Não, não tenho qualquer intenção de empreender uma qualquer (pseudo-)dissertação filosófica sobre o tema. Já muitos o fizeram e bem melhor do que eu jamais almejaria.
Mas, caraças, a chatice da liberdade, o peso da liberdade (a expressão não é minha, já se sabe, que eu nunca invento nada de brilhante) é a correlativa necessidade de tomar decisões. De optar. De escolher um caminho em vez de outro, sejam quais forem os motivos que subjazem à escolha. Como nunca sabemos o que nos espera (embora, por vezes, calculemos), tentamos ser previdentes ou audazes, cautelosos ou destemperados, conforme as consequências que nos sintamos com capacidade para acarretar.
E às vezes, só às vezes, uma ansiedade traçada de náusea vem lembrar-nos que talvez tenhamos dado um passo maior do que a perna.
Merda!
15 novembro 2010
Cavaco sabe do que está a falar
Vigília
Um dia dormes. Nesse dia sonharás. Até agora tudo foi vigília que até à Estrela d'Alva te mostrou o que havia a ser mostrado. Nesse dia notarás a diferença e também tu libertarás asas negras, querida filha do Rei. Se hoje acordas sem saber que acordas, é porque em vigília terás que permanecer até que o sonho distinga a realidade. Nesse dia dormirás, e até à Estrela d'Alva irás repousar. Um dia dormes e quando souberes acordar, a Luz da Janela brilhará de felicidade como até agora não te foi deixado observar. Um dia ajudar-te-ei a dormir.
14 novembro 2010
Poema não eu não meu
O meu poema não é meu,
foi uma musa quem lhe deu
parte musa, parte olhos, parte eu,
para ele poder ser fora de mim
coisas que pensam e nem sou.
O meu poema nem tem fim,
em cada peito que lhe tocou
o poema foi outro, renasceu;
o meu poema não é meu,
é pó de mim, areia de quem leu,
na musa aninham-se e eu assim
já nem sei de que forma estou.
O meu poema não é meu
viaja por tantas mãos que, enfim,
eu já nem sei onde é que vou.
O meu poema não é meu,
é vosso e da musa que mo devolveu
bem mais que eu, bem mais que o meu.
foi uma musa quem lhe deu
parte musa, parte olhos, parte eu,
para ele poder ser fora de mim
coisas que pensam e nem sou.
O meu poema nem tem fim,
em cada peito que lhe tocou
o poema foi outro, renasceu;
o meu poema não é meu,
é pó de mim, areia de quem leu,
na musa aninham-se e eu assim
já nem sei de que forma estou.
O meu poema não é meu
viaja por tantas mãos que, enfim,
eu já nem sei onde é que vou.
O meu poema não é meu,
é vosso e da musa que mo devolveu
bem mais que eu, bem mais que o meu.
«O lenço bordado» - por Rui Felício
Como tantas vezes sucedia, fomos uns quantos a um baile no Clube de Vendas do Ceira que os organizava com relativa frequência. Lembro-me do Munhoz e, salvo erro, do Eloi que comigo e outros ali se deslocaram palmilhando o alcatrão da Estrada da Beira desde o bairro até Ceira.
Os Ases do Ritmo abrilhantavam a festa e era ao som das suas músicas que os pares rodopiavam, que os corpos roçagavam, que as mentes sonhavam...
Ao ritmo do tango, música sensual por excelência, os sonhos aproximavam-se do auge, as pálpebras semicerravam-se, todos imaginando serem transportados para longínquas e idílicas paragens, onde os inconfessados desejos se consumassem.
Foi neste ambiente tépido e sonhador que caiu, como um balde de água fria, a voz tonitruante de um director do Clube que mandou interromper a música, proclamando em voz bem alta:
- Meus Senhores e minhas Senhoras! Foi incontrado na retrete das Damas um lenço vordado que entregarásse a quem lhe probar pertencer!
