27 agosto 2017

«respostas a perguntas inexistentes (355)» - bagaço amarelo

O Amor é tão estranho, pá.

Era um domingo à tarde como outro qualquer, daqueles em que a maior parte das pessoas se dá conta que não sabe o que fazer de manhã, mas quando chega a noite arrepende-se de não ter feito o que devia. Foi assim que tu me explicaste porque é que estavas à janela a ver os carros a passar. Aproximei-me e deste-me algum espaço, como se eu também quisesse ficar ali a contemplar a inércia domingueira da cidade.
Naquela altura havia Amor entre nós, mas não quando estávamos juntos. Era como se o Amor fosse uma terceira entidade que ia dar uma volta sempre que estávamos os dois em casa. Eu passava os meus tempos de solidão a pensar em ti, depois passava o tempo contigo a desejar voltar a essa solidão. Menos quando fazíamos Amor ou tínhamos visitas em casa.
O que nunca te expliquei bem é que não era para estar sozinho que eu queria estar só. Era para me lembrar de ti com a intensidade dessa saudade. Na verdade, acho que tu sentias exactamente o mesmo que eu. Pelo menos passaste a aceitar bem que eu me afastasse para ir ao café, ao cinema ou a outro sítio qualquer, mas telefonavas-me sempre quando a distância entre nós crescia.

- Não quero ficar a tarde toda à janela! - disse-te.
- Então vai dar uma volta. Eu gosto deste calorzinho que passa pelos vidros da janela.

Afastei-me como uma presa na selva que não quer ser vista pelo predador. Nem a bater com a porta fiz qualquer ruído. Caminhei horas a fio pela cidade sem parar uma única vez, nem que fosse para olhar para uma montra. Acho que passei a tarde a falar com as árvores alinhadas das ruas e das avenidas, que me pareciam tão sós como eu, apesar de estarem umas com a outras.
Quando voltei já o Sol aquecia janelas noutro lugar qualquer do mundo e tu não estavas na janela do quarto. Perguntei-me quanto tempo terias lá estado depois de eu sair, mas não encontrei nenhuma resposta no meu pensamento dedutivo.
Estavas na cozinha a tomar café e a comer um pão com manteiga, com o telefone ao lado como se fosse o cadáver de um animal.

- Saíste, mas deixaste o telefone em casa... - disseste.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não... era só para falar contigo.

O Amor é tão estranho, pá.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

«Amamos mulheres!»

Texto cuja autoria desconheço, partilhado pela Luísa Demétrio Raposo e traduzido por mim do Brasilês:

"Amamos mulheres! Desde que elas se depilem totalmente a ponto de parecerem crianças. Sim, vaginas "infantis" são ovacionadas. Nenhum pêlo! Que nojo, mulher com pêlo! Mulher tem pêlo?! A sério?! Depilação com cera, por favor! E finja que não dói.
Amamos mulheres! Essas divas. Mas parto normal, não. Vai estragar o brinquedinho?! Vagina de menininha, certo? Vagina de menininha não é capaz de colocar uma criança no mundo. Cirurgia, por favor!
Amamos mulheres! Com peitos durinhos. Ponha silicone, ora essa! Uma cirurgia a mais, uma a menos, não faz diferença. Peitos que jorram leite para alimentar um bebé?! Isso existe?! Com tanta latinha na farmácia... Não, amamentar, não. Que pretensão é essa de poder produzir o alimento do seu filho? Seca, leite. Você não consegue. Peito é para fins sexuais. Apenas. Servidão.
Amamos mulheres! Que nojo de menstruação... Mulher menstrua?! Sangue?! Ai, vou desmaiar. Esconda esse absorvente. Chiu! Ninguém pode saber que sai sangue de si todos os meses. Tem forma de não menstruar. Vá! Faça isso! Que nojo! Hormonas para dentro. Tá tudo bem.
Amamos mulheres! De barriga chapada: por que razão a sua não é?! Lipoaspiração. Abdominoplastia. Cinta que tira o fôlego. Tudo a seu favor. O que não vale é ter a sua própria barriga. Onde já se viu?! Que audácia, amar os seus pneuzinhos!
Amamos mulheres! Mas essa vagina não é igual à dos filmes porno. Vá lá! Existe cirurgia íntima! O Brasil é recordista mundial em cirurgias íntimas femininas [felizmente, Portugal tem escapado a esta moda... até ver]. Uma cirurgia a mais, uma a menos... Mais uma dose de cirurgia, por favor. Labioplastia ou ninfoplastia. Ninfo. Aproveite, que também existe clareamento anal. Tudo rosinha. Ninfo. Rosinha. A sua vagina não serve. Nem o seu ânus.
Amamos mulheres! De sobrancelha feita, cabelo pintado, escovado, maquilhada, com esmalte, depilada, vagina e ânus rosadinhos, salto, sem menstruação, sem leite a jorrar do peito, sem ver um filho a passar na sua vagina. Mulheres... Cirurgias. Produtos para maquilhar. Naturalidade feminina?! Nojo!
Amamos mulheres! Doces. Já tomou o seu Rivotril hoje? Gritou?! Está louca! The mad woman in the attic. Mulheres. Jovens. Eternamente. Um fio de cabelo branco é sinal de desleixo. Compre tinta, maquilhagem, faça cirurgia, toma hormonas, Rivotril, sinta a dor de cada pelinho a ser arrancado com cera quente. Vá em frente!
Amamos mulheres! Jovens, maquilhadas, moldadas, dormentes, lipoaspiradas, siliconadas, alisadas, clareadas, refinadas, "limpas", de salto - nem a sua altura serve! - desumanizadas, anestesiadas para a próxima cirurgia. São tantas Galateias...
Amamos mulheres! Já viu o 'the perfect V'? Novidade no mercado. Iluminador para a vagina. Rosa. Iluminada. Ninfa. Menininha. Depilada. Infantil.
Amamos mulheres! Desde que elas não sejam mulheres. Apenas estátuas moldadas. Apenas Galateias esculpidas por Pigmaleão. Sem vida. Estão todas dopadas. Seja por remédios ou pelos media.
"Gostamos de mulheres femininas": mentira! Porque vocês odeiam tudo o que é feminino: pêlos, sangue, parto, leite, cheiro natural de vagina, cores e sabores. Vocês não gostam de fêmeas. Vocês gostam que mulheres performem feminilidade. A qualquer custo. Que não sejam elas mesmas. Chora, Galateia. Em silêncio, para não incomodar."

