31 março 2010

Prostituição: carta aberta (II) - Porta de saída

Sair daqui!
Tantas, tantas, tantas vezes me falam da iniciação. Perguntam-me como foi. Por curiosidade. Porque – nalguns casos – querem imaginar como vai ser.
Posso falar dos riscos, das dificuldades, dos cuidados. Não posso demover quem decidiu, claro, mas posso contar que este Reino tem inferno.
Não deixar que imaginem céus azuis por todo o lado. Não existem.
Falei da porta de entrada e do Reino; mesmo assim decidiram.
Agora deveria falar da porta de saída.
Mas não sei... Eu ainda aqui estou, não estou?
Há quanto tempo?
Demasiado para querer precisar. Muito mais do que previa. Porque as previsões, aqui, saem, quase sempre, furadas.
Olho à minha volta. Para quem conheço. O mesmo. Porta de saída?
Alguma coisa nos faz, quase sem excepção, ficar e ficar e ficar.
Existe porta, deixei de a ver; existe chave, perdia-a no peito.
Acho que mudei de dimensão e fiquei aqui, no tempo que me parece que parou mas que corre como nunca. E um dia acordo e fugiu-me o tempo.
E quem sou agora? A Joana que devia estar noutro sítio mas não conhece mais nenhum.
Onde foram os sonhos, os projectos e os objectivos? Foram mudando? Deixaram de existir?
E eu? Eu mudei assim tanto? E já fui e voltei.
Fui e voltei. Fui e voltei.
Esta porta, uma vez aberta, raramente se fecha; espera – talvez divertida – a reentrada. Sim, talvez divertida. Por isso, tantas vezes uma reentrada se sente muito mais como uma rendição do que uma primeira vez.
Regressei, desta vez, em Agosto. Não encontrei caminhos? Não encontrei quem sou? O que faço ainda aqui? Preciso de um plano. Mas com que direcção, com que objectivo?
Se fosse só eu... tantas, muitas, quase todas as que conheço.
Tu não? Espero que não. Mas eu disse o mesmo. E ouvi o mesmo – tantas vezes...
É uma teia; alguma parte de mim que não identifico como minha criou-a. Deitei-me nela e aqui fiquei.
Se me debater, esta teia não me enrola mais, solta-me.
Mas, não sei para onde ir e assim, se me soltar, só caio da teia abaixo.
E fico.
E volto.

Troca de postalinhos com o Bernardo Linhares

"Menina linda,
tenho uma porção de poemas eróticos dispersos. Vou procurar. (...)
Mande seu blog para
obernardo@hotmail.com. É do ramo no Brasil, vocês podem intercambiar, Lindíssima miúda.
Beijos nas rosas
Ildásio Tavares"

"Olá, Bernardo
Sou São Rosas. Sou portuguesa e tenho um blog erótico: a funda São.
O Ildásio Tavares foi-me apresentado pelo Casimiro de Brito. E agora o Ildásio me deu o seu e-mail, dizendo que «é do ramo» aí no Brasil.
Com o seu e-mail, encontro poesia no
Jornal de Poesia e, «no ramo», alguns poemas em Poetas del Mundo.
Estaria interessado em publicar estes seus poemas «do ramo» no blog a funda São?
A sua,
São Rosas"

"Olá! Seu nome é lindo!!! Mestre Ildásio exagerou.
Abaixo, seis poemas.
Bernardo Linhares


Rosa aberta III
Para João Ubaldo Ribeiro e Carol Castro
“Tornou-se a vida rútila e festiva”
Sosígenes Costa

A brisa sopra a pétala da rosa,
expele o pólen em forma de botão.
Vênus desperta da alma de uma concha.
O céu parece a cauda de um pavão.

O azul renasce namorando a aurora.
O mar não cansa, pensa que é criança.
O mundo gira, gira cor de rosa.
O sol e a lua trocam de aliança.

Trazendo o belo aos que amam o verso,
a luz do dia chora de alegria.
Tudo é sereno sobre as rosas brancas.

Com elegância e delicadeza,
tornou-se a vida rútila e festiva.
Uma lagarta vira borboleta.