De imediato uma moçoila, do meio da sala, gritou:
- Deve ser o meu. Fui eu co perdi!
E o director do Clube:
- Diga lá como é que é o lenço.
E ela:
- O lenço é branco, tem um pesponto omarelado à bolta, e tamém tem um passarinho e as letras do meu nome bordadas.
Nova pergunta do director:
- Como é ca menina se chama? E que letras são essas?
A moça desfez todas as dúvidas:
- Chamo-me Orora Obuquerque. As letras bordadas no lenço são O.O.
- Confere! , rematou o director, entregando-lhe o lenço e fazendo sinal aos músicos para retomarem a sua actuação.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Os Ases do Ritmo abrilhantavam a festa e era ao som das suas músicas que os pares rodopiavam, que os corpos roçagavam, que as mentes sonhavam...
Ao ritmo do tango, música sensual por excelência, os sonhos aproximavam-se do auge, as pálpebras semicerravam-se, todos imaginando serem transportados para longínquas e idílicas paragens, onde os inconfessados desejos se consumassem.
Foi neste ambiente tépido e sonhador que caiu, como um balde de água fria, a voz tonitruante de um director do Clube que mandou interromper a música, proclamando em voz bem alta:
- Meus Senhores e minhas Senhoras! Foi incontrado na retrete das Damas um lenço vordado que entregarásse a quem lhe probar pertencer!
De imediato uma moçoila, do meio da sala, gritou:
- Deve ser o meu. Fui eu co perdi!
E o director do Clube:
- Diga lá como é que é o lenço.
E ela:
- O lenço é branco, tem um pesponto omarelado à bolta, e tamém tem um passarinho e as letras do meu nome bordadas.
Nova pergunta do director:
- Como é ca menina se chama? E que letras são essas?
A moça desfez todas as dúvidas:
- Chamo-me Orora Obuquerque. As letras bordadas no lenço são O.O.
- Confere! , rematou o director, entregando-lhe o lenço e fazendo sinal aos músicos para retomarem a sua actuação.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Fuckmachines
Via Mr Steed, cheguei à surpreendente descoberta de que na época vitoriana era comum oferecer vibradores, fossem eles eléctricos ou até a vapor.
Eram também recomendados medicamente para vários problemas de saúde.
Vem aí o Natal, encham esses sapatinhos de piçalhos e alegrem as damas da família, da filha à sogra, passando pela mulher e pela tia Gertrudes.
Eram também recomendados medicamente para vários problemas de saúde.
Vem aí o Natal, encham esses sapatinhos de piçalhos e alegrem as damas da família, da filha à sogra, passando pela mulher e pela tia Gertrudes.
13 novembro 2010
“Conas light” ou “Os violinos de Chupan”
A cada vez que algum homem me diz que mulheres com pêlos na cona lhe tiram o tesão, fico atrapalhada. Como? Mulheres com pêlos na cona? Se me dissessem que lhes não agradam mulheres com pêlos nas costas, pêlos nas coxas, pêlos na venta… ainda vá… faz algum sentido… Mas pêlos na cona?? Escusado será dizer que tais afirmações são sempre tidas do lado de cá com grande desconfiança… além de acompanhadas de quedas súbitas de temperatura. Porque se há mesmo coisa que me tira o tesão à velocidade da luz, é o fundamentalismo. Sou profundamente fundamentalista anti-fundamentalismo!
Sob o efeito do espanto, dou por mim a pensar: “Porra! Isto assim não deve ser fácil! Perder o tesão com conas com pêlos? Ora, raios! Deve ser complicado encontrar uma mulher adulta sem pêlos na cona!" Depois, também me causa uma grande estranheza que se limite a atracção sexual a um determinado “corte de cabelo”, esteja ele ou não na moda.
