29 dezembro 2010

Matemática

Uma noite, poderás dormir no meu lugar,
dar-te, no meu espaço, o espaço meu,
o lugar que me toca a pele na cama;
porque deve ser apenas assim que se ama,
de todo o espaço, a pequena coisa que cedeu,
é na fronteira do eu, é o espaço de na pele tocar.
Uma noite, quando sonhares, poderás deitar
o sonho teu, ali será o meu e o meu será o teu
como eu e a palavra nossa há-de ser a mesma,
essa palavra que junto à pele já nos soma;
não somos um, gosto que sejas tu, eu sou eu
mas, aqui, aprenderemos contas de somar.

Ibiza Fucking Island

28 dezembro 2010

Endurance

Não passou de um momento.
Um segundo, no máximo, diria.
Em que sentiu no estômago o mesmo que sentia quando, era miúda, o pai passava com o carro a determinada velocidade nos túneis das avenidas novas e ela, com o irmão no banco de trás, ria e pedia "mais, mais!".
Em que achou que todo e qualquer milímetro cúbico de sangue lhe afluira ao cérebro.
Em que ouviu o coração descompassado, como se fora do peito.
Em que viu as mãos a tremer.

Foi só um segundo.
Respirou fundo e obrigou a fisiologia a voltar ao normal.
Como uma atleta de endurance.
Afinal, na vida, não passamos de candidatos a corridas de fundo.

Si non è vero, è bene trovato

As iludências aparudem

Efeméride

Este não é o destino
que penso que mereço;
não é a fortuita paisagem
de um dia de Verão!
Este não é o sintoma
de uma falta de saúde:
será, talvez, a força
determinada do futuro.
Pela força de vontade
eu voltarei a olhar-te(!)
como uma estúpida
efeméride... nada mais.

Poesia de Paula Raposo

Barriga denunciadora...


Webcedário no Facebook

27 dezembro 2010

Grandes questões da humanidade

Como é possível que nenhum realizador de películas porno tenha conseguido reunir no mesmo elenco a Linda Lovelace e o John Holmes?

(E estando provado que a indústria porno aponta para um segmento predominantemente masculino, como se explica o imenso sucesso dos actores melhor equipados para os grandes planos?)

Acto Violento

Maria sentia as mãos fortes no pescoço, a apertar a traqueia, a impedir o normal fluxo de ar que deve viajar para garantir a vida. A cara, empurrada violentamente contra a parede do prédio, atrás dos elevadores velhos fica marcada pela parede rugosa e estragada; um torpor generalizado assalta-a e endurece-lhe os músculos dificultando os movimentos.
A blusa, branca e fina, a permitir observar a silhueta de um peito nu é puxada por trás, arrancada pelos botões que cedem à força do indivíduo que a deseja e manieta. Depois da garganta, são os seios de Maria que sentem o apertar descuidado do homem que a empurra e parece aumentar o seu desejo proporcionalmente à violência do acto.
De mão esquerda nas suas costas a aprisionar todo o corpo contra a parede, o homem levanta a sua saia e acaba o que começou minutos antes.
Maria contorce-se e gira sobre ela balbuciando palavras, de olhos cerrados, de corpo tenso na média luz que a envolvia; o despertador toca; Maria levanta-se com um sorriso de ter vivido uma experiência rara...

Renault twingo Sport - «drag queen»

Como diz a lady.bug, "this is so Gay Pride :D (muitíssimo bem esgalhado!)".
Eu? "Digo... linda! Digo... papá lindo! Digo... papá linda!"

Renault Twingo

A lady.bug, que descobriu esta pérola, ouviu dizer que a RAI baniu este anúncio:

26 dezembro 2010

Lídia Poema

Quem é ele que adormece o sono,
Lídia, ele, sim, lago que afoga o mar,
ele, o mago do relógio que parte o ar
e me dá só do tempo sem dono;
onde estará o senhor do abandono
que parece nunca me encontrar.
Diz-me, Lídia, do que nunca foge
e amanhã e sempre em cada hora
diz agora, imediatamente, hoje;
diz-me, Senhora, porquê tanta demora?
Quem é ele que se lembra do Outono?

«Terror na madrugada» - por Rui Felício


Há vários anos que a Elisa vivia sozinha num pequeno apartamento da Av. de Roma.
Habituara-se a essa vida solitária e, apesar de as notícias de assaltos serem cada vez mais frequentes nos últimos tempos, não tinha medo.
Contudo, naquela madrugada, acordou sobressaltada, com a respiração ofegante.
Sentia uma mão a pressionar o seu seio esquerdo. Na escuridão do seu quarto, pensou que alguém tinha invadido o apartamento.
A prova disso era aquela mão que cada vez mais lhe pesava no peito, enclavinhada no seio. Aterrorizada, manteve-se imóvel, tentando raciocinar e perceber quem seria o intruso que estava ali ao seu lado, apalpando-a!
Pensou em gritar, pedir por socorro, mas teve receio que isso pudesse levar o assaltante a cometer alguma violência.
Apesar do pavor que a inundava, a verdade é que aquela mão no seu seio nu não denotava violência. Bem pelo contrário! Estranhamente, ao terror mental juntava-se também o prazer físico do toque firme mas delicado daquela mão.
Há tanto tempo que o seu corpo não era tocado, acariciado por uma mão...
O que sentia agora, era já uma mistura de medo e de desejo. O arrepio estendia-se desde o peito até à barriga. O calor invadia-a e instintivamente afastou ligeiramente as pernas...
Encheu-se de coragem, decidiu arriscar, queria ver o rosto do intruso, queria que ele lhe apagasse o doce fogo que a queimava.
Conteve a respiração e, procurando não mover nenhum músculo que denotasse o movimento e o assustasse, foi aproximando lentamente a mão direita, da mesinha de cabeceira, carregou no interruptor do candeeiro e a luz jorrou.
Piscando os olhos à súbita luminosidade, sem se mexer, percorreu a cama e o quarto com o olhar. Não estava ali ninguém! Estava sozinha, não tinha dúvidas...
Mas a verdade é que aquela mão ainda estava pousada no seu seio!
Olhou. Viu então que era a sua mão esquerda, dormente, insensível, onde começava a sentir um formigueiro na ponta dos dedos...

Rui Felício
Blog «Encontro de Gerações»

Perfeito