09 outubro 2010

Se muitos votarem a favor desta ideia, a Google pode implementá-la

O blog a funda São é um dos milhares de blogs de todo o mundo dedicados ao erotismo que usam o Blogger (plataforma da Google) e não aparecem nas consultas do Google.
Faço parte de um grupo desses blogs que tenta há muito tempo convencer a Google a arranjar alternativas ao ecrã de "conteúdo para adultos", sem sucesso até agora, pois a Google alega problemas técnicos e ter outras prioridades.
Como solução de compromisso, pedimos agora para a Google colocar no Blogger uma opção para esse ecrã (ou todos os similares) não aparecer mais do que no primeiro acesso.
Se concordas com esta ideia e tens conta do Google (ou GMail) vai aqui e vota:

O quarto do vazio

O quarto era singelo. O resto da casa não importava porque há muito que se tinha desmaterializado. Para além disso, ela passava a maior parte do dia dentro daquele quadrado de sonhos e ilusão, jazida naqueles lençóis, numa cama espinhosa que extirpava um pedaço dela a cada dia que passava. As paredes eram decoradas pelas lembranças do presente, do arrependimento do passado e do vazio vislumbrado do futuro. A alcatifa, pisada centenas de vezes, tinha a marca de apenas um sapato de mulher. “São Euros? Não, são rosas… 40 para me diluir um pouco mais, ou 60 e a ressaca dura até amanhã.” Aquela janela, porta para o mundo material, testemunha de escárnios e ilusões primitivas, é a única transparência naquele cubículo, a única que deixa passar a luz e ainda assim, encoberta pelos longos panos que caem do tecto para que as ilusões sejam privadas. Um dia… um dia este quarto vai ser pintado, ou porque as lembranças das paredes se renovam, ou porque a parede ficou velha, cansada e gasta, e não mais consegue guardar vazios.


O amor é assim.

Apanhei-a na Bertrand. Como quem não quer a coisa perguntei-lhe:
EU: É pá, queres namorar comigo?
ELA: É claro que sim!
EU: Então começamos hoje
ELA: Fixe, meu (querido, supus eu)
EU: Fixe, minha (querida, supôs ela)
A partir d’agora namoramos. Nunca mais a vi, e tão pouco nesse dia.
O Amor é assim.

(História da autoria de um amigo que prefere não revelar a sua identidade, e ainda não arranjou pseudónimo que lhe acertasse bem!)

Húmido

Humedeces-me.
Os beijos que me excitam,
o sexo que me enlouquece
e tu, todo, inteiro,
deixas-me no sonho
da paixão.

O momento é breve,
chega e vai:
desaparece.

Vou querer voltar
ao húmido gotejar de ti:
um dia em que as flores
sejam azuis
e eu me inteire
das nossas loucuras.

