajos sérios com fato e gravata ou mesmo sem esta última que têm contribuído de forma directa ou por omissão para o estado a que as coisas chegaram em termos de despesa pública (a tacharia das instituições inúteis e afins, por exemplo).
Com as coisas neste ponto, tanto no resultado prático do exercício das funções políticas como na tal credibilidade e dignidade e mais não sei o quê que os líderes devem manter (em teoria), a ideia que refiro acima de propormos um homem simples, do povo, como o nosso ex-colega Gato Fedorento, para termos pelo menos direito a uma campanha eleitoral bem humorada não soa assim tão disparatada.
E no fundo é como diz o Tiririca: pior do que está não fica.