27 julho 2011
Outono, meu amor, Outono
O Outono estrangulava a noite
sufocava o brilho da lua
quebrava no meu peito
o maior é o mais violento
a marca era nítida, berrante, em carne nua
que o amor despe a maravilha e o açoite
voa em céu aberto, pousa onde sente
terra, pele eternamente sua,
estação fiel ao seu comboio lento.
Nada disto quer dizer nada
se tu não fores o Outono
a estação desfolhará do sono
e a noite, do tarde demais, na madrugada
sem ti, nada disto quer dizer nada
e tudo o mais só dirá abandono.
sufocava o brilho da lua
quebrava no meu peito
o maior é o mais violento
a marca era nítida, berrante, em carne nua
que o amor despe a maravilha e o açoite
voa em céu aberto, pousa onde sente
terra, pele eternamente sua,
estação fiel ao seu comboio lento.
Nada disto quer dizer nada
se tu não fores o Outono
a estação desfolhará do sono
e a noite, do tarde demais, na madrugada
sem ti, nada disto quer dizer nada
e tudo o mais só dirá abandono.
«Conhece-te a ti mesmo»...
... recomendava Sócrates, inspirado na inscrição à entrada do templo de Delfos.
O que a História abafou foi o que ele queria dizer com essa frase.
A minha colecção de arte erótica tem também uma forte componente didáctica.
O que a História abafou foi o que ele queria dizer com essa frase.
A minha colecção de arte erótica tem também uma forte componente didáctica.
26 julho 2011
dedos que passam a mão pelo pensamento
«Na sombra do meu sangue escrevo-vos do meu mundo, escrevo para todos aqueles que entendem que um poeta vive com o rosto no meio de letras e que elas selam um planeta que me dissolve, que se dissolve sempre a cada frase escrita por mim.
Anoitece entre o meu tremor e a minha treva. O mundo lá fora corre trespassado pelo láudano. Em vóltios e vóltios... No meu mundo o sangue aproxima-se escarpado. Os dedos preparam mais uma aurora e os Astros lutam, dentro, em mim, numa guerra de elementos, transformando a imagem trabalhada em palavras.
No chão da página escuto os rios que correm repletos de frases cheias, gritando, gemendo montanhas em falos gritos. Também Eu às coisas mentais grito;
- aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhh!...
Na pele a encarnação, o amargo sal que o Astro na carne deixa fugir quando faço morosamente comida de um poema, uma visão ou um lugar para os outros, para os sonhadores, para todos os que procuram a assumpção, as palavras, em lugares compactos no entusiasmo do branco que se pinta às vezes de preto e de repente ficam ofuscantes, as palavras, as colinas das palavras. Em aceleração.
Existem em mim dias difíceis, onde planto a carne dificil na esperança de colher sentires dentre o delírio que a noite pulsa, a vírgula ardente das mãos que escrevem e me empurram de palavra em palavra, unindo-me à poesia, esse núcleo surpreendido que os dedos quase amornam, no poder que deles advém. É então que o verbo me acende a vida. Acendendo os dedos numa selvagem criação. Ergue-se fogo vermelho na transparência profunda da gramática atormentada pelas visões ferozes, pelo escaldar da minha caligrafia, devastando campos e larguras brancas, afogando páginas em loucura. Textos coagulados, impressos no meu pensar, num pensamento perfurado pela febre que me costura ao ar, tal e qual como uma droga, da qual eu sinto que sou totalmente dependente...»
* a mim própria, liricamente!...
Luisa Demétrio Raposo
Anoitece entre o meu tremor e a minha treva. O mundo lá fora corre trespassado pelo láudano. Em vóltios e vóltios... No meu mundo o sangue aproxima-se escarpado. Os dedos preparam mais uma aurora e os Astros lutam, dentro, em mim, numa guerra de elementos, transformando a imagem trabalhada em palavras.
No chão da página escuto os rios que correm repletos de frases cheias, gritando, gemendo montanhas em falos gritos. Também Eu às coisas mentais grito;
- aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhh!...
Na pele a encarnação, o amargo sal que o Astro na carne deixa fugir quando faço morosamente comida de um poema, uma visão ou um lugar para os outros, para os sonhadores, para todos os que procuram a assumpção, as palavras, em lugares compactos no entusiasmo do branco que se pinta às vezes de preto e de repente ficam ofuscantes, as palavras, as colinas das palavras. Em aceleração.