Poesia de Paula Raposo

Gostos não se discutem... satisfazem-se



Sheela Na Gig


1 página

oglaf.com

08 outubro 2010

O Fígado

A discussão arrastou-se durante horas: começou ao jantar, agravou-se no levantar da mesa e no arrumar a cozinha, seguiu pelos zappings televisivos, encalhou e teve um período de tréguas numa série da fox, regressou na casa de banho e deitou-se com eles.
– Vais ler? – rosnou o homem, quando a viu debruçar para pegar no livro que andava a ler.
– Porquê, tens alguma sugestão melhor? – replicou a mulher, de livro na mão enquanto ajeitava a almofada.
A sugestão de que ele se lembrou envolvia contacto físico, troca de fluidos e, provavelmente, alguma comunicação. Calou-se.
“Bem me parecia…”, recriminou para si a mulher, antes de abrir o livro e tentar começar a ler.
– O nosso casamento é como o fígado de um bêbado – declarou ele, a olhar para o ecrã apagado pendurado na parede em frente aos pés da cama.
A mulher ouviu e levantou os olhos para a televisão, procurando nela uma explicação para a estranha e enfática declaração, mas confirmou o que já sabia: a televisão estava desligada.
– O quê? – perguntou ela a meio-tom, devolvendo os olhos à segurança dos diálogos que faziam sentido e às irrepreensíveis sequências de causas e efeitos, verdades e consequências, que, de forma confortavelmente previsível, iam surgindo nas frases perfeitamente alinhadas do livro.
– O nosso casamento é como o fígado de um bêbado – repetiu o marido, deleitando-se com a frase como se ela tivesse gosto ou aroma.
– Porquê? – murmurou a mulher, sem tirar os olhos do livro.
O homem seguiu-lhe o olhar e viu o livro aberto. Hesitou, pareceu-lhe que o livro era uma bóia que ela não queria largar; um pedaço de outra realidade para onde ela queria fugir. Repetiu a frase para si e achou que era uma belíssima frase e o livro aberto um insulto. Um desmesurado e imperdoável insulto.
– Por nada… – respondeu, encolhendo ostensivamente os ombros.
Ela conhecia-lhe as tiradas grandiosas e as frases dramáticas e sabia da normal ausência de conteúdo ou das enviesadas e longas explicações que as procuravam justificar. Já não tinha paciência.
– Está bem – aceitou. E recomeçou a ler.
Ele acendeu a televisão.

Meu amor, silêncio...

Ouso voltar ao sítio dos mudos. Eu bem sei que a Lua se põe e que o Sol se apaga, meu amor, mas o que importa, o que importa se as minhas costelas se esmagam ou se tive voz pela última vez, quando te posso dar a mão ali? Os poemas ainda não se calaram, qualquer silêncio ainda é bom. Não deixes que se calem, meu amor, não deixes; eu nunca os deixarei, são os meus braços e os meus soldados.

Ouso voltar ao sítio dos mudos, talvez imagine que ainda lá estás, perdido, retido. Mentira, meu amor, é mentira; se nem estás dentro de ti, já não estás em sítio nenhum.

Besos de papel



2 piezas de la serie The Chiltern Collection
Cera y pastel sobre papel de empapelar paredes
Click sobre las imágenes para ampliar

Cartazes de cinema erótico espanhol dos anos 70

Mais cartazes a juntar aos que já tinha na minha colecção (desta vez, vindos de Espanha)







