Saboreio todos os segundos da tua presença aqui. Embebedo-me no teu corpo, que me envolve como se me pertencesse.
Alucinada, vagueio sem rumo, volteando como tonta em torno da minha loucura, e chamo-te 'meu amor'. Acaricio com ternura cada contorno do teu rosto, a minha boca vai seguindo a minha mão e deposita beijos em todas as linhas que percorri.
Deixo-me ficar incontida e louca, apoiando-me no teu ombro, durante todas as horas de todos os dias em que nos amámos.
E assim, cansada na exaustão de nos possuirmos, vou desejar que amanhã estejas de novo presente, para me poderes trazer todas as flores que colheste e guardaste no teu coração.
Vou então, poder devolver-te a chama dos teus olhos vivos quando me amavas, naquele silêncio que era só teu....nesta ânsia premente do futuro incondicional.
Texto de Paula Raposo
21 maio 2011
20 maio 2011
Monstrinha
Talvez não nos falte bondade. Talvez não nos falte empatia. Talvez não nos falte amor no coração, piedade nas mãos, vontade de abraçar. Talvez ninguém seja mesmo cego, talvez nem nos falte a vontade de ver. Talvez seja uma questão de paciência; talvez seja o nosso único pecado, a nossa única falha no castanho dourado, liso, quente, na superfície da nossa madeira, a falta dela, da paciência, uma pequena falha, rugosa, pontiaguda, pica, arranha. Só isso. É porque há muitos semáforos, demasiados semáforos, por lá se esticam mãos abertas, engasgamo-nos, constantemente, a cada quinhentos metros de cidade em olhos que pedem e imploram, em batidas insistentes no vidro da janela, para que abra, para que compre, para que dê, para ouvir da fome, da dor, do frio, dos filhos, lavagens forçadas ao pára-brisas, espuma pelos olhos adentro, arde, arde, a cara vira-se, não tenho, não tenho, não tenho, dinheiro, cigarros, não abro, não. São demasiados, muitos, muitos, incontáveis semáforos. Os semáforos, sim, as pessoas nunca são demais, nós somos bons e as pessoas nunca são demais mesmo quando são mendigos ou marginais, os seres humanos são bons, piedosos, caridosos, atentos, calorosos. Os seres humanos são bons, piedosos, caridosos, atentos, calorosos, meu Deus, a culpa não é nossa ou dos outros, a culpa é dos semáforos, meu Deus, por favor, por favor, peço-te, na tua enorme generosidade, no teu imenso Amor, acaba com todos esses semáforos. Deixa-me só um, um apenas, um que me lembre que eu e as palavras somos o pedinte e o semáforo e o marginal e o semáforo para cada dia batermos mais na janela, para cada dia pedirmos mais.
e eis o que encontro no Museu Reina Sofia (Madrid)
coisas perversas. diz que é surrealismo e não sei quê!
e na rua até se encontra o preço a que está... o broche!
19 maio 2011
ARDILmente
« Gosto de sentir cada um dos teus dedos. É única e perene a fluência dos seus movimentos, por detrás da explosão.
Na noite, o sítio nasce e um rio acende-se no meio das palavras.
Nu lugar...!
Estou aqui, enquanto os como. Debruça-se o polegar. A tua pupila a escorrer de olhos em par. Todo vergando fogo. Chamejam movimentos. Paredes em transe. Visões explodem em cada um dos nossos espelhos.
Hipnótica, afunda-se a ostra, no teu olhar, que se ergue sobre mim antes da batalha...»
[Blog Vermelho Canalha]
Amistad
Se a juventude nos faz viver as coisas de um modo leve e descomprometido, à medida que a idade avança, a maturidade permite-nos olhar para a vida sob outro prisma, clarificar aquilo que queremos ou, quanto mais não seja, dá-nos a noção clara, daquilo que não queremos...
Por estranho que pareça, chego a esta provecta idade com um número restrito de amigos. Ao contrário do que pode fazer crer a banalização da palavra "amigo", hoje endeusada indiferentemente para definir toda a espécie de contacto humano, dos meros conhecidos aos magoados ex-amantes, a amizade é a mais exigente das relações humanas. Por outro lado, quando a amizade do amor se esgota, resta-nos a fidelidade dos amigos que supomos à prova de desgaste, porque não é feita do frágil tecido do desejo.
Que o comportamento natural do ser humano é estar aberto à vida e ao amor, já todos sabemos...só que entretanto, a estrutura genética faz-nos acreditar que não é assim, que devemos estar fechados e desconfiados. No entanto, uma parte da personalidade é composta por condutas aprendidas, sobre as quais é possível actuar e, por conseguinte, modificar. Mas também se temos de aprender a viver com as heranças do passado, por muito pesadas que sejam, os pesos do presente, podem sempre ser descartados ou minorados se nos esforçarmos nesse sentido.
Novidade - preservativo com Viagra
A Futura Medical vai, em breve, avançar com o fabrico em série do novo preservativo da Durex, com um gel no interior que aumenta o fluxo sanguíneo e, consequentemente, a gaita fica mais rija que uma feita pelo Chico das Piças, com a vantagem de não se quebrar.
