Fui até lá de bicicleta e, para ser sincero, nem sequer sei bem onde estou. Não sou dali, daquele subúrbio de Aveiro onde nunca estive antes, e o bêbedo sabe-o. Eles conhecem-se bem, tão bem que um copo cheio de vinho tinto aparece subitamente em cima do balcão.
Estou a escrever na minha imitação de moleskine, mas ainda nem sei bem sobre o que estou a escrever. Tenho algumas frases que talvez venham a dar alguma coisa. Ou talvez não, penso.
- A poesia é sempre erótica! - diz o bêbedo.
Eu rio-me. Desconfortável por ele estar a olhar para mim, mas rio-me.
- Quando escrevemos poesia fazemos Amor com as palavras! - insiste ele.
Continuo a rir, embora tente engolir o riso.
- Eu sou bêbedo porque nunca fui bom a fazer Amor com as palavras! - conclui.
O homem serve-lhe outro copo, que ele bebe duma só vez. Dá-me uma pancadinha nas costas e vai-se embora. Eu rio-me, mas fico a pensar no que ele disse. Também peço um copo de vinho.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»