01 março 2015

Luís Gaspar lê «Bojudo fradalhão de larga venta» de Bocage


Bojudo fradalhão de larga venta,
abismo imundo de tabaco esturro,
doutor na asneira, na ciência burro,
com barba hirsuta, que no peito assenta:

No púlpito um domingo se apresenta;
prega nas grades espantoso murro;
e acalmado do povo o grão sussurro
o dique das asneiras arrebenta.

Quatro putas mofavam de seus brados
não querendo que gritasse contra as modas
um pecador dos mais desaforados.

“Não (diz uma), tu padre não me engodas;
sempre me há-de lembrar por meus pecados
a noite, em que me deste nove fodas!”

Camilo Pessanha
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa