"As palavras são uma fonte de coisas mal entendidas. E, no entanto, fazem-nos falta. Se não disseres que me amas, mas me segurares o rosto entre as tuas mãos quando me beijas, procurares o meu abraço ou dormires com a perna sobre mim como que para me segurar, parecerá que apenas me tens carinho, por muito colorido ou intenso que esse carinho seja. As palavras, as ditas e as escritas, são fontes de sarilhos, podem interpretar-se de múltiplas formas, mas fazem-nos falta. Faz-nos falta o amor, a paixão, o ser de alguém. As coisas que se dizem no escuro, ou mesmo às claras sob o sol, como querer estar, dizer que se está bem, que se tem vontade.
Mas que palavras poderiam descrever o que sentimos quando as nossas mãos se tocaram pela primeira vez, no escuro? Quando os corações bateram forte naquele abraço ao relento e ao frio? Que palavras podem usar-se quando os olhares se cruzam? E, por fim, que palavras podem segurar as lágrimas que escorrem dos teus olhos? Poupa o nosso tempo. É escasso. Estilhaça-me as vestes, rasga-mas do corpo enquanto te tento agarrar. Depois devolvo-te o carinho e arranco-te o tecido que te cobre, enrolo as meias das tuas coxas até cairem pelos pés, desaperto-te o soutien apenas com dois dedos, e puxo-te pelo pescoço para mim, para te colares, bem vês, assim ao menos não falamos. Não com a boca. Só com as mãos.
Há pessoas que não precisam de uma razão. De um motivo. Já têm duas razões fortes. Por tudo. E por nada. Há pessoas assim, que não passam, que entendem os nossos silêncios, que descodificam os nossos olhares, que sabem o que vamos pensar ainda antes de o pensarmos. Há pessoas com quem as palavras fazem pouca falta. E, ainda assim, há que as usar aqui e ali. Para que não pareça que é só carinho, ou que é coincidência, ou que o acaso pregou ali uma partida, ou duas. Se não me disseres que me amas, pensarei que é só um gosto muito grande em me ver. Se não disseres que queres foder-me, pensarei que é apenas um acidente, que tropeçaste sobre mim. Se não disseres o meu nome, pensarei que é o meu discurso, e não o meu ser. Há pessoas que não passam. Nunca. Com ou sem palavras."
João
Geografia das Curvas
07 agosto 2013
Postalinho da Rua dos Budas
"Passei na Rua Budas e havia esculturas além de pinturas rupestres.
Esta Rua é na Aldeia de Gondramaz / Miranda do Corvo / Lousã.
Abraço"
Luis Garção Nunes
Esta Rua é na Aldeia de Gondramaz / Miranda do Corvo / Lousã.
Abraço"
Luis Garção Nunes
«conversa 2007» - bagaço amarelo
Ela - Estou outra vez solteira.
Eu - A sério?!
Ela - Sim. Eu e o Daniel acabámos ontem.
Eu - Então?
Ela - Então... eu sou muita mulher para ele. Ele não aguentava comigo...
Eu - Não acho que sejas mais pesada do que ele...
Ela - Bem, vou embora.
Eu - Já?!
Ela - Sim. Estar a falar contigo ou com uma parede é a mesma coisa.
Eu - Lá estás tu.
Ela - Percebes que eu não estava a falar do meu peso, nem do peso do Daniel?!
Eu - Estavas a falar de quê?
Ela - Estava a falar da maneira de ser. Ele não aguentava com a minha maneira de ser.
Eu - Pronto, desculpa. De qualquer maneira vai dar ao mesmo.
Ela - Ao mesmo?!
Eu - Sim. Também não acho que sejas mais chata do que ele.
Ela - Às vezes pergunto-me porque é que continuo a ser tua amiga...
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
«Gustav Klit» - uma versão d'o Amigo de Alex para «o beijo», de Gustav Klimt
Montagem d'O Amigo de Alex
" É um 2 em 1. Juntei o rapaz d'O Beijo com a senhora do Retrato de Adele Bloch-Bauer e fiz um up-grade à obra do Klimt"
06 agosto 2013
Mora aqui
Foto: Epentesis
É aqui que tudo começa. Aqui te peço que mores. Mora aqui. Bem aqui no meu pescoço. Percorre-o. Arrepia-me e repousa. Afunda-te bem aqui. Enrola com firmeza os meus cabelos nas tuas mãos e mergulha no meu pescoço fazendo-me submergir num mar vasto de sensações que nunca antes conheci. Aqui, neste pequeno espaço de pele habita um baú de sensibilidades que me elevam e afastam da realidade concentrando-me apenas no prazer. Gosto deste pequeno lugar. Tem charme na sua curvatura e esconde um íntimo nevrálgico. É fascinante e seduz-me e seguro-o nas minhas mãos quando beijo e abraço.
Mora aqui.
