01 dezembro 2010

Turbilhão

Despiu o vestido e era o tempo, sou do teu sonho, vem cá para eu te respirar e as estrelas giram lá fora, andam à beira do precipício, vem cá para eu te empurrar, deita-te na minha cama, estou na janela, sou do mundo, sou do vento, fecho os olhos e estou a olhar, a olhar, a olhar, vem cá para eu te matar, e a ternura tem medo mas eu não, arrasto-o até ao teu corpo, se o agarras como uma almofada ainda o vais calar, e os dias que passam por nós, as coisas espreitam o pensamento mas não deixo o pensamento espreitar as coisas e se ele espreitar eu vou arrancá-lo pelos dedos nas ancas, pela testa já fria no baixo-ventre, o cabelo ainda por apanhar, espero-te e não sei passar; despiu o vestido e era o tempo, deito-me e as costas já nuas, escreve-me do amor e das paredes que não se afastam, escreve-me do que não queres escrever, fala-me das pontes e montanhas e muralhas e do céu que nem nos avisa, escreve-me na pele e nas mãos de papel, se te encontro entre páginas não sei onde estás, nunca mais quero nenhum surdo, nunca mais quero nenhum mudo, prometi, mas um dia ainda nos invento cegos, deito-me e dou-te a mão e nós ainda vamos saltar.

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