03 dezembro 2010

Conto dos pequenos

Hoje não posso responder a ninguém. O homem no meio da sala fala demasiado alto e atordoa a multidão. Tantos eus aqui comigo, tantos. Esta é a imagem da minha confusão. A verdade encontra-me sempre incapaz de acreditar e, ao mesmo tempo, incapaz de me mover como uma céptica. Não me movo. O homem deita-me. Adormeço e acordo deitada, o homem em cima de mim tenta observar a multidão; de vez em quando, estica o braço e pega, meigo, tão meigo, num dos pequenos eus e vai pousá-lo, cuidadosamente, separado da multidão. Dá-lhe um pequeno beijo e pede-lhe que não volte a entrar, que não será bem vindo, que não cabe na perfeição, que está tudo muito melhor assim, que só mais um ou dois como ele e as grades poderão cerrar-se à minha volta e dar-lhe a maravilha da tranquilidade perante mim: não mais causarei dor! Os pequenos eus rodeiam-me, tristes, estáticos, confusos; abrem muito os olhos partidos, muito, muito, até ao tamanho deles, até ao tamanho do vazio aqui. São apenas pequenas crianças perdidas, nem a mãe os soube guardar. Olham o homem pequeno - agora tão pequeno, mais pequeno que eles - do tamanho da cobardia. Vou salvá-los a todos, alguns perdem pedaços, já se calou o homem, já nem vejo o homem, mas eles salvam-me a mim. Esperarei quem enfrente e aceite os meus eus, tal como eu, porque eles não se podem separar de mim sem que eu deixe de ser porque eu quero pouco, tão pouco, quem me queira por quem eu nem sequer sou. Hoje não posso responder a ninguém, estou a falar comigo, como sempre, em paz.

Cucu


Não! O gajo não está sorridente por "atacar" por trás a mulher nua,
Olhem bem para ela.

Monges de Cluny

Figura em barro pintado, de 1927, com 39 cm de altura.
Tem um furo em cima e um arame que deveria ser para servir de candeeiro.
A maltinha que veio ao Visita-a-Funda nos dias 21 e 27 de Novembro já viu esta peça na minha colecção.






02 dezembro 2010

Edito estrelas

Lá por os pelos se agruparem no púbis não podemos chamar-lhes um grupelho.
Da mesma forma, enfiar na boca um tubo de papel em branco não transforma esse papel numa brochura.


Há um mês: a mesma situação, dois tipos de jornalismo

Vejam este video. Isto ter-se-á passado no passado dia 2 de Novembro, terça-feira, na Rua de Santa Catarina, no Porto.
A seguir leiam a notícia no «Correio da Manhã».
Por fim leiam a notícia no «Jornal de Notícias».

