"Olá, São
Achei interessante para a página"
Pedro MCV
04 março 2015
03 março 2015
... Até ti
Tacteio o caminho às escuras, no ponto de partida para um caminho feito incógnita cheia de pontos de interrogação. Avanço com os pés bem assentes no chão, cauteloso. Um passo atrás e dois adiante, como dizem melhor. Desconfiado, receoso pelos inúmeros esconderijos possíveis no meio da escuridão, da ignorância acerca da pretensão de quem surja nos cruzamentos.
A hesitação em todos os momentos abalados na coerência pela força da evidência que o raciocínio inventou, os olhos como bode expiatório inocente por pouco ou nada conseguirem ver assim. Às cegas naquele troço do caminho até um ponto indeterminado, um sonho acordado que se confunde com uma miragem no espaço desconhecido, no tempo desprovido de luz.
A penumbra de uma madrugada prestes a expulsar pelo sol que insiste nascer a cada dia que passa, em passo acelerado e sem vontade abrandar. Deixar o tempo passar e acender um cigarro com o isqueiro que explode num clarão. Sombras desenhadas naquele chão mais tangível, iluminado e por instantes visível enquanto solo firme para pisar. Monstros e fantasmas, assombrações alucinadas pelo efeito devastador de uma qualquer obsessão. Desenhadas as sombras naquele chão, ilustrados os medos patéticos de equívocos hipotéticos que podem até nem existir naquele dia tão prestes a surgir sem pressas. Podem ser fruto de uma relação incestuosa entre a cabeça temerosa e o coração bravio.
Uma vela de curto pavio que se transforma no rastilho para uma explosão de emoções quando o vento que a apaga provém de respirações ofegantes de clandestinos amantes na tela da imaginação.
Em cada descoberta o impacto de uma revelação, mais um troço percorrido a direito rumo a um destino incerto, a travessia do deserto humedecida pelo desejo à solta no som da folhagem agitada no oásis a surgir no horizonte cada vez menos distante na realidade como na percepção.
A surpresa e o encanto quando o sol começa a nascer e o dia não tarda em romper os laços com a madrugada que lhe compete expulsar. A luz que permite desvendar mistérios, os pontos de referência agora visíveis à distância num futuro não planeado à partida para aquela estrada que percorro agora quase a correr…
«serei sempre a sombra antiga das aves» - Susana Duarte
dormirei na ponta dos dedos das noites,
onde as aves caminham por entre névoas
e, soltas as asas da paixão, sucumbem
serenas ao brilho das estrelas. dormirei
por sobre as palavras ciciadas pelos dedos,
e por entre as plúmulas leves dos sonhos.
serei sempre a sombra antiga das aves.
é por isso que me escondo nas palavras
sussurradas por aves antigas, e durmo
nas sombras aladas de velhas cantigas.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
onde as aves caminham por entre névoas
e, soltas as asas da paixão, sucumbem
serenas ao brilho das estrelas. dormirei
por sobre as palavras ciciadas pelos dedos,
e por entre as plúmulas leves dos sonhos.
serei sempre a sombra antiga das aves.
é por isso que me escondo nas palavras
sussurradas por aves antigas, e durmo
nas sombras aladas de velhas cantigas.
Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
Mulher africana a aguardar o duche
Estatueta em bronze assinada por P. Leroux.