18 maio 2011
Sem alma pioneira
Gosto de me acreditar uma pila de bem, cumpridora da lei, atinada.
Porém, existe uma parte de mim que se deixa influenciar pelo coiso que trago agarrado e nem sempre o gajo é boa influência.
Sim, apesar de ser uma pila decente (excelente, segundo dizem) tenho no meu percurso a mácula de crimes que pratiquei de forma involuntária, apanhado de surpresa pela iniciativa do coiso agarrado a mim e sua natureza marginal.
Sei que não há duas passarinhas iguais, são como as impressões digitais e existe sempre um detalhe que as distingue do resto da passarada. Ouvi até contar que as há mais renitentes, inacessíveis, sem contacto conhecido com qualquer piroca!
Claro que julguei tratar-se de um mito urbano. Mas naquele dia o coiso agarrado a mim enfiou-me, desprevenido, numa dessas fortalezas com portão reforçado. Aquilo parecia um mostruário ambulante da Securitas. E eu percebi logo que estava metido onde não era chamado, aquela passarinha tinha o caminho barrado e cabia-me, só o percebi nessa altura, a tarefa de literalmente arrombar a porta e tomar de assalto o espaço que, estando assim vedado, era com certeza proibido e por isso ilegal.
Quase desfaleci quando me percebi metido na boca da loba (a boca em sentido figurado, claro) e sem hipótese de bater em retirada sem me comprometer enquanto cúmplice do coiso que me empurrava contra a muralha defensiva com menos aceleração, é certo, mas com o mesmo vigor a que me habituara.
Fiquei ali sem saber muito bem o que fazer, mas às tantas percebi que já estava mergulhado no esquema até às orelhas (em sentido figurado também, naturalmente) e mais valia tratar do assunto quanto antes, para evitar ao máximo ser apanhado com a boca na botija ou a coisa agarrada à passarinha desatar práli aos gritos como já me tinha acontecido tanta vez.
Bom, lá acabei por consumar o assalto à piroca armada e quebrei as defesas daquele bastião anti-piroca. Mas só eu sei o que me custou, aquela tensão permanente, o medo de ser apanhado por algum sistema electrónico de vigilância (uma piroca às escuras não consegue topar, por exemplo, uma webcam lá instalada) e aquela sensação desconfortável de não se saber se no meio de tanta cabeçada no portão não se deu cabo de alguma dobradiça. Uma nóia, digo-vos eu...
Claro que muitas pirocas não acreditam em mim quando lhes falo desta experiência (não digo que era eu, claro, digo que apenas ia a passar e testemunhei a ocorrência). Dizem que nunca entraram numa dessas passarinhas e acham que não passam de invenções de pilas com pouca rodagem ou com problemas no motor de arranque, desculpas de mau pagador.
Mas eu estive lá e vivi essa aventura marcante, esse momento traumatizante que algumas (muito poucas) pirocas mais batidas diziam ser pintado pelos coisos agarrados a nós como uma espécie de vitória, por serem os primeiros a desbravar esses territórios por explorar.
Mas a mim só apetecia chorar, de remorso.
Pelo menos até ao dia em que a coisa agarrada à tal passarinha telefonou ao meu apêndice a pedir para lá irmos outra vez...
catroguelhos
de Catroga os seus conselhos
neste país de penúria
nem os ouço mas pintei-lhos
num bravo acesso de fúria
de tais pêlos por desvelos
deste mestre em seus espantos
o melhor é assim tê-los
não um nem dois mas sim tantos!
e no recanto sagrado
de purezas tão medonhas
podemos ver sem agrado
que até tapam as «vergonhas»...
Acordar
Dou por mim sentada numa cadeira, as mãos unidas no colo, os olhos fechados e o sono quase me leva; assim acontece quando os pensamentos são quase sonhos; reinvento e acrescento; daqui, nada quereria subtrair.
Ontem não dormi, estou cansada, tenho sono, não faz mal, ouvi-te sonhar acordado a noite inteira, o teu sonho era - sou - eu.
Olho para ti, não sei o que dizer, o laço da ternura na língua e nada chega; tiro a camisola e mostro-te o peito, podes ler-me com o teu corpo, ouvir-me com as tuas mãos sobre mim; faz muito tempo que foste escrito, inscrito, pintado na minha pele, tudo ficou aqui, saberás entender todas estas linhas, elas continuavam a perguntar-se por ti; podes sonhar mais e mais e acordar, todos os dias, sem medo de deixar o sonho no sono, eu acordo também, eu também sonho, eu também acordo aqui.
Ontem não dormi, estou cansada, tenho sono, não faz mal, ouvi-te sonhar acordado a noite inteira, o teu sonho era - sou - eu.
Olho para ti, não sei o que dizer, o laço da ternura na língua e nada chega; tiro a camisola e mostro-te o peito, podes ler-me com o teu corpo, ouvir-me com as tuas mãos sobre mim; faz muito tempo que foste escrito, inscrito, pintado na minha pele, tudo ficou aqui, saberás entender todas estas linhas, elas continuavam a perguntar-se por ti; podes sonhar mais e mais e acordar, todos os dias, sem medo de deixar o sonho no sono, eu acordo também, eu também sonho, eu também acordo aqui.
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