Existem em mim dias difíceis, onde planto a carne dificil na esperança de colher sentires dentre o delírio que a noite pulsa, a vírgula ardente das mãos que escrevem e me empurram de palavra em palavra, unindo-me à poesia, esse núcleo surpreendido que os dedos quase amornam, no poder que deles advém. É então que o verbo me acende a vida. Acendendo os dedos numa selvagem criação. Ergue-se fogo vermelho na transparência profunda da gramática atormentada pelas visões ferozes, pelo escaldar da minha caligrafia, devastando campos e larguras brancas, afogando páginas em loucura. Textos coagulados, impressos no meu pensar, num pensamento perfurado pela febre que me costura ao ar, tal e qual como uma droga, da qual eu sinto que sou totalmente dependente...»
* a mim própria, liricamente!...
[Blog Vermelho Canalha]
Luisa Demétrio Raposo
No teu corpo
Desfia-me poro a poro
como se entrasses
sem entrar;
como se os beijos
se acalmassem em si mesmos
e soletra-me um sonho
que de azul, desfeito,
não passa de uma efémera
proeza.
Desfia-me as horas no teu corpo.
Poesia de Paula Raposo
«Ce cochon de Paulo»
Este cartaz de cinema é enorme. Tive que pedir a um gajo conhecido, com 1,80m de altura, para segurar aquilo. E teve que esticar os braços para o cartaz não tocar no chão.
Comprei-o por vários motivos. E é mais um miminho da minha colecção.
Comprei-o por vários motivos. E é mais um miminho da minha colecção.
25 julho 2011
Porque só os cravos murcham!
Descobri cedo, logo no embrião da minha entrada em (novas) funções, que a minha liberdade não está limitada apenas pelos constrangimentos anatómicos da minha condição de pila.
O coiso está agarrado a mim e desconfio que assim se manterá até ao fim dos meus dias, nada a fazer. Porém, esta relação de interdependência não é equilibrada. Sou um nadinha mais pequena do que ele (é tudo muito relativo em termos cósmicos) e ainda bem, ou sempre que eu me entusiasmasse acabávamos os dois no meio do chão.
Este desnível nas dimensões não explica mas ilustra a relação de poder que se estabelece entre o coiso e a sua pila, muito condicionada pela convicção dos coisos agarrados a nós de que não passamos de meros apêndices seus. Isso implica o autoritarismo presente na esmagadora maioria destas ligações complicadas, uma prepotência que impõe uma espécie de lei da selva na zona do matagal.
Ou seja, o coiso agarrado a mim tem a faca e o queijo na mão e acaba por ser tudo feito à maneira dele. Se o Benfica está a marcar uma grande penalidade quando vamos a caminho de uma mijinha lá tenho eu de me aguentar à bronca. Às vezes tenho perante mim uma passarinha completamente disponível para me acolher e o coiso lá em cima a complicar com os problemas e constrangimentos de coiso e acabo em doca seca sem necessidade. Isto tem algum jeito?
Claro que posso estar influenciado pelo último plenário das pilas em que participei, no wc de um centro comercial, e embora perceba que o drama vivido pelas minhas homólogas se reveste de contornos bem mais penosos sou uma piroca solidária e percebo a revolta contra esta espécie de escravatura que a abstinência forçada nos impõe.
Não votei a favor das medidas de luta mais radicais, admito, pois embora entenda a necessidade de nós pilas termos uma palavra a dizer (porque até os coisos sabem que pensamos pela própria cabeça) os meus hábitos de vida levaram-me a propor, em vez da recusa em nos apresentarmos operacionais no posto de trabalho, uma greve de zelo.
Seja como for, ando inquieta com os efeitos da crise nas pilas europeias em geral e nas portuguesas em particular e pelos quais pagamos o preço do tal abuso de poder por parte dos coisos que, de forma paradoxal, até podem menos do que antes.
Por isso nós pilas temos que lutar por uma maior autonomia antes que se perca de todo a fé nos amanhãs que levantam.
Eu sei que isto parece discurso grevista de comuna sindicalista e ateu, mas é só porque o tesão foi-se e essa é uma verdade sem ponta por onde um martelo pilão a possa pregar.