«Cona de cavalete» - por Bartolomeu

Namorei uma Jugoslava que tinha cona de cavalete...
Foi um daqueles namoros estranhos, mais um desafio que um namoro. Diziam-me os meus amigos na altura que eu não era capaz de comer a gaja...
Pfhhh... é só querer, respondi-lhes.
Apostaram, apostei e lá fui para o campo de batalha, uma discoteca em Lagos. Pensei que a Jugoslava caísse imediatamente, rendida ao charme e ao tesão de um latino todo bronzeado, cabelo à surfista e um ar ligeiramente atlético.
Tá bem... chora, Xico...
Já suava as estopinhas, já lhe tinha oferecido uma grade de cervejola e a alva menina, fresquinha que nem cachucho na lota, não me dava mais que uns sorrisos, enquanto os meus amigos iam apreciando a minha não-evolução e rindo a bandeiras despregadas.
Percebi que, com aqueles anormais em cima, não ia conseguir concretizar aquilo que, começando por uma aposta, se tinha transformado em defesa da honra.
Convidei então a menina para passear na praia, pouco certo de que aceitaria a minha proposta claramente insidiosa.
Aceitou!
Ufano, marialva, saí olhando de ladecos os meus amigos, exibindo um ar triunfador, de "el matador". Só faltou o disc-jockey meter um paso doble na vitrola.
E lá fomos, rumo à praia Don'Ana, já a sentir nos beiços, por antecipação, o sabor exótico de uma conaça Jugoslava.
Era de cavalete.
Sabeis o que é uma cona de cavalete?
Eu explico-lhes, gentinha inguenurante.
Uma cona de cavalete é aquela em que o osso púbico, apresenta uma morfologia proeminente, ou excessivamente proeminente, sobretudo se a revesti-lo se encontrar uma camada generosa de músculo.
A primeira reação de macho que apalpa uma cona de cavalete, sem retirar previamente as camadas de tecido que a cobrem, é: "Foda-se, pá... já foste enganado... afinal a Jugoslava é um Jugoslavo!"
Mas depois... como a curiosidade não se fica pela primeira sensação, tentas não demonstrar surpresa e, assim como quem não quer a coisa, voltas a passear os dedos pelo "local do crime" e, ainda sem certezas firmadas, começas a ceder a hipóteses.
Até que, mansamente, confirmas com um suspiro de franco alívio: "foda-se, caralho, afinal é cona, inchada, mas cona!" E mergulhas de cabeça, como se o mundo for acabar dali a meia hora.
Fodido, fodido... é que no dia seguinte, um gajo ainda anda com um dor no baixo ventre, que até tem dificuldade em andar.
Por isso, aqui fica o meu conselho, dirigido a todos aqueles que ainda não se aventuraram numa cona de cavalete: fodam-nas de toda a maneira, menos à missionário!
Inda dizem que este berlogue não presta serviço púbico...
Bartolomeu
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Não se pode dar tópicos a esta malta que descobre cada coisa...
watermeloncolya: "Parece um déjà vu sem lagos e sem praia, mas infelizmente há muitos anos atrás saiu-me uma dessas «conas de cavalete» (Bartolomeu, agradeço desde já a informação do real nome da coisa) e afirmo que não são nada, mas mesmo nada agradáveis as dores que se ficam durante e depois do acto. Devido à minha ignorância do nome, apelidei a menina de «cona de osso». Portanto, tenho que lhe pedir desculpas e chamar a coisa pelo nome."
Fin: "Também há a «cona de alçapão», quando um dos lábios é notoriamente maior do que o outro e o encobre."
Bartolomeu: "Mas aquelas que a gente curte mesmo, Fin... são «as d'alçaxouriço»... que têm as duas bordas tão volumosas que, quando um gajo olha para baixo, até se assusta, porque julga que ficou decepado..."

Da relação entre o voto e o orgasmo

O mau gosto incomoda-me.
Faz-me espécie (não perco uma oportunidade para utilizar esta expressão).
E quando o mau gosto é levado ao extremo de ser utilizado numa campanha que pretende mobilizar os jovens a exercer o direito de voto, chamando-os directamente de idiotas (ou subliminarmente, admito, se os ditos estiverem muito distraídos), chego a sentir-me violenta.
Lido com gente acabada de chegar à maioridade diariamente. Conheço-lhes o sentido crítico, as preocupações, alguns gostos e, certamente, o modo como se sentem motivados.
E vão-me desculpar, senhores da Catalunha mas colocar uma (jovem) senhora a (simular) viver um orgasmo (tão longe da deliciosa Meg Ryan, em When Harry Meets Sally) enquanto insere o boletim de voto na urna não é só descabido. Chega a ser pornográfico.

O que tem a sensação de cumprir um dever cívico que ver com um orgasmo?
Nada, meus senhores.
Mas é, ainda assim, uma sensação bestial.
E acredite-se ou não, os miúdos de 18 anos têm capacidade para perceber isso, ó palermas catalães!!

01 dezembro 2010

Pérolas do Google Maps - A pilinha do Herman-Giest Stadium

Via Facebook, através do José Castanheira, chega-nos (mais) esta pérola do Google que constitui como que uma espécie de misto da evocação dos geóglifos de Nazca, no Peru, com o despudorado e intumescido gigante inglês de Cerne Abbas.

Trata-se de um geóglifo, que vai buscar a sua inspiração nos ancestrais cultos da fertilidade, embora com toque distinto de dinamismo, realizado no relvado de um estádio de futebol americano da povoação de Hazleton na Pennsilvanya , no Nordeste dos EUA.