Junta-se a outras peças únicas deste autor, na minha colecção.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
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02 março 2015
«Amarra-me» - João
"Apetece-me deitar-te sobre a cama. Desta vez, sobre a cama, uma cama qualquer. Apetece-me prender-te, amarrar-te os tornozelos, e deles à cama, de barriga para baixo e esse rabo, esse rabo para cima, para mim,
(e tu ias trincar o lábio)
e as tuas pernas abertas, numa submissão forçada por cordas mas consentida. Apetece-me prender o teu cabelo, para poder segurá-lo, puxá-lo enquanto falo ao teu ouvido,
(e tu a gemer)
e prender os teus pulsos, os teus braços acima da cabeça – e só não tos coloco atrás das costas, desta vez, porque me quero colar a ti – que seguro com a minha mão, para te limitar os movimentos, e ao deitar-me sobre ti, aproximo os meus lábios do teu ouvido e pergunto-te se confias em mim
(sim, confio em ti)
e pergunto o que queres que te faça, enquanto te seguro o cabelo com firmeza, naquele limiar que dispensa descrição
(quero sentir-te dentro de mim, entra, entra por favor)
e pergunto se me amas
(sou tão tua, amo-te tanto)
e eu entro em ti, sem esforço, sem resistência, e
(acelera, acelera)
e tu vens-te, uma vez, mais vezes, e eu venho-me em ti, dentro de ti,
(é tão isto)
e aqueço-te com o meu corpo, beijo-te o rosto, os lábios, o pescoço, e
(amarra-me de novo)"
João
Geografia das Curvas
(e tu ias trincar o lábio)
e as tuas pernas abertas, numa submissão forçada por cordas mas consentida. Apetece-me prender o teu cabelo, para poder segurá-lo, puxá-lo enquanto falo ao teu ouvido,
(e tu a gemer)
e prender os teus pulsos, os teus braços acima da cabeça – e só não tos coloco atrás das costas, desta vez, porque me quero colar a ti – que seguro com a minha mão, para te limitar os movimentos, e ao deitar-me sobre ti, aproximo os meus lábios do teu ouvido e pergunto-te se confias em mim
(sim, confio em ti)
e pergunto o que queres que te faça, enquanto te seguro o cabelo com firmeza, naquele limiar que dispensa descrição
(quero sentir-te dentro de mim, entra, entra por favor)
e pergunto se me amas
(sou tão tua, amo-te tanto)
e eu entro em ti, sem esforço, sem resistência, e
(acelera, acelera)
e tu vens-te, uma vez, mais vezes, e eu venho-me em ti, dentro de ti,
(é tão isto)
e aqueço-te com o meu corpo, beijo-te o rosto, os lábios, o pescoço, e
(amarra-me de novo)"
João
Geografia das Curvas
«conversa 2117» - bagaço amarelo
Ela - Se não sou eu a ligar-te nem te vejo. Nunca dizes nada...
Eu - Tenho estado doente.
Ela - Desculpas!
Eu - Não são desculpas. Tenho estado mesmo com muita febre e má disposição.
Ela - Muita febre?! Quanta?
Eu - Isso não sei.
Ela - Não sabes?!
Eu - Não.
Ela - Tiveste muita febre e não sabes quanta febre tiveste, é isso?
Eu - É. Como não tenho termómetro em casa, nunca tirei a febre.
Ela - Como é que é possível não teres um termómetro em casa?!
Eu - Não tenho. Não costumo ter febre, então nunca me lembro de comprar um...
Ela - Pois, os homens nunca se lembram das coisas essenciais, a não ser quando precisam delas.
Eu - Não gozes. Já me aconteceu ir jantar a tua casa e não teres um simples saca-rolhas para abrir uma garrafa de vinho.
Ela - Estás a querer comparar um saca-rolhas a um termómetro?
Eu - Estou. Um saca-rolhas é de uso diário, um termómetro nem por isso. É mais grave não ter saca-rolhas em casa.
Ela - É de uso diário para ti. Eu só bebo vinho ao fim de semana.
Eu - E eu só tenho febre uma vez por ano.
Ela - Aposto que vais chegar ao próximo ano sem termómetro.
Eu - É possível. Aposto que vais chegar ao próximo jantar sem saca-rolhas.
Ela - É possível.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
01 março 2015
Luís Gaspar lê «Bojudo fradalhão de larga venta» de Bocage
Bojudo fradalhão de larga venta,
abismo imundo de tabaco esturro,
doutor na asneira, na ciência burro,
com barba hirsuta, que no peito assenta:
No púlpito um domingo se apresenta;
prega nas grades espantoso murro;
e acalmado do povo o grão sussurro
o dique das asneiras arrebenta.
Quatro putas mofavam de seus brados
não querendo que gritasse contra as modas
um pecador dos mais desaforados.
“Não (diz uma), tu padre não me engodas;
sempre me há-de lembrar por meus pecados
a noite, em que me deste nove fodas!”
Camilo Pessanha
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa
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