Não sei porquê estas coisas fazem-me lembrar de um tempo em que eu e uma amiga nos sentávamos num cantinho recôndito da escola a ver as revistas pornográficas que ela surripiava ao tio… bons tempos! Ríamos muito daquelas badalhoquices todas, e às gargalhadas púnhamo-nos a imaginar as pessoas mais respeitáveis que conhecíamos em tais preparos, ou que medidas extremas de higiene seriam necessárias para que fossemos capazes de aproximar as nossas bocas daqueles estranhos prolongamentos carnudos, ainda mais se pareciam sempre prontos a cuspir algum líquido de aspecto e sabor duvidosos! E hoje ainda mais me rio das nossas gargalhadas e da profusão das nossas certezas!
Um falo veio entretanto a converter-se em algo de muito limpo e de muito belo. Claro que também os há sujos… se não tomarem banho ou se os seus donos forem badalhocos! E na beleza, tal como os rostos, uns serão belíssimos, outros mais ou menos, outros, por certo, muito feios, também dependendo dos olhos que os vêem (embora os das “revistas” tenham quase sempre um ar simpático…). O mesmo sucede com as conas, e não há cortes de cabelo que lhes valham se acaso não se lavam ou o nariz lhes sai muito torto ou as orelhas fora do lugar! Quanto à higiene, não vejo razão para que se considere mais limpa uma cabeça careca que outra com cabeleira. O que não significa que não se deva cortar o cabelo, ou rapa-lo, ou penteá-lo da forma que a cada um pareça melhor.
Os pêlos púbicos, tal como os das axilas, possuem glândulas, as glândulas apócrinas, responsáveis pelo odor corporal, sendo que este pode ser controlado pelo corte dos pêlos. Cada caso é um caso: se há pessoas naturalmente “fedorentas”, também as há “cheirosas” ou bastante inodoras. A mim tudo isto me parece uma questão de elementar bom senso. De onde me ocorra também que impor um odor corporal muito intenso a outra criatura, sobretudo num primeiro encontro, não seja nada simpático, ou, no mínimo, tenda a ser uma manobra arriscada… Por outro lado, não cheirar a nada, também pode não ter graça...
Quanto ao restante, desenganem-se cavalheiros! Isso de “conas light” é uma ilusão! Independentemente do número do pente de corte, uma cona será sempre uma coisa esquisita cheia de peles e de dobras e de flora muito complexa! Ou bem que agrada, ou não há corte de cabelo que a salve!
(Eu não disse? Cá estão! “Os violinos de Chupan”… Perdão! Chopin!)
Sob o efeito do espanto, dou por mim a pensar: “Porra! Isto assim não deve ser fácil! Perder o tesão com conas com pêlos? Ora, raios! Deve ser complicado encontrar uma mulher adulta sem pêlos na cona!" Depois, também me causa uma grande estranheza que se limite a atracção sexual a um determinado “corte de cabelo”, esteja ele ou não na moda.
Não sei porquê estas coisas fazem-me lembrar de um tempo em que eu e uma amiga nos sentávamos num cantinho recôndito da escola a ver as revistas pornográficas que ela surripiava ao tio… bons tempos! Ríamos muito daquelas badalhoquices todas, e às gargalhadas púnhamo-nos a imaginar as pessoas mais respeitáveis que conhecíamos em tais preparos, ou que medidas extremas de higiene seriam necessárias para que fossemos capazes de aproximar as nossas bocas daqueles estranhos prolongamentos carnudos, ainda mais se pareciam sempre prontos a cuspir algum líquido de aspecto e sabor duvidosos! E hoje ainda mais me rio das nossas gargalhadas e da profusão das nossas certezas!