Não acreditam? Então pesquisem "Herman-Giest Stadium, Hazleton, Luzerne, Pennsylvania, United States" no Google Maps e vejam as imagens de satélite ou, em alternativa, cliquem directamente na imagem.
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O Bartolomeu está lá e faz-nos o relato:
"No noticiário das 5, surgiu a alarmante notícia: O Mayor da Penis Sylvânia, assim como o presidente do estádio Hazleton, estão alarmados com o número de mulheres que estão a saltar nuas, de paraquedas, sobre o relvado, permanecendo assim durante longos períodos de tempo.
Agentes da CIA, em parceria com especialistas informáticos, estão a chegar à conclusão que esta súbita vaga de paraquedistas-nuas se deve a um post colocado num blog português, conhecido pelo blog-pucalhoto.
Dinga-Linga-Lão... notícia de última hora dá conta de um estranho para-quedista, que se lançou também nu sobre o relvado, mas com a pressa esqueceu-se de colocar o para-quedas. Segundo a equipa de médicos que se encontra no local, o para-quedista-surpresa aterrou de peida... aberta, pelo que já lhe foram retirados 5 kg de erva dos catrafolhos, estando a equipa médica que o assiste a pensar mandar levar ao local uma manada de vacas charolesas, por forma a acelerar o processo de retirada da erva.
A equipa de reportagem, que faz a cobertura, no local, deste insólito acontecimento, soube neste momento que o para-quedista-nu é de nacionalidade portuguesa e o seu nome é... tcharammmm... NELO!"

Ternário Sobre Quaternário

As palavras, arma gentil que envergo através dos 7 mares sinuosos, juntas em linhas de promessa, interpretam o espírito sobre a matéria. O navio que embala, protege e dá confiança é o próprio porto seguro que te segura a mão. A palavra é minha mas as linhas são desenhadas e o lápis não conheço. O papel é o mundo do qual se vêem as estrelas como fenómenos cósmicos e os acentos e pontuações, as criaturas que pairam e merecem ser bem colocadas nos locais que lhes estão destinados.

Turbilhão

Despiu o vestido e era o tempo, sou do teu sonho, vem cá para eu te respirar e as estrelas giram lá fora, andam à beira do precipício, vem cá para eu te empurrar, deita-te na minha cama, estou na janela, sou do mundo, sou do vento, fecho os olhos e estou a olhar, a olhar, a olhar, vem cá para eu te matar, e a ternura tem medo mas eu não, arrasto-o até ao teu corpo, se o agarras como uma almofada ainda o vais calar, e os dias que passam por nós, as coisas espreitam o pensamento mas não deixo o pensamento espreitar as coisas e se ele espreitar eu vou arrancá-lo pelos dedos nas ancas, pela testa já fria no baixo-ventre, o cabelo ainda por apanhar, espero-te e não sei passar; despiu o vestido e era o tempo, deito-me e as costas já nuas, escreve-me do amor e das paredes que não se afastam, escreve-me do que não queres escrever, fala-me das pontes e montanhas e muralhas e do céu que nem nos avisa, escreve-me na pele e nas mãos de papel, se te encontro entre páginas não sei onde estás, nunca mais quero nenhum surdo, nunca mais quero nenhum mudo, prometi, mas um dia ainda nos invento cegos, deito-me e dou-te a mão e nós ainda vamos saltar.

Isto não é apenas uma dança de varão. É acrobacia, bailado, Arte

30 novembro 2010

Edito estrelas

Lá por um mergulhador dar uma bufa submarina esta não passa a chamar-se um torpeido.

36


Agora que captei a vossa atenção, e vos tenho sentadinhos à escuta, serve o presente para, com a magnânime autorização da nossa lésbica São Rosas, falar-vos um pouquinho da Trinta e Seis.

A Trinta e Seis (36) não tem nada a ver com a minha idade (que não é essa), nem tão pouco com o meu número de porta (que é outra) e menos ainda com o comprimento de algum apêndice meu (seja ele em milímetros ou em polegadas). A 36 pretende ser uma webzine, fugindo, desse modo, ao formato típico de um blog. Alguns de vós podereis ser vetustos o suficiente para lembrar outros tempos da telemática em Portugal. Era uma altura, do século passado (genericamente, final anos 80 até meados dos anos 90), em que a Internet não existia na casa dos portugueses. Era uma coisa que apenas as Universidades tinham. Mas, na casa de alguns portugueses, bem menos do que aqueles que hoje têm internet, existiam já modems que, através das suas linhas telefónicas, se ligavam a uns sistemas chamados BBS (Bulletin Board System). Diferiam da internet como hoje a conhecemos pelo facto de só aceitarem um utilizador de cada vez (porque cada utilizador exigia uma linha telefónica e um modem em exclusivo), sendo raras as BBS que aceitavam mais, e não existia grafismo, o interface era em modo de texto, apesar de se fazerem coisas visualmente apelativas.

