Sair daqui!
Tantas, tantas, tantas vezes me falam da iniciação. Perguntam-me como foi. Por curiosidade. Porque – nalguns casos – querem imaginar como vai ser.
Posso falar dos riscos, das dificuldades, dos cuidados. Não posso demover quem decidiu, claro, mas posso contar que este Reino tem inferno.
Não deixar que imaginem céus azuis por todo o lado. Não existem.
Falei da porta de entrada e do Reino; mesmo assim decidiram.
Agora deveria falar da porta de saída.
Mas não sei... Eu ainda aqui estou, não estou?
Há quanto tempo?
Demasiado para querer precisar. Muito mais do que previa. Porque as previsões, aqui, saem, quase sempre, furadas.
Olho à minha volta. Para quem conheço. O mesmo. Porta de saída?
Alguma coisa nos faz, quase sem excepção, ficar e ficar e ficar.
Existe porta, deixei de a ver; existe chave, perdia-a no peito.
Acho que mudei de dimensão e fiquei aqui, no tempo que me parece que parou mas que corre como nunca. E um dia acordo e fugiu-me o tempo.
E quem sou agora? A Joana que devia estar noutro sítio mas não conhece mais nenhum.
Onde foram os sonhos, os projectos e os objectivos? Foram mudando? Deixaram de existir?
E eu? Eu mudei assim tanto? E já fui e voltei.
Fui e voltei. Fui e voltei.
Esta porta, uma vez aberta, raramente se fecha; espera – talvez divertida – a reentrada. Sim, talvez divertida. Por isso, tantas vezes uma reentrada se sente muito mais como uma rendição do que uma primeira vez.
Regressei, desta vez, em Agosto. Não encontrei caminhos? Não encontrei quem sou? O que faço ainda aqui? Preciso de um plano. Mas com que direcção, com que objectivo?
Se fosse só eu... tantas, muitas, quase todas as que conheço.
Tu não? Espero que não. Mas eu disse o mesmo. E ouvi o mesmo – tantas vezes...
É uma teia; alguma parte de mim que não identifico como minha criou-a. Deitei-me nela e aqui fiquei.
Se me debater, esta teia não me enrola mais, solta-me.
Mas, não sei para onde ir e assim, se me soltar, só caio da teia abaixo.
E fico.
E volto.
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Uma por dia tira a azia