30 novembro 2010

36


Agora que captei a vossa atenção, e vos tenho sentadinhos à escuta, serve o presente para, com a magnânime autorização da nossa lésbica São Rosas, falar-vos um pouquinho da Trinta e Seis.

A Trinta e Seis (36) não tem nada a ver com a minha idade (que não é essa), nem tão pouco com o meu número de porta (que é outra) e menos ainda com o comprimento de algum apêndice meu (seja ele em milímetros ou em polegadas). A 36 pretende ser uma webzine, fugindo, desse modo, ao formato típico de um blog. Alguns de vós podereis ser vetustos o suficiente para lembrar outros tempos da telemática em Portugal. Era uma altura, do século passado (genericamente, final anos 80 até meados dos anos 90), em que a Internet não existia na casa dos portugueses. Era uma coisa que apenas as Universidades tinham. Mas, na casa de alguns portugueses, bem menos do que aqueles que hoje têm internet, existiam já modems que, através das suas linhas telefónicas, se ligavam a uns sistemas chamados BBS (Bulletin Board System). Diferiam da internet como hoje a conhecemos pelo facto de só aceitarem um utilizador de cada vez (porque cada utilizador exigia uma linha telefónica e um modem em exclusivo), sendo raras as BBS que aceitavam mais, e não existia grafismo, o interface era em modo de texto, apesar de se fazerem coisas visualmente apelativas.

Nesses tempos, as mensagens podiam ser locais à BBS (trocadas entre membros dessa BBS) ou de rede, trocadas entre membros de BBSs diferentes que se ligavam entre si, normalmente durante a madrugada, para transferir o correio. Mas existiam redes internacionais, também. Um exemplo disso era uma rede chamada Fidonet. Nessas redes, como aliás nos newsgroups que muitos conhecerão da internet, criavam-se conferências. As conferências eram grupos de discussão temática. Quando se pensa nisso, depressa se conclui que aquilo que o criador do Facebook fez não foi muito mais do que transportar para a Web 2.0 uma realidade antiga que as BBS já faziam. Criar comunidades, partilhar ficheiros e mensagens, poder criar grupos temáticos.

Dentro da rede Fidonet, o segmento relativo a Portugal tinha o número 36. Todas as conferências distribuidas dentro de Portugal através da Fidonet tinham o sufixo _36. Se A Funda São fosse uma conferência desses tempos e pertencesse à Fidonet nacional, poder-se-ia chamar AFundaSao_36 (se a distribuição fosse apenas regional poderia ter outros sufixos, como _361, _362, etc, conforme a região).

Por volta de 1995, mais coisa menos coisa, quando se começou a massificar o acesso à internet, muito por culpa do Netpac da Telepac, as BBS cairam em declínio, mas alguns portugueses que vinham desse meio fizeram coisas muito engraçadas. Se, hoje, os blogs e as redes sociais dominam, noutros tempos, dominavam as Webzines. Eram mais elitistas, é certo, porque aquilo que um blog veio permitir - que todos conseguissem ter uma presença na net, nem que fosse para escrever "hoje acordei e soltei um traque" -, as Webzines não permitiam. Ou era preciso saber fazer, de facto, uma página HTML, ou então era preciso ter acesso a um qualquer software para publicar páginas. Mas, ainda assim, foram tempos giros. O elitismo dava-lhe algum charme. Juntava-se gente gira. Porque estar na net (ou antes disso, nas BBS) era exigente, requeria know-how, as pessoas que lá estavam eram normalmente pessoas com interesse. Com ideias, com intelecto, com humor, com técnica. A massificação levou parte disso. As pessoas interessantes diluiram-se no meio da banalidade. É perigosamente presunçoso escrevê-lo. Mas é como o sinto, e todos são livres de enquadrar o que escrevo no âmbito do que pensam sobre si, sobre os outros, sobre a vida.

Resulta, então, que vivi um tempo riquíssimo de conferências na rede _36, e depois disso um outro, de Webzines. E apeteceu-me criar - ou tentar - algo que recuperasse um pouco desse espírito. Nada tenho contra blogs colaborativos, tanto que o faço aqui mesmo, n'A Funda São, e com gosto. Mas o formato blog distancia-me das Webzines.

Apresento-vos, pois, a Webzine Trinta e Seis. Agora já sabeis o porquê desse nome. E se vo-la apresento aqui, deste modo, é porque lá encontram uma entrevista à profundamente nossa São Rosas. Podem ler aqui.

A 36 pretende-se colaborativa embora disso ainda pouco se note. A Joana Well aceitou o meu convite, e alguns dos seus textos aparecerão por lá. Da incubadora que é o meu blog pessoal, saltarão para a 36 alguns daqueles que penso que melhor se enquadram na ideia original, e, com o tempo, irei convidando outras pessoas a escrever por lá. E a decidir sobre quem se ofereça para lá publicar, o que não é uma obrigação nem um vínculo. Podem até ser participações únicas, sem repetição. A única exigência que ali se faz é que cada autor deve ter um nome próprio, ainda que não seja o dele (i.e., não quero lá ter autores com nomes descaradamente ficcionados, como DarthVader ou Capitão Meia Noite), e todos os textos devem ter uma imagem relacionada com o conteúdo.

A 36 não é, por isso, uma concorrente d'A Funda São (como se isso fosse sequer possível!). É uma Webzine amiga, que recomendará A Funda São aos seus visitantes quando eu conseguir, finalmente, lá colocar uma lista de sites recomendados. Sois bem-vindos a passar por lá!



trintaeseis.net/

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