Nesses tempos, as mensagens podiam ser locais à BBS (trocadas entre membros dessa BBS) ou de rede, trocadas entre membros de BBSs diferentes que se ligavam entre si, normalmente durante a madrugada, para transferir o correio. Mas existiam redes internacionais, também. Um exemplo disso era uma rede chamada Fidonet. Nessas redes, como aliás nos newsgroups que muitos conhecerão da internet, criavam-se conferências. As conferências eram grupos de discussão temática. Quando se pensa nisso, depressa se conclui que aquilo que o criador do Facebook fez não foi muito mais do que transportar para a Web 2.0 uma realidade antiga que as BBS já faziam. Criar comunidades, partilhar ficheiros e mensagens, poder criar grupos temáticos.

Dentro da rede Fidonet, o segmento relativo a Portugal tinha o número 36. Todas as conferências distribuidas dentro de Portugal através da Fidonet tinham o sufixo _36. Se A Funda São fosse uma conferência desses tempos e pertencesse à Fidonet nacional, poder-se-ia chamar AFundaSao_36 (se a distribuição fosse apenas regional poderia ter outros sufixos, como _361, _362, etc, conforme a região).

Por volta de 1995, mais coisa menos coisa, quando se começou a massificar o acesso à internet, muito por culpa do Netpac da Telepac, as BBS cairam em declínio, mas alguns portugueses que vinham desse meio fizeram coisas muito engraçadas. Se, hoje, os blogs e as redes sociais dominam, noutros tempos, dominavam as Webzines. Eram mais elitistas, é certo, porque aquilo que um blog veio permitir - que todos conseguissem ter uma presença na net, nem que fosse para escrever "hoje acordei e soltei um traque" -, as Webzines não permitiam. Ou era preciso saber fazer, de facto, uma página HTML, ou então era preciso ter acesso a um qualquer software para publicar páginas. Mas, ainda assim, foram tempos giros. O elitismo dava-lhe algum charme. Juntava-se gente gira. Porque estar na net (ou antes disso, nas BBS) era exigente, requeria know-how, as pessoas que lá estavam eram normalmente pessoas com interesse. Com ideias, com intelecto, com humor, com técnica. A massificação levou parte disso. As pessoas interessantes diluiram-se no meio da banalidade. É perigosamente presunçoso escrevê-lo. Mas é como o sinto, e todos são livres de enquadrar o que escrevo no âmbito do que pensam sobre si, sobre os outros, sobre a vida.

Resulta, então, que vivi um tempo riquíssimo de conferências na rede _36, e depois disso um outro, de Webzines. E apeteceu-me criar - ou tentar - algo que recuperasse um pouco desse espírito. Nada tenho contra blogs colaborativos, tanto que o faço aqui mesmo, n'A Funda São, e com gosto. Mas o formato blog distancia-me das Webzines.

Apresento-vos, pois, a Webzine Trinta e Seis. Agora já sabeis o porquê desse nome. E se vo-la apresento aqui, deste modo, é porque lá encontram uma entrevista à profundamente nossa São Rosas. Podem ler aqui.

A 36 pretende-se colaborativa embora disso ainda pouco se note. A Joana Well aceitou o meu convite, e alguns dos seus textos aparecerão por lá. Da incubadora que é o meu blog pessoal, saltarão para a 36 alguns daqueles que penso que melhor se enquadram na ideia original, e, com o tempo, irei convidando outras pessoas a escrever por lá. E a decidir sobre quem se ofereça para lá publicar, o que não é uma obrigação nem um vínculo. Podem até ser participações únicas, sem repetição. A única exigência que ali se faz é que cada autor deve ter um nome próprio, ainda que não seja o dele (i.e., não quero lá ter autores com nomes descaradamente ficcionados, como DarthVader ou Capitão Meia Noite), e todos os textos devem ter uma imagem relacionada com o conteúdo.

A 36 não é, por isso, uma concorrente d'A Funda São (como se isso fosse sequer possível!). É uma Webzine amiga, que recomendará A Funda São aos seus visitantes quando eu conseguir, finalmente, lá colocar uma lista de sites recomendados. Sois bem-vindos a passar por lá!



trintaeseis.net/