Galo

Na alvorada de uma fantasia
a delicada espora é tua espada
com ela toca a rosa dourada
vate da Arcádia, oficial do dia.
Arauto arisco da madrugada
exaltando o prazer do teu hino
o sol derrama-se em porcelana
a fina aurora afina tua lira.
Flores e beijos estufam peitos,
luares e todos os olhares
inclinam-se em sinal de respeito.
O galo canta, canta o desejo;
será suave a noite de gala
entre as montanhas da minha amada.

O segundo beijo

Língua na língua,
língua nos dentes,
língua nos lábios,
beijo meu,
estou com ela na boca...
Boca que beija,
boca que morde,
boca que age.
Beijo meu,
estou com ela na boca
e mais ainda
quero que sinta a língua,
língua que lambe,
língua que trança,
língua que arde.
Beijo meu,
estou com água na boca,
estou com ela na boca
e nada, nada é igual,
a sentir nos seus lábios carnudos,
depois que desnudo,
na minha boca beijo meu,
o doce do seu sal.

Prece

Escutei o silêncio meu amor
da sua oração, celebrando a vida
num altar de espelhos.
Senti na sua boca
a ressurreição da carne
comungada num beijo.
Em devota posição, seu amor,
meu amor, me provaste de joelhos.

96 – 27

Deitada por cima,
quatro olhos fechados,
de ponta-cabeça em duas bocas,
seis lábios.
Quatro pernas abertas,
braços apertados,
unidos numa dezena,
ligados no mesmo cálculo.
Dois corpos, com três cabeças,
meia volta, volta e meia
flutuam no quarto.

Luau

Num mar tranqüilo de fim de tarde
o vento sopra a vela do dia,
a noite penetra pela fresta,
onírica, sim, ela suspira.
Adormecida sonha com anjos,
no silêncio do sem-fim desperta
nova e nua.Abraçando o oceano
no quarto crescente curva em arco
e toda inteira, recheada em chamas,
o vento lambe os seus fios dourados."

Sexualidade explicada com equipamentos da Apple

«Orgasmos Cotidianos» - Alfonso Lopez & Javier Roca

Outro livro que comprei para a minha colecção:


Aqui fica uma página, com a autorização de publicação pela editora el Jueves:

30 março 2010

O lado B de Ricky Martin



HenriCartoon

A ferro e fogo

A distância dos nossos corpos
assedia a ânsia…

Freme veemente em círculo ardente
e multiplica-se num desbravado caminho
de palavras que retrocedo
em alongado
gemido de carência.

Marco as minhas mínguas
a ferro
e todo o teu ser arde-me na pele
gravado em substância.

Aferras-te
e em mim
és perfeito na imensidão de homem.
Percorres-me em segredo,
lapidando as curvas
que à luz se entregam e
projectas-te em sol e fogo.

Não te enxergo a forma
mas sinto-te em fusão
correr-me no sangue.

À contrariedade do tempo que emerge,
gorgolo em devaneio
o teu nome decifrado.

Vera Carvalho - Pétalas Minhas
(foto de autor desconhecido)

Insatisfação


Foi paixão,
encanto, voz doce,
palavras de despertar:
encontro e magia.

Foi tentar despertar-te,
loucura e impotência,
querer-te e não ser capaz:
desejar-te.

Foi tudo, foi nada,
foi pouco e não muito,
um parágrafo,
um destilar de emoções:
voltar ao zero.

Foi e é: insatisfação.

Foto e poesia de Paula Raposo

Grupo Senior quer mostrar peça sobre Sexualidade na Terceira Idade noutros palcos. Convidam-nos?



