31 março 2010

Troca de postalinhos com o Bernardo Linhares

"Menina linda,
tenho uma porção de poemas eróticos dispersos. Vou procurar. (...)
Mande seu blog para
obernardo@hotmail.com. É do ramo no Brasil, vocês podem intercambiar, Lindíssima miúda.
Beijos nas rosas
Ildásio Tavares"

"Olá, Bernardo
Sou São Rosas. Sou portuguesa e tenho um blog erótico: a funda São.
O Ildásio Tavares foi-me apresentado pelo Casimiro de Brito. E agora o Ildásio me deu o seu e-mail, dizendo que «é do ramo» aí no Brasil.
Com o seu e-mail, encontro poesia no
Jornal de Poesia e, «no ramo», alguns poemas em Poetas del Mundo.
Estaria interessado em publicar estes seus poemas «do ramo» no blog a funda São?
A sua,
São Rosas"

"Olá! Seu nome é lindo!!! Mestre Ildásio exagerou.
Abaixo, seis poemas.
Bernardo Linhares


Rosa aberta III
Para João Ubaldo Ribeiro e Carol Castro
“Tornou-se a vida rútila e festiva”
Sosígenes Costa

A brisa sopra a pétala da rosa,
expele o pólen em forma de botão.
Vênus desperta da alma de uma concha.
O céu parece a cauda de um pavão.

O azul renasce namorando a aurora.
O mar não cansa, pensa que é criança.
O mundo gira, gira cor de rosa.
O sol e a lua trocam de aliança.

Trazendo o belo aos que amam o verso,
a luz do dia chora de alegria.
Tudo é sereno sobre as rosas brancas.

Com elegância e delicadeza,
tornou-se a vida rútila e festiva.
Uma lagarta vira borboleta.

Galo

Na alvorada de uma fantasia
a delicada espora é tua espada
com ela toca a rosa dourada
vate da Arcádia, oficial do dia.
Arauto arisco da madrugada
exaltando o prazer do teu hino
o sol derrama-se em porcelana
a fina aurora afina tua lira.
Flores e beijos estufam peitos,
luares e todos os olhares
inclinam-se em sinal de respeito.
O galo canta, canta o desejo;
será suave a noite de gala
entre as montanhas da minha amada.

O segundo beijo

Língua na língua,
língua nos dentes,
língua nos lábios,
beijo meu,
estou com ela na boca...
Boca que beija,
boca que morde,
boca que age.
Beijo meu,
estou com ela na boca
e mais ainda
quero que sinta a língua,
língua que lambe,
língua que trança,
língua que arde.
Beijo meu,
estou com água na boca,
estou com ela na boca
e nada, nada é igual,
a sentir nos seus lábios carnudos,
depois que desnudo,
na minha boca beijo meu,
o doce do seu sal.

Prece

Escutei o silêncio meu amor
da sua oração, celebrando a vida
num altar de espelhos.
Senti na sua boca
a ressurreição da carne
comungada num beijo.
Em devota posição, seu amor,
meu amor, me provaste de joelhos.

96 – 27

Deitada por cima,
quatro olhos fechados,
de ponta-cabeça em duas bocas,
seis lábios.
Quatro pernas abertas,
braços apertados,
unidos numa dezena,
ligados no mesmo cálculo.
Dois corpos, com três cabeças,
meia volta, volta e meia
flutuam no quarto.

Luau

Num mar tranqüilo de fim de tarde
o vento sopra a vela do dia,
a noite penetra pela fresta,
onírica, sim, ela suspira.
Adormecida sonha com anjos,
no silêncio do sem-fim desperta
nova e nua.Abraçando o oceano
no quarto crescente curva em arco
e toda inteira, recheada em chamas,
o vento lambe os seus fios dourados."

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