Não é grande espingarda


Nu... ances...


A gaja de ontem à noite a pinar era exactamente como o seu cabelo. Tinha nuances.

Patife
@FF_Patife no Twitter

26 agosto 2017

«eis as palavras sussurradas ante a força das areias» - Susana Duarte

eis as palavras sussurradas ante a força das areias,
na ondulação ciciante das ondas baixas e
na nudez inesperada das rochas,

onde cada um dos teus ontens, se consubstancia
em palavras, presentes em cada um dos
abraços com que percorres

o poema.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto
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«Tanto trabalho para nada!» - por Rui Felício

O retinir do telefone interrompeu-lhe o raciocínio daquele capítulo do novo romance que estava a digitar no computador.
Contrariada, esticou o braço para alcançar o telemóvel e atendeu com brusquidão.
- Estou!
- Está? Sou eu, o Eduardo. Não te queria incomodar, mas estou perto e gostava de ir ter contigo. Posso?
Com o coração descompassado, arrependeu-se de não ter sido mais simpática ao atender.
- Não incomodas nada. Podes vir, claro. Quer dizer, sim, vem...
Que ridículo! A Ana, nervosa, gaguejava, como se fosse uma adolescente.
- Cheguei agora a Coimbra e lembrei-me de te telefonar para saber se estarias por casa e se posso dar aí um salto.
A voz do Eduardo era segura, calma, pausada, autoconfiante. Isso ainda mais a fazia sentir-se uma idiota por ter gaguejado nervosamente daquela forma.
Reparou que estava vestida com um velho e um tanto sujo fato de treino, com o cabelo atado num carrapito, com madeixas mal amanhadas a despontarem sem nexo.
- Ana, estás aí?, inquiriu o Eduardo perante o prolongado silêncio.
- Oh sim, estou. Desculpa, pensei que tivesses ficado sem rede, mentiu a Ana para disfarçar a atrapalhação. Dá-me só um quarto de hora. Estou a escrever. Deixa-me só acabar a ideia antes que perca o fio à meada.
- Claro! Vou ao café tomar uma bica e daqui a um quarto de hora estarei aí.
......
«Jovem depois do banho»
Genya Kondratyeva, Ucrânia
Pastel e café sobre cartolina, 40x60cm, 1998
Colecção de arte erótica «a funda São»
A Ana desligou, inspirou profundamente, ansiosa. Saltou da cadeira e correu ao quarto. Tinha que se mostrar apresentável. Não podia receber o Eduardo em sua casa, naquele desleixo. Parecia que não tomava banho há dias.
Tirou a parte de cima do fato de treino, atirou as calças para longe com um pontapé e escolheu à pressa um top preto e uma saia justa em tons cinza. Correu à casa de banho, passou desodorizante nas axilas, perfumou os pulsos, o pescoço e os seios. Olhou para o relógio. Tinha ainda dez minutos. Pegou no secador, alisou os cabelos, colocou rimel nos olhos e um baton discreto nos lábios.
A campainha tocou. Foi abrir. Ainda bem que não se tinha maquilhado. Sentia o rubor a aquecer-lhe as faces. Devia estar corada, como sempre acontecia quando via o Eduardo.
Uma paixão dos tempos de estudantes que nunca frutificou mas que nunca esqueceram ao longo dos anos...
.........
O Eduardo gostava dela assim, livre, natural, fresca, sem maquilhagem. A beleza dela não necessitava de artificios.
Só era uma pena que hoje ela não estivesse vestida como ele mais gostava.
Adorava vê-la de fato de treino meio amarrotado, com o cabelo apanhado com elástico num carrapito tão engraçado que lhe dava um ar descontraido de adolescente simples e desprendida.