Um falo veio entretanto a converter-se em algo de muito limpo e de muito belo. Claro que também os há sujos… se não tomarem banho ou se os seus donos forem badalhocos! E na beleza, tal como os rostos, uns serão belíssimos, outros mais ou menos, outros, por certo, muito feios, também dependendo dos olhos que os vêem (embora os das “revistas” tenham quase sempre um ar simpático…). O mesmo sucede com as conas, e não há cortes de cabelo que lhes valham se acaso não se lavam ou o nariz lhes sai muito torto ou as orelhas fora do lugar! Quanto à higiene, não vejo razão para que se considere mais limpa uma cabeça careca que outra com cabeleira. O que não significa que não se deva cortar o cabelo, ou rapa-lo, ou penteá-lo da forma que a cada um pareça melhor.
Os pêlos púbicos, tal como os das axilas, possuem glândulas, as glândulas apócrinas, responsáveis pelo odor corporal, sendo que este pode ser controlado pelo corte dos pêlos. Cada caso é um caso: se há pessoas naturalmente “fedorentas”, também as há “cheirosas” ou bastante inodoras. A mim tudo isto me parece uma questão de elementar bom senso. De onde me ocorra também que impor um odor corporal muito intenso a outra criatura, sobretudo num primeiro encontro, não seja nada simpático, ou, no mínimo, tenda a ser uma manobra arriscada… Por outro lado, não cheirar a nada, também pode não ter graça...
Quanto ao restante, desenganem-se cavalheiros! Isso de “conas light” é uma ilusão! Independentemente do número do pente de corte, uma cona será sempre uma coisa esquisita cheia de peles e de dobras e de flora muito complexa! Ou bem que agrada, ou não há corte de cabelo que a salve!
(Eu não disse? Cá estão! “Os violinos de Chupan”… Perdão! Chopin!)
[blog Libélula Purpurina]
Silêncio - Tudo
Silêncio teu que me diz mais que palavras, gritos em ti – trocadas por mim, interpretações roubadas e observações...
Mirante... Silêncio dado, silencio visto – vês?
Traduz a felicidade em silêncio – não se sente pelas palavras...
Onde está o objectivo? Em silêncio te disse claramente, vibraste em palavras surdas que me confirmaram.
Tremores, medo... Não tremores de medo. Medo da palavra mal recebida – contenção, devagar... em silêncio e palavras brincadas, espera.
Os fios, curtos, emaranhados? Puxões consentidos, empurro e puxo para ajeitar, para afagar, para observar...
Diz. Se não desta maneira, da outra. E assim? E se duas voltas se derem até ao enrolado final? Pronto, não digas... interessante.
E assim... Tudo.
Mirante... Silêncio dado, silencio visto – vês?
Traduz a felicidade em silêncio – não se sente pelas palavras...
Onde está o objectivo? Em silêncio te disse claramente, vibraste em palavras surdas que me confirmaram.
Tremores, medo... Não tremores de medo. Medo da palavra mal recebida – contenção, devagar... em silêncio e palavras brincadas, espera.
Os fios, curtos, emaranhados? Puxões consentidos, empurro e puxo para ajeitar, para afagar, para observar...
Diz. Se não desta maneira, da outra. E assim? E se duas voltas se derem até ao enrolado final? Pronto, não digas... interessante.
E assim... Tudo.
Surpreendente
Surpreendes-me?
Não.
As surpresas são surpreendentes
e tu deixaste de ser surpresa:
és o igual farsante de sempre,
um cálculo imaginário,
a sombra que não recebe
qualquer luz.
Já não me podes surpreender
- não, não podes (nem sabes) -
porque não queres
nem nunca quiseste.
Insurpreendente mortal
de surpresas desfeito,
nas desfeitas palavras
que tanto magoam
e que aqui te deixo.
Poesia de Paula Raposo
Não.
As surpresas são surpreendentes
e tu deixaste de ser surpresa:
és o igual farsante de sempre,
um cálculo imaginário,
a sombra que não recebe
qualquer luz.
Já não me podes surpreender
- não, não podes (nem sabes) -
porque não queres
nem nunca quiseste.
Insurpreendente mortal
de surpresas desfeito,
nas desfeitas palavras
que tanto magoam
e que aqui te deixo.
Poesia de Paula Raposo
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