07 outubro 2010

A posta securitas


As pessoas, os outros, não cessam de me surpreender.
E raramente pela positiva.
Fazendo parte dos outros para as pessoas que me contactam, tenho a perfeita consciência de que também eu cumpro esse papel, o de oferecer surpresas menos agradáveis para quem aposta numa determinada opção da minha parte e acaba a ver-me seguir o caminho diametralmente oposto.
Se calhar é mesmo assim, sermos imprevisíveis faz parte do fascínio que representamos e se calhar outra vez sem isso não teríamos qualquer interesse ou piada.
Contudo, este cariz aleatório das nossas posições, das nossas escolhas, de quase tudo quanto nos é confiado no âmbito do livre arbítrio, acaba por tornar num pesadelo a maioria das (fracas) ligações que vamos criando uns com os outros.
O fascínio que acima referi é uma delícia quando podemos observar a prudente distância os cromos que viram casacas ou mudam de atitude ou mesmo de personalidade a qualquer momento e com isso alteram substancialmente os seus rumos e as imagens que vamos esboçando e que raramente correspondem à personagem.
Mas quando essas alterações súbitas se produzem demasiado perto de nós, quando estamos próximos de quem altera o nosso caminho por tabela quando lhe dá a travadinha e decide mudar o seu, a coisa perde muita da piada e o chão parece fugir-nos sob os pés de forma tão brusca e radical quanto mais nos sentimos ligados a essas pessoas.
É algo que tanto pode acontecer no contexto de uma relação amorosa como no de uma amizade aparentemente sólida e em ambos os casos provoca uma desorientação cujas sequelas acabam por surtir o mesmo efeito de uma qualquer traição.
E esse efeito é o receio instintivo de fomentar ligações, o medo do desconhecido, amplificado pelas feridas abertas na nossa percepção do outro e pela constatação de que afinal não conhecemos assim tão bem os outros e acabamos sempre por ver esses tiros no escuro transformarem-se em tiros nos pés de barro em que assentam as mais firmes convicções nesse domínio movediço que são as relações humanas.
Sobretudo na última meia dúzia de anos tenho sido confrontado com as mais incríveis piruetas por parte de quem vou aceitando no círculo restrito dos meus vínculos emocionais. Isso provoca em mim nada menos do que uma reacção proporcional, uma mudança brusca na minha forma de ser, de sentir, de querer os tais outros que dizem essenciais para uma vida preenchida e uma mente equilibrada mas acabam, e falo apenas de mim, por se revelar precisamente o oposto.
Aos poucos, na sucessão de ressacas, vou mesmo perdendo a vontade de abrir caminhos, de explorar o potencial das pessoas que por este ou aquele motivo, por esta ou aquela simples coincidência, entram na minha vida nos espaços deixados vazios por quem saiu.
As contas são fáceis e as entradas compensam cada vez menos as deserções, tanto pelo prisma quantitativo como qualitativo. E aí desenha-se o meu contributo, o tal receio que transforma cada nova relação num campo minado de surpresas potenciais que já não me sinto capaz de aguentar.
Sempre que tento contrariar esta tendência que a lógica me diz negativa mas os factos desmentem nesse pressuposto dou-me mal. E os outros também.
É quase um dado adquirido, qualquer que seja o tipo de relação, qualquer que seja o vínculo criado apenas para explodir algures debaixo dos pés de onde me foge o chão quando isso acontece.
É flixado, corrói a confiança, destrói a esperança, amputa a base de sustentação dessa vontade cada vez mais enfraquecida de tentar outra vez.
Até um simples café com alguém surge no horizonte não como o sol de um novo dia mas como o prenúncio de mais um desgosto, de apenas mais um temporal para fustigar o que resta da fé nos outros e em mim mesmo, enquanto viáveis, eu e os outros, do ponto de vista de algo mais do que uma ligação tanto quanto possível distante ou, neste espaço chamado blogosfera ou similares, puramente virtual.
O problema está tanto nos outros, essas caixinhas de surpresas que podem ser de pandora quando apostamos alto demais, como em cada um de nós que o somos (os outros) também. Ou nem se trata de um problema mas apenas de uma consequência real, tangível, da evolução da espécie para uma multidão de casulos individuais a abarrotar de instrumentos de comunicação que traduzem não essa necessidade instintiva mas apenas a necessidade de a fazer acontecer sem contacto directo e pessoal, à defesa como a distância parece, se não cedermos à tentação do toque, do olhar, do calor humano, garantir.
Todavia, seja o que for é fonte de desgostos, de desilusões, de inevitáveis trambolhões dos pedestais de papelão onde assentam as nossas expectativas relativamente ao que devemos esperar das relações que estabelecemos para lá do foro inevitável, de vizinhança ou profissional ou qualquer outro dos viveiros das tais coincidências que nos levam a descurar a prudência e a ignorar o saber de experiência feito e a (re)abrirmos de forma ingénua a outros as portas da nossa casa ou do nosso coração apenas para mais tarde instalarmos mais um conjunto de cadeados e de sistemas de protecção imaginários da nossa sensibilidade que nos tornam aos poucos em paranóicos emocionais.
E eu confesso que cada vez tenho maior dificuldade em encontrar as chaves ou em fixar os códigos de abertura dos meus.

O rio

Gostava de ter um rio para te dar.
Não o Amazonas, no seu fluir de serpente gigante,
nem o Ganges, no seu correr sujo e sagrado.
Antes um riacho português,
tímido e anónimo,
levemente engrossado
pelas chuvas de Setembro.