14 fevereiro 2014

«conversa 2063» - bagaço amarelo (especial dia dos Namorados)

Ela - Este mês deprime-me.
Eu - Porquê?
Ela - Por causa do Dia dos Namorados.
Eu - Ah! Eu não ligo nada ao Dia dos Namorados...
Ela - Eu também não ligava quando tinha namorado. Agora, como não tenho, ligo. Percebes?
Eu - Mais ou menos...
Ela - Quando esse dia chega, lembro-me sempre que estou encalhada há mais de três anos.
Eu - Encalhada?! E não te lembras disso nos outros dias?
Ela - Lembro-me com mais intensidade nesse dia.
Eu - Não me parece um problema grave, para ser sincero.
Ela - Não te parece, porque não és uma mulher de quarenta anos que todos os dias se vê ao espelho e nota que está a envelhecer à velocidade da luz.
Eu - Não me vejo ao espelho quase nunca...
Ela - Sabias que és irritante?!
Eu - Porquê?
Ela - Porque respondes a tudo como se nada tivesse importância. Ao menos podias fingir que me compreendes.
Eu - Está bem, desculpa. De facto estás a envelhecer muito depressa e deve ser lixado não teres namorado há três anos.
Ela - Estou quase a estrangular-te!


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Postalinho de numa casa portuguesa ficar bem


13 fevereiro 2014

«In Paradisum» - filme completo (33 minutos)


IN PARADISUM (Original Full Length Version) from video audio 2010 on Vimeo.

Tempo de chuva

Thomas McKeller por John Singer Sargent (1917)

Tem o corpo muito jovem, suave, quase feminino. Apenas uma penugem  a emoldurar-lhe o sexo e a cobrir-lhe as pernas, as coxas perfeitas, morenas, atraentes.
Paga o triplo ou pelo menos assim o insinua. Quer experimentar o que o seu preenchido rol de “perversões” não tem ainda inscrito.
O D. prontifica-se. É agradável perceber que o “triplo” não será dividido por dois. O D. diverte-se de forma gratuita.
Excita-me pensar no modo como o gigantesco homem vai acrescentar o desejado à lista do rapazinho mimado e fico surpreendida com a ausência de qualquer hesitação no rapaz, nu, de sexo semi-erguido, com olhos cravados no potente pénis daquele que sorri sentado no sofá, à espera da descida da vítima.   
Coloco-me na frente do desejo. Quero ver com nitidez o sofrimento que provoca a ousadia virgem.
O pénis do D. é maciço. Tem um diâmetro invulgar e, apesar das dimensões, é perfeito. Sem intumescidas veias, grossos troncos latejantes. A curvatura é excelente e a glande toca-lhe o umbigo sem qualquer dificuldade.
O rapaz vira-lhe as costas e desce lentamente abrindo as nádegas com ambas as mãos. O D. vai guiando a erecção lubrificada até encontrar a rota que pretende. Lentamente o sexo do homem mergulha no ânus do rapaz que titubeia.
Preocupa-me o ranger dos dentes, o tremer das pernas e o amordaçar dos gritos. Assusta-me o sorriso do D. que continua a fazer desaparecer o pénis no corpo do sofrido.
Aproximo-me e sussurro-lhe:
- Se não aguentas, o D. para imediatamente.
Olha para mim como um carneiro imolado. Tenta sorrir, mas as investidas do D. não permitem expressões de felicidade pura. É dura a alegria que o homem lhe vai dando.  
- Não! Arde muito, mas gosto.
Descansa-me a coragem do empalado.
Os impulsos do D. vão abrandando. O rapaz oscila, quase suspenso, cravado no sexo que vai surgindo e vai desaparecendo agora já sob o seu comando. Procura masturbar-se, mas o pénis assustado perante a invasão avassaladora, esconde-se, tímido.
O D. encosta as costas do jovem ao seu peito e coloca-lhe os pés nas suas coxas abertas. Sempre adivinhou o que eu queria! Tenho agora a visão plena privilegiada da penetração e ao meu alcance um pénis encravado, bruto e suculento e outro assustadiço e bamboleante.
A minha mão percorre o corpo dos dois. Viaja pelos testículos dos homens até sentir o latejar inseguro do que se habituou depressa a ter o ânus preenchido. É fácil despertar a bela adormecida, porque nada faz perder o sono com tanta eficácia do que ser sacudido por marés de sexo.
Sinto-o morder os lábios, gemer, uivar e guinchar enquanto é penetrado e masturbado. Sinto-lhe o sexo endurecer furioso entre os meus dedos, o acelerar dos solavancos e percebo-lhe os testículos a subir e a contrair. O jacto de esperma atinge-me o peito ao mesmo tempo que o suspiro cavernoso do jovem em êxtase.
O D. retira o pénis e a sorrir, num manuseio rápido, ejacula encostado aos testículos do rapaz saciado.
Depois de um duche rápido vai ter de se submeter a mim.
Há que encontrar modos de esquecer a chuva! 

