uma colega do ensino, que trabalha na área da filosofia para crianças - tal como eu - desabafou o seguinte:
Um aluno do 4º ano declarou que o amor se pode comprar e conquistar.
tendo rematado com a seguinte observação:
Interessante como tão pequenos conseguem transportar toneladas de machismo
a minha pergunta foi: mas por que dizes que isso é machismo? e se tivesse sido uma aluna a dizer isso também a rotulavas de machista?
a resposta foi evasiva: eles reproduzem os valores nos quais foram educados.
e isto é grave - quando digo grave refiro-me ao facto de alguém que está na área da filosofia ter rotulado aqueles comportamentos com a etiqueta "machismo" sem verificar o que é que a criança quer dizer com aquela observação. será que só conhece uma realidade em que o amor se possa comprar? e o que é conquistar o amor - também acontece pelo dinheiro ou há outras formas?
faz parte do papel de quem está no terreno educar para a diferença, sem juízos prévios. primeiro investigamos e depois podemos dar um nome - sem o peso negativo do rótulo. será que aquelas crianças sabem, têm consciência do que é ser machista? conhecem a palavra? e do feminismo, ouviram falar? e será que, na sala de aula, há meninos que têm uma experiência diferente do que é o amor, do que é conquistar alguém?
para comunicar são precisos dois - é o mínimo. dois que queiram ouvir, perguntar, partilhar. os rótulos usam-se nos frascos, sim? não nas 'ssoas humanas.