«Escrita» - Susana Duarte
e detenho as cores nos olhos de mar
derreto águas sobre o papel dos sonhos
e reajo ante a sonora invasão dos rios agitados
onde a alma se revê, renasce, escreve, habita, é.
derreto as névoas intemporais do sonho
e habito-te, na serena calada da noite,
véspera de todas as manhãs, amplitude
de todas as cores que ainda serás no peito.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Pintura de Margarida Cepêda
Lucia Casati - «Nudo erotico»
Óleo sobre tela - 2000? - 90x61cm
Como adoro a língua dos italianos (e das italianas), deixo aqui o texto explicativo original desta belíssima pintura da minha colecção:
"Lucia Casati (Emilia Romagna, 1939 – Firenza, 2004) è stata una pittrice italiana. Di origine romagnola, si iscrisse inizialmente all' Accademia delle Belle Arti di Bologna. Ottenuta una borsa di studio, si trasferì a Parigi e poi Firenze dove eserciterà la sua attività artistica fino alla morte. Nel 1967 è presente all´Esposizione Universale di Parigi. L’anno seguente viene organizzata a Venezia una sua mostra retrospettiva che si ripete nel 1970. Con questi quadri luminosi partecipa alle mostre nazionali e internazionali dove riscuote un grande successo di pubblico. I quadri in esami, possono essere considerati le finestre sulla realtà, una realtà lontana nel tempo, che l’artista comprende umanamente, la vive, la subisce, perché i suoi sentimenti vanno oltre il muro della semplice analisi del tela.
Le suoi passioni, le miserie, le speranze, egli non si ferma ad osservarle, ma le vive dal di dentro. Nella capitale francese si interessò alla pittura post-impressionista; successivamente rientrò in Italia e si stabilì a Firenze, dedicando la propria opera alla raffigurazione dei paesaggi, ritratti. Le sue opere sono conservate in importanti musei e gallerie (Antichita´ Veneziana) in Italia e all´estero."
Como adoro a língua dos italianos (e das italianas), deixo aqui o texto explicativo original desta belíssima pintura da minha colecção:
"Lucia Casati (Emilia Romagna, 1939 – Firenza, 2004) è stata una pittrice italiana. Di origine romagnola, si iscrisse inizialmente all' Accademia delle Belle Arti di Bologna. Ottenuta una borsa di studio, si trasferì a Parigi e poi Firenze dove eserciterà la sua attività artistica fino alla morte. Nel 1967 è presente all´Esposizione Universale di Parigi. L’anno seguente viene organizzata a Venezia una sua mostra retrospettiva che si ripete nel 1970. Con questi quadri luminosi partecipa alle mostre nazionali e internazionali dove riscuote un grande successo di pubblico. I quadri in esami, possono essere considerati le finestre sulla realtà, una realtà lontana nel tempo, che l’artista comprende umanamente, la vive, la subisce, perché i suoi sentimenti vanno oltre il muro della semplice analisi del tela.
Le suoi passioni, le miserie, le speranze, egli non si ferma ad osservarle, ma le vive dal di dentro. Nella capitale francese si interessò alla pittura post-impressionista; successivamente rientrò in Italia e si stabilì a Firenze, dedicando la propria opera alla raffigurazione dei paesaggi, ritratti. Le sue opere sono conservate in importanti musei e gallerie (Antichita´ Veneziana) in Italia e all´estero."
05 agosto 2013
«pensamentos catatónicos (293)» - bagaço amarelo
Fui até lá de bicicleta e, para ser sincero, nem sequer sei bem onde estou. Não sou dali, daquele subúrbio de Aveiro onde nunca estive antes, e o bêbedo sabe-o. Eles conhecem-se bem, tão bem que um copo cheio de vinho tinto aparece subitamente em cima do balcão.
Estou a escrever na minha imitação de moleskine, mas ainda nem sei bem sobre o que estou a escrever. Tenho algumas frases que talvez venham a dar alguma coisa. Ou talvez não, penso.
- A poesia é sempre erótica! - diz o bêbedo.
Eu rio-me. Desconfortável por ele estar a olhar para mim, mas rio-me.
- Quando escrevemos poesia fazemos Amor com as palavras! - insiste ele.
Continuo a rir, embora tente engolir o riso.
- Eu sou bêbedo porque nunca fui bom a fazer Amor com as palavras! - conclui.
O homem serve-lhe outro copo, que ele bebe duma só vez. Dá-me uma pancadinha nas costas e vai-se embora. Eu rio-me, mas fico a pensar no que ele disse. Também peço um copo de vinho.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Luís Gaspar lê «Adeus» de Eugénio de Andrade
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor…,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas .
Adeus.
Eugénio de Andrade
pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005). Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor…,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas .
Adeus.
Eugénio de Andrade
pseudónimo de José Fontinhas (Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005). Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade sempre viveu distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
04 agosto 2013
"Aposto em como te consigo beijar sem te tocar com os lábios"
Cena do filme Fora de Rumo («Derailed»), de 2005, com Charles Schine (Clive Owen) e Lucinda Harris (Jennifer Aniston).
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