01 novembro 2010

Quanto mais conheço as pessoas...

... mais gosto de as conhecer.
Não me interpretem mal, continuo a gostar tanto de bicharada que estou, neste momento, rodeada de gatos por todos os lados menos por um (justamente o teclado do computador, pelo menos até que o Sebastião resolva fazer uma das suas incursões). Mas não posso, com honestidade, dizer que prefiro os bichos às pessoas.
Gosto de animais domésticos enquanto animais e de gente porque é gente. E se não confundirmos as coisas, é possível encontrar animalidade nos seres humanos e uma certa humanidade nos bichos, talvez por transferência, por proximidade, sei lá bem.
Mas gosto do que as pessoas me dão. Dos encontros que me proporcionam. De palavras que me dirigem. Dos desafios que me colocam. Gosto dos universos que se escondem, revelando-se, por detrás de cada gesto, de cada olhar, de cada discurso, de cada silêncio, de cada projecto.
Nunca consegui, e apesar dos pesares que trinta e sete anos trazem, inevitavelmente, deixar de acreditar no ser humano. Ou em alguns, pelo menos. Logo, em todos, por princípio.

Calhandrice em dia de Pica-Bois

Diz-me, quando estás ausente, nos longos fins de semana que não te sinto as palavras, também não me sentes? Não recordas? Terás a vontade de guardar em memórias presentes aquilo que nos sinto?
A tina de água com bolhas que ilustra o código do nosso estar, o champanhe que alude àquela música de quem já cá não mora, o cigarro atrevido e isolado à porta do palácio do prazer, ou até as expressões que me mostras, iluminam-te no teu seguir viagem diário, ou apenas nos é familiar quando trocamos sensações escritas vertidas pela memória do que foi?
E foi?
Ou apenas aconteceu, sem acontecer-te? As marcas que me sentes nas palavras codificadas ainda que públicas, reflectem a paixão de um coração inabordável que dura mas não perdura.
E a ti?
A intensidade dessa paixão é proporcional às paredes que são erigidas - eventualmente por mim.

Sem explosivos!


Árabe pacífica enviada pelo Carlos Car(v)alho

O amor é cego


Alexandre Affonso - nadaver.com

31 outubro 2010

Carta de Sophia a Kant

O que não existe dentro de mim não existe, para mim, fora de mim. É por isso que não preciso de um tempo e um espaço ou sequer de um nome que me defina quando me toca o amor. Preciso de ser; mais nada. Porque, quando ele existe dentro de mim, existe fora de mim, em todos os momentos e em todos os lugares, por si mesmo, como o tempo e o espaço para os humanos. Ainda bem que o tempo e o espaço não existem aqui dentro, eles estragam o amor.

«Lídia e Beatriz» por Rui Felício

A Lídia vive sozinha.
Era quase meia-noite quando chegou a casa, no meio de uma tempestade de chuva e vento. Veio de boleia no carro da sua colega Beatriz a quem convidou a entrar para tomarem uma bebida quente. Há muito que a Lídia esperava a ocasião propícia, que parecesse casual, para a levar até sua casa. Agora que a Beatriz andava zangada com o seu namorado, esta era a altura ideal que não podia desperdiçar.
Não conseguia desviar o olhar guloso do corpo sensual da Beatriz, ali na intimidade do seu lar.
Precisava de lhe tocar, de explorar todos os recantos do seu corpo debaixo das roupas que ainda o cobriam. Precisava de encontrar nos seus olhos algo mais que não fosse pudor. Aproximou-se, desapertou-lhe dois botões da blusa, roçou-lhe os lábios em volta dos olhos, passou-os pelo seu rosto e contornou com eles a boca bem desenhada da Beatriz. Sentia que o intenso desejo que a consumia era a pouco e pouco partilhado também por ela. Despiram-se... Não sentiam já vergonha, apenas a ânsia de encostarem os corpos nus, de se acariciarem.
A espera tornava-se agonizante. A Lídia não resistiu mais tempo, tomou a iniciativa, encheu as mãos com os seios da Beatriz, beijou-a sofregamente e arrastou-a para a cama. A Beatriz quase não se mexia, mas os seus suspiros, a sua respiração ofegante revelavam o prazer que lhe retesava o corpo. Abandonou-se às carícias da Lidia. Meteu-lhe os dedos entre os cabelos e agarrou-lhe a cabeça que conduziu pelo seu peito, pelo ventre, pelas coxas. Electrizada, sentiu a língua experiente da Lídia a explorá-la, a penetrá-la.
Quase no auge do prazer a Beatriz queria ir até ao fim. Pedia-lhe mais e mais...
Pedia-lhe aquilo que a Lídia, afinal, não lhe podia dar...

Rui Felício
Blog «Encontro de Gerações do Bairro Norton de Matos»

Momento musical

O OrCa chama-lhe "gaita de falos"

Nunca digas nunca

crica para visitares a página John & John de d!o

30 outubro 2010

Menina II

Amadurecer e morrer são quase sinónimos naquela estrada. Pugna mas não alcances e continua a tentar. Menina sim, mas já não tão dura nem amarga, sentimentos agora ausentes porque lhe foi mostrado o caminho por quem com ela priva, porque já não há lugar à probidade pelo desconhecido, ou porque encontrou um ser de armadura mas permeável.
Na realidade não interessa muito conhecer a pedra de toque, mas sim a doçura que de súbito se apoderou daquele ser lindo e de discurso inebriante.
Continua menina, continua ligeiramente adormecida, mas encontrou o trilho que a levará a sentir. Menina.

Quem tem boas ideias, quem é, quem é?

Fui dar uma voltinha há umas semanas pelo Leroy Merlin de Albufeira.
Despertaram-me a atenção, na secção de almofadas, estas em imitação de pêlo de ovelha. Havia em branco e em negro. Comprei a de pêlo de ovelha negra...


E para quê, perguntais vós? Para pedir à Celestita, mágica destas artes, que me cortasse e cosesse a almofada em forma de triângulo. Et voilà, uma ratola gigante e, como diz a malta por aqui, com muito farfalho:

Surpresa

O tempo não se detém:
passa rápido e só nos apercebemos
quando o momento já passou.

Vou descobrir uma fórmula milagrosa
de deter o tempo
- o momento de -
e a magia da luz
manter-se-á intacta
ao longo dos tempos.

Vou escrever um poema
que não fale de tempo;
que se decline lentamente
- em mim -
entre duas fantasias,
alguns verbos
e a surpresa prenhe.

Poesia de Paula Raposo

Ah, o mar!...



Histórias salgadas


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