18 maio 2011

Sem alma pioneira

Gosto de me acreditar uma pila de bem, cumpridora da lei, atinada.
Porém, existe uma parte de mim que se deixa influenciar pelo coiso que trago agarrado e nem sempre o gajo é boa influência.
Sim, apesar de ser uma pila decente (excelente, segundo dizem) tenho no meu percurso a mácula de crimes que pratiquei de forma involuntária, apanhado de surpresa pela iniciativa do coiso agarrado a mim e sua natureza marginal.
Sei que não há duas passarinhas iguais, são como as impressões digitais e existe sempre um detalhe que as distingue do resto da passarada. Ouvi até contar que as há mais renitentes, inacessíveis, sem contacto conhecido com qualquer piroca!
Claro que julguei tratar-se de um mito urbano. Mas naquele dia o coiso agarrado a mim enfiou-me, desprevenido, numa dessas fortalezas com portão reforçado. Aquilo parecia um mostruário ambulante da Securitas. E eu percebi logo que estava metido onde não era chamado, aquela passarinha tinha o caminho barrado e cabia-me, só o percebi nessa altura, a tarefa de literalmente arrombar a porta e tomar de assalto o espaço que, estando assim vedado, era com certeza proibido e por isso ilegal.
Quase desfaleci quando me percebi metido na boca da loba (a boca em sentido figurado, claro) e sem hipótese de bater em retirada sem me comprometer enquanto cúmplice do coiso que me empurrava contra a muralha defensiva com menos aceleração, é certo, mas com o mesmo vigor a que me habituara.
Fiquei ali sem saber muito bem o que fazer, mas às tantas percebi que já estava mergulhado no esquema até às orelhas (em sentido figurado também, naturalmente) e mais valia tratar do assunto quanto antes, para evitar ao máximo ser apanhado com a boca na botija ou a coisa agarrada à passarinha desatar práli aos gritos como já me tinha acontecido tanta vez.

Bom, lá acabei por consumar o assalto à piroca armada e quebrei as defesas daquele bastião anti-piroca. Mas só eu sei o que me custou, aquela tensão permanente, o medo de ser apanhado por algum sistema electrónico de vigilância (uma piroca às escuras não consegue topar, por exemplo, uma webcam lá instalada) e aquela sensação desconfortável de não se saber se no meio de tanta cabeçada no portão não se deu cabo de alguma dobradiça. Uma nóia, digo-vos eu...

Claro que muitas pirocas não acreditam em mim quando lhes falo desta experiência (não digo que era eu, claro, digo que apenas ia a passar e testemunhei a ocorrência). Dizem que nunca entraram numa dessas passarinhas e acham que não passam de invenções de pilas com pouca rodagem ou com problemas no motor de arranque, desculpas de mau pagador.
Mas eu estive lá e vivi essa aventura marcante, esse momento traumatizante que algumas (muito poucas) pirocas mais batidas diziam ser pintado pelos coisos agarrados a nós como uma espécie de vitória, por serem os primeiros a desbravar esses territórios por explorar.

Mas a mim só apetecia chorar, de remorso.
Pelo menos até ao dia em que a coisa agarrada à tal passarinha telefonou ao meu apêndice a pedir para lá irmos outra vez...

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