O cio das cerejas  - Camille    
   

150 calendários de bolso

Maioritariamente publicitários e de humor, alguns com roupas que desaparecem com o calor ou passando um dedo húmido (humedecido em saliva, na falta de melhor...), fazem parte da colecção de arte erótica «a funda São».


Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

Eva portuguesa - «Enlouquecer»

Sinto-me a enlouquecer.
Olho em meu redor e tudo me parece estranho, trocado, desajustado.
Já não reconheço as pessoas. Nem a forma como se comportam. Nem aquilo que dizem.
Parece que estou num filme de Woody Allen, em que não se percebe a sequência, a lógica, o contexto nem o enredo.
Sinto-me a viver uma má trip,em que tudo e todos os que me rodeiam estão desfocados, descontextualizados. Os seus lábios mexem mas as palavras que ouço não são as que estão a ser ditas. Os seus corpos movem-se mas de forma contrária ao que seria natural.
Quem sou eu e o que faço aqui?... Ou melhor, o que sou eu; que papel represento neste palco insano?...
Pessoas entram e saem neste teatro de forma aparentemente aleatória. Mas todas me olham, me apontam, me criticam e me julgam... Quem são estas pessoas que, apesar de fisicamente não me serem estranhas, não as reconheço?... E o que querem de mim? O que devo fazer? O que esperam que faça?...
Vejo partir sem razão nem explicação aqueles que prometeram ficar.
Vejo chegar aqueles que sempre quis ter longe e nunca pretendi conhecer.
E, como que amarrada por correntes invisíveis, sinto-me impotente para contrariar esta cena mal concebida do teatro da minha vida.
Já nem a mim me reconheço... procuro-me e não me encontro... deveria ser a actriz principal desta peça mal escrita. Mas sou uma mera espectadora. Sem voz. Sem acção. Sem reacção.
Não me encontro e tento encontrar-me em ti. Mas tu também não estás. No teu lugar vejo uma sombra imóvel de contornos indefinidos, que apesar de ter o teu cheiro e usar a tua voz, em nada mais se parece contigo.
Tento gritar mas o som não se ouve. Quero fugir mas as pernas não me obedecem. E à minha volta dezenas de vultos conhecidos tentam parecer a realidade do espectro que representam. Sons imensos, infindáveis e imperceptíveis rebentam-me os ouvidos.Caminhos que esbarram em portas fechadas.
Estou a sonhar, penso. Um pesadelo demasiado realista mas que, se fechar os olhos com força e tapar os ouvidos, vou conseguir sair dele; vou voltar a acordar e tudo voltará a ser como era.
Mas não, não consigo sair daqui... Onde estou, meu deus?... E porquê?...
Estou louca, só pode ser isso. E é a minha loucura que me faz ter esta percepção distorcida da realidade.
Porque o que vejo, oiço e sinto agora não pode ser a realidade. É a antítese de tudo o que era real. Ou que eu julgava ser real.
Meu deus, meu deus, o que se passa comigo? Que mundo horroroso é este onde acordei agora? Como vim cá parar? Que mal fiz eu?
E onde estão os meus? Aqueles que diziam amar-me? Os que me procuraram quando precisaram, os que comeram à minha mesa, aqueles com quem partilhei os meus sonhos, medos e fantasias? Onde estão aqueles que prometeram estar sempre ao meu lado e nunca me abandonar? Onde estão aqueles que eu prometi amar? Quero acarinhá-los, quero fazer com que se sintam seguros e assegurar-me que nunca virão para este lugar perdido.
Vejo tantos e não reconheço nenhum.
Vejo tudo e não reconheço nada.
Não há outra explicação. Estou a enlouquecer...


Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

12 fevereiro 2014

«Marca!» - João

"Dois zero zero um. Acredito que a paisagem, sobretudo ao amanhecer, fosse um dos pontos altos ali. Mas a temperatura estava baixa, e a humidade muito alta. E havia um nevoeiro cerrado que não deixava ver um palmo à frente da janela. Mas isso era indiferente. Eu não queria ver sequer um palmo à minha frente do lado de dentro da janela, a distância entre nós tinha de ser menor que isso. E era. Quiseram explicar-nos todos os botões e recantos, se interesse houvesse admito até que nos contassem a história do país desde a fundação, mas o interesse era apenas na nossa solidão, e o recato que nos impediu de correr os excessos dali para fora a pontapé, foi o recato que não tivemos quando nos empurrámos um contra o outro quebrando a promessa do “agora não”. A adrenalina que tivera quando recebera a ordem tinha ficado condensada na minha reacção. Cacete! Não me sinto limitado no vocabulário e no entanto tudo quanto arranjei foi um exclamado cacete, sabe-se lá porquê, talvez pela incredulidade. Senti as tuas mãos nas minhas costas. Virei-me para que não percebesses que estava acordado. Não conseguia dormir, e tu sabes porquê. Queria cuidar de ti, mas não tinha como. E a cada hora que passava admirava-te mais, e ainda não parei de admirar."
João
Geografia das Curvas