Estreou no primeiro dia de Primavera. Seniores quebraram o tabu em «Respeitinho que sou tua Mãe...», "encenação de Luísa Monteiro - Grupo de Teatro Renascente".
Esteve um dia óptimo, o sol deu as boas vindas anunciando uma tarde diferente. Chegada aos bastidores, foi fantástico ver a animação, sem nervos à vista. As nossas séniores vestiram robes, toucas de "ir para a cama" e prometeram agitar a sala.
Chegada a hora, a sala ficou quase cheia! Obrigada a todos pela divulgação! As pessoas aceitaram o convite e vieram ver este grupo que tanto se empenhou nesta peça. O principal objectivo foi quebrar o tabu da sexualidade no envelhecimento. Com muita determinação, subiram ao palco, falaram de virgindade, de homossexualidade, de problemas sexuais, de solidão e de tantos outros temas, que se adivinharam, nas entrelinhas.
A meio da peça entrei eu. Levei um lubrificante, um óleo que aquece, umas algemas com peninhas, plumas e uns brinquedinhos vibrantes. Os brinquedos serviram de moldura para a conversa sobre prevenção das IST nos séniores, dos perigos da toma do Viagra sem orientação médica, da importância da lubrificação, entre outros...
A principal mensagem ficou lançada...Todos temos direito ao desejo e ao prazer... isto é apenas indicador que queremos ser felizes e que estamos vivos...
Excelente forma de começar a Primavera com este despertar de mentalidades...
Agora queremos correr o país, apenas estamos à espera de convites.
Precisamos apenas de uma sala e de público que nos queira conhecer.

Até breve, quem sabe se numa cidade perto de vós!
Convidem-nos... que nós vamos...
Divulgam o nosso projecto?

www.belizsexologia.blogspot.com


À moda da Cornualha


1 página

oglaf.com

29 março 2010

A prostituta azul (II)

Todos os dias escreve linhas. Escreve linhas para cozer peitos abertos. O homem viu os fios das palavras desfiadas a formar linhas que desejou que lhe fossem dedicadas. Olhou para o peito, já pouca coragem tinha de se encarar pelo coração. Deitou-lhe os dedos ao braço para fingir que tinha caninos nas falanges; olhava-lhe os seios, de olhos ofegantes, fingia que só os desejava e entraram na pensão. Mas quando se deitou na cama, só despiu a camisa.

Sempre que a amava

Sempre que a olhava percebia o privilégio. Sempre que a deixava cometia um sacrilégio e cumpria penitência, perturbado pela sua ausência, abrindo o peito aos requintes da maldade de um algoz chamado saudade que o consumia na câmara lenta, uma sensação que atormenta, um relógio imaginário com os ponteiros em sentido contrário, em rota de colisão com o caminho do coração acelerado pelo tempo quase parado, paradoxal, numa ansiedade fora do normal que o agitava por dentro e lhe baralhava as reacções.

Sempre que a pensava incutia mais tentações na vontade que já sentia de a tocar de verdade e de a arrepiar como se sabia capaz. Sempre que a deixava para trás, no seu ponto de partida, sentia a despedida como um castigo, a saudade sem abrigo exposta no olhar que a revelava, a imagem de um calendário com os dias em sentido contrário, no beijo demorado que anseia o tempo parado, contra-senso, e dessa forma acaba por anunciar, intenso, a chegada de um outro tempo que tanto custa a passar.

Pétalas do meu desejo


Toma os meus seios perfeitos
Que cabem inteiros nas tuas mãos
Passa tuas mãos no meu corpo cansado
Sente os meus seios gelados
Que são mais teus do que meus

Beija meu peito inquieto
Tal como a asa procura a flor
Empresta-me o doce trago da tua boca
Da tua língua humedecida
Onde se esconde o teu mel

Chamo-te com as mãos
E abro-te meu peito
Desce de onde estiveres, meu amor
Sorve de meus beijos, regatos tranquilos
Onde se abrem nenúfares brancos e perfumados

Fecha tuas asas de luz
Nas pétalas do meu desejo
Amado da minha Alma
Desejada visão que me acompanha
Como um sonho de amor

Tu, minha espiga de oiro
Que o sol beija pela manhã
Sente meus seios macios e rijos
Prova a doçura da minha boca
Fecha esta porta tão aberta como meu peito

No meu leito não há muros
Nem meus braços se cruzarão
Quando tocares meu corpo
Pois que tu és meu senhor
E eu a escrava que te espera

Guarda meus seios
Nas palmas das tuas mãos
Meu desejo é que me desejes
Agarrada à tua carne
Selo meu para que não me percas


Maria Escritos
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