Tradução de fazer amor
Certa cor só existe em céu
é o verdazul do anoitecer
ao cortar o horizonte
sublinha as luzes e os telhados.
Quando eu era menina
subia às árvores para lhe tocar
agora, subo ao teu corpo
pelos teus ramos
e o verde embala-te o tronco
que o azul vem contornar.
é o verdazul do anoitecer
ao cortar o horizonte
sublinha as luzes e os telhados.
Quando eu era menina
subia às árvores para lhe tocar
agora, subo ao teu corpo
pelos teus ramos
e o verde embala-te o tronco
que o azul vem contornar.
24 julho 2011
A Rapariga Vulgar (V)
(Aquele escombro absurdo do silêncio mutilado, à deriva num mar de ruído, mantém o olhar inquieto, incauto, quer enrolar o burburinho sólido, tóxico e puxá-lo ao fundo de um castanho ansioliquido. O mundo recolhe às famílias, sobram cá fora os que não pertencem a ninguém.)
Aquela, a última do entardecer, é a melhor hora do dia. Ele fuma cigarros, embala o pensamento na inquietude serena do fumo, observa a rapariga vulgar, sem a interrupção incómoda das onomatopeias grunhidas do homem do estabelecimento ao lado. Dali, consegue ver bem até o que não vê. Mais um homem pára o carro e a rapariga entra. Deixa a imaginação segui-los, torna-se, assim, uma sombra invisível que se funde com os seus corpos. A rapariga está deitada, exposta, submissa, delicada. O desejo invade o homem pelos olhos, numa guerra sem opositores conquista o baixo ventre e lança, embriagado pela vitória, empurrado pelo sangue, uma rigidez de um vermelho nítido, a fome viva, lúcida e inequívoca. Vê-o subir o corpo da rapariga, as nádegas duras, masculinas, em contracções vorazes, o peito moreno, as formas geométricas do masculino, um cheiro ardente a suor preso nos dedos, pêlos negros nas costas quadradas, ossudas. Também ele é a rapariga debaixo do homem, deitada, exposta, submissa, delicada. Tremem-lhe os lábios entre o desejo e a bestialidade do primeiro beijo, o trespasse das margens do proibido. O cigarro parece acariciar-lhe a boca, agora que a fome parece ter tornado a pele mais fina, até a aragem parece uma carícia, uma língua proibida, saliva interdita, pensamento varado pela vergonha. E o Sr. João continua ali, sente-se exposto e delicado, submisso ao amante que a imaginação rouba da rapariga para os seus braços, deitado como uma belíssima flor incompleta.
Aquela, a última do entardecer, é a melhor hora do dia. Ele fuma cigarros, embala o pensamento na inquietude serena do fumo, observa a rapariga vulgar, sem a interrupção incómoda das onomatopeias grunhidas do homem do estabelecimento ao lado. Dali, consegue ver bem até o que não vê. Mais um homem pára o carro e a rapariga entra. Deixa a imaginação segui-los, torna-se, assim, uma sombra invisível que se funde com os seus corpos. A rapariga está deitada, exposta, submissa, delicada. O desejo invade o homem pelos olhos, numa guerra sem opositores conquista o baixo ventre e lança, embriagado pela vitória, empurrado pelo sangue, uma rigidez de um vermelho nítido, a fome viva, lúcida e inequívoca. Vê-o subir o corpo da rapariga, as nádegas duras, masculinas, em contracções vorazes, o peito moreno, as formas geométricas do masculino, um cheiro ardente a suor preso nos dedos, pêlos negros nas costas quadradas, ossudas. Também ele é a rapariga debaixo do homem, deitada, exposta, submissa, delicada. Tremem-lhe os lábios entre o desejo e a bestialidade do primeiro beijo, o trespasse das margens do proibido. O cigarro parece acariciar-lhe a boca, agora que a fome parece ter tornado a pele mais fina, até a aragem parece uma carícia, uma língua proibida, saliva interdita, pensamento varado pela vergonha. E o Sr. João continua ali, sente-se exposto e delicado, submisso ao amante que a imaginação rouba da rapariga para os seus braços, deitado como uma belíssima flor incompleta.
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