Montanha gay - "homenagem" aos jogos olímpicos de Sochi

«respostas a perguntas inexistentes (265)» - bagaço amarelo

o edifício

Era estudante e estava sentado num muro à espera dum colega meu, na cidade do Porto. À minha frente uma série de prédios, relativamente recentes, pareciam alinhados para admirar a Lua cheia que surgira por trás deles. Nas ruas não havia quase nenhum movimento pedonal, mas sobravam automóveis para dar e vender.
Enquanto os prédios olhavam para a Lua, eu olhava para eles. As luzes interiores davam sinais de vida a um ritmo lento e, das janelas mais baixas, era possível ouvir alguns sons domésticos. As famílias que ali moravam começavam a jantar e eu, sozinho, continuava à espera que o meu colega chegasse. Dei-me conta de que, instintivamente, imaginara a vida de todas aquelas pessoas duma forma estereotipada. Para mim, todas as famílias que ali moravam eram compostas por um casal heterossexual e um ou dois filhos, com a mulher de avental e o marido a chegar a casa um pouco depois dela, já com a janta na mesa. Todos discutiam temas banais, como a política de panfleto ou um jogo de futebol qualquer.
O meu colega acabou por não aparecer e eu, sem perceber exactamente como, fiquei ali até os edifícios se confundirem com o céu escuro e cada uma das minhas famílias estereotipadas adormecer. A verdade é que não dei pelo tempo a passar.
Na noite seguinte saí com alguns amigos e fui a um bar perto da Ribeira que eu gostava muito. Era calmo o suficiente para se poder ter uma conversa e movimentado quanto baste para não nos sentirmos isolados do mundo. Quando me virei para o balcão, para pedir a segunda cerveja, uma mulher que estava noutra mesa levantou-se e veio ter comigo. Perguntou-me se tinha sido eu a passar a noite anterior inteira sentado num muro que dava para a janela dela. Que sim, respondi, e expliquei-lhe a história toda.
Também ela me tinha visto da mesma forma estereotipada. Estando eu ali, toda a noite sozinho em frente a um edifício, só podia estar apaixonado por alguém que não me ligava nenhuma. Estaria numa de sofrimento, à espera que um milagre se desse e a minha paixão viesse à janela.

- Estava só à espera dum colega que não apareceu... - disse.

Eu e a Ana ficámos amigos. Provavelmente, e digo isto sem certezas, vivemos uma amizade tão intensa quanto incomum. Sei que sempre que entrei na casa dela, durante os anos em que fomos próximos, pensei em como a minha percepção da vida naquele edifício tinha sido errada. Quanto mais não seja, a Ana mostrou-me isso. Agradeço-lhe.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

o atelier de costura de Mamãe Sabel


11 fevereiro 2014

Os Jogos Olímpicos sempre foram um pouco gays...

Campanha do Canadian Institute of Diversity and Inclusion (Instituto Canadiano da Diversidade e Inclusão) contra a interdição de propaganda gay na Rússia.

Eu gosto de moquecas

Todo eufórico por ter almoçado uma moqueca de peixe. Tenho a vida sexual numa lástima...

«Genciana» - Susana Duarte

queria uma palavra azul para te descrever as sílabas que, de ti, vejo sair,
como aves que exploram o infinito. trémulas, no início, inseguras da paixão;
seguras quando, eternas, se deitam na minha mão e atingem o seu devir.

eu e tu somos uma flor gamopétala.

descreves em mim linhas. voas-me nos dedos das pálpebras dos sonhos
e procuras-me, no rosto, o sorriso crescente da estranheza-encantamento;
seguras-me as mãos quando navego à procura de sílabas e de medronhos
que descasco, um a um, nas mãos que ocupo com a imagem do teu lamento
quando a vida, por breves momentos, tolheu de nós as palavras e os voos.

eu e tu somos uma flor gamopétala.

escrevemos páginas de sonhos em folhas de flores azuis e em sombras
de noites irrequietas. Sábias são as cores místicas do sonho – horizonte
onde as asas encontram as sílabas e as sílabas se tornam o teu nome…
és a palavra que nunca se esconde, a floresta de árvores sem penumbras
onde me deito, aliada das asas de um anjo como se o anjo fosse a fonte
da vida quem em mim almejas. em mim, tiras a sede e matas a fome.

eu e tu somos uma genciana azul.

do azul-maravilha e espanto, nasceu uma ilha e a terra de uma sonolência
serena, que nos transformou na etérea luz de uma sombra chinesa, onde
nos escondemos para viver a esplendorosa cor azul-onírico de palavras-sonho.

Eu, e Tu, somos o Sonho consubstanciado no encontro das marés,

e na confluência dos toques,

e nos remos.



Susana Duarte
«Pescadores de Fosforescências»
Alphabetum, Edições Literárias
Dezembro de 2012
Foto pessoal
Blog Terra de Encanto