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Blog Escrito e Lido

Postalinho das Autárquicas 2017 - 8

"Foi tão bom para ti como para mim?..."
Maria Árvore


Nota (e moeda) - Gostei é o nome de uma freguesia de Bragança

25 agosto 2017

Postalinho do mar

Será um lagostaralho hermafodi-ta?



«Perigo» - Luísa Demétrio Raposo

"Um Ser que não fode e que não se masturba é um perigo para todas as espécies que habitam o mundo.
Homossexual, bissexual, são rótulos, carimbos, e induzem à separação.
Existem Seres Humanos que amam e expressam a sua forma de amor ao amar através da sua própria escolha, e que deve ser sempre, mas sempre de forma livre.
É incrível como em pleno séc. XXI ainda exista tanta ignorância e uma distância tão profunda entre o Ser e a Alma. Há um desconhecimento profundo abismal, os Seres não reconhecem que dentro de cada um de nós existem energias masculinas e femininas, nós somos Seres plurais. Vagina e pénis são órgãos reprodutores, a forma como nós expressamos através deles é uma escolha de cada um, e quando temos esse reconhecimento e o conseguimos expressar a nossa própria divindade, ligamo-nos ao Infinito, à energia-Amor.
A sexualidade não é somente uma fabrica de fazer crianças, é sobretudo evolução espiritual. É ligação às estrelas e aos Astros dos quais somos todos filhos e filhas. É sagrado. É divino.
Quem não ama de forma livre é um Ser mal amado, e um Ser mal amado é um Ser que só reconhece o vazio dentro de si, o escuro, porque não consegue alcançar a Luz da sua Alma. É um Ser doente, precisa de ajuda urgente antes que se transforme num monstro. E os monstros são perigosos, destroem tudo à sua passagem.
Faz-me confusão as pessoas não se questionarem acerca destes assuntos, e outros relacionados com a sexualidade, parece tudo tão infantil, demente. Quem não ama a si próprio não conseguirá jamais a capacidade de amar o outro e saber que eu não existo sem o outro, independentemente do órgão reprodutor exibido. Nós somos Unos, uns aos outros, uns nos outros, não existe divisão.
É altura de entender que a divisão é uma invenção do Homem para separar o outro Homem e assim dominar através do que nunca deve ter domínio porque é sagrado e o sagrado é divino e sem entender isto a humanidade está condenada. Toda."
Luísa Demétrio Raposo

«Lavou, Tá Novo - Episódio 02: “Aquele melhor amigo...”» - Humores Urbanos

Leonardo está preso, de cuecas e prestes a apanhar, quando lembra que alguém pode ajudá-lo. Conheça Oswaldo Teixeira... ele não é um advogado!

A história começa a complicar quando eles têm uma reunião importante.

Eva portuguesa - «Ausência»

Dá a tua ausência às pessoas que te fazem mal.
Afasta-te de quem duvida de ti.
Aproxima-te de quem te valoriza.
Liberta-te de quem te incomoda.
Ama quem te apoia.
Dá a tua ausência de presente a quem não valoriza a tua presença e mostra-lhes, assim, o valor que tens...

Porque vocês só me fazem bem, em vez da minha ausência, espero-vos apaixonadamente com a minha presença hoje, amanhã e domingo até às 3h da manhã.
Eu já cá estou. E tu? Vens?...


Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

#dicasdoruim - Ruim

Muitos nenhuns me perguntam: "Ruim, tu pareces ser um gajo que sacava à grande nos teus tempos. Partilha aí algumas dicas!". Apesar de nunca ter sido aquele gajo que entrava nos sítios e tinha roupa interior feminina ensopada a ser atirada na sua direcção, conseguia dar ali a volta à coisa com um bocadinho de conversa. Não vale a pena entrar em pormenores, por isso, irei tentar sintetizar a coisa da melhor maneira possível com três exemplos possíveis.
- O "COITADINHO"
Toda a mulher gosta de um coitadinho. Ponto. Especialmente se ele tiver abdominais definidos! Mas vamos ficar pela conversa do coitadinho. Uma das minhas jogadas era rebaixar-me a mim mesmo o máximo possível junto da gaja e ainda elogiando os restantes homens à minha volta. Precisa de haver aqui um equilibrio cósmico entre a psicologia invertida e a imagem que estamos a projectar.
Bom exemplo: "Eu nunca consegui ser aquele tipo de gajo *apontar para o bonzão do sítio*. Não consigo fascinar as mulheres assim. Também já deixei de tentar, sabes? Acho que não devo ter nada mais para oferecer *entra olhos de cachorro*... às vezes... só gostava que vissem o que não está à vista, entendes? *olhar nos olhos* Tu consegues, porque és diferente delas *apontar para um grupo de p#tas*, mas... não sei. Talvez eu não seja o "tal" de alguém, talvez seja o eterno amigo... não penso muito nisso. Só quero ser feliz a fazer comida vegan e a ler Nicholas Sparks enquanto faço festas na minha cadela "golden retriever" chamada Laica com o "Gossip Girl" a dar em fundo. Bom, vou-me embor... ah, queres vir comigo? Olha, mas fica já aqui assente que eu não estou interessado em ti, ok?" #funcionasempreesta
Mau exemplo: "Eu aposto que tenho a pila mais pequena que aquele gajo *apontar para o bonzão do sítio*. Eu sou uma merda, ninguém gosta de mim, a minha mãe abandonou-me e nunca conheci o meu pai. A relação mais estável e duradoura que tive foi com a minha mão e mesmo assim ela já me olha de lado!"
- O "CAVALEIRO BRANCO"
Tanto filme de princesas, deixou-as com o complexo "Rapunzel" no ADN. Aquelas cabeças de atum bem cheirosas, julgam mesmo que vai aparecer um cavaleiro para as salvar dos "maus" quando em situação de necessidade. CLARO. Especialmente se elas estiverem numa pista de dança e os maus forem os típicos bêbedos que dançam à volta delas tipo pombos a bicar milho. Isto é uma oportunidade de ouro!
Bom exemplo: Apanhar um gajo a incomodar uma gaja, lançar um olhar de pfffff à tipa, género "este gajo é ridículo" e segredar-lhe ao ouvido:
- "Não é fácil ser-se uma mulher numa discoteca hoje em dia, hein?"
- "Ui, nem imaginas!!!"
- "Imagino, imagino. Não percebo estes gajos. O que é que acham que vai acontecer?"
- "Opá, é com cada cromo que eu..."
- "Mas ele está a incomodar-te? Queres que fale com ele?"
- "Não, não... está tudo bem. Obrigado."
Caminho aberto para a conversa!
Mau exemplo: - "Está tudo bem? Este filho da p#ta está a querer saltar-te para cima, não está? Ele que vá para a fila, f#da-se! Queres que lhe dê duas pêras?"
O "JAVARDO-CHIC"
Uma coisa é ter graça, outra é (tentar) ser engraçadinho, mas o humor é uma arma poderosa. Se bem que existem várias abordagens possíveis, eu gosto de testar logo o sentido de humor da pessoa em questão. Podem fazer pouco de alguém que já repararam que ela não curte, podem ter uma conversa parva com um amigo num tom mais alto e ver a reacção ou podem interagir directamente com a própria a sangue frio.
Bom exemplo:
- "Disse uma cena a uma gaja o outro dia e ela não gostou. Tu tens cara de que gostas de te rir. Já tiveste sexo com alguma vedeta?"
- "Como?"
- "Podes comer. Estou a brincar. Perguntei se já tiveste sexo com alguma vedeta? Vá lá, só para ver se achas piada ou sou eu que sou parvo. Pode ser as duas!"
- "Não... nunca tive sexo com uma vedeta!"
- "Óptimo. Então hoje podes manter esse registo comigo, porque ninguém me conhece. TEM PIADA OU NÃO TEM?"
- "AHAHAHAHAH, isso é tão parvo!"
Caminho aberto para a conversa!
Mau exemplo:
- "Aposto que hoje vais para a cama comigo..."
- "Ai sim? Explica lá isso..."
- "Tenho mais força que tu e a mala do carro com espaço!"
Façam bom uso disto.

Ruim
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