25 fevereiro 2011

Fui ver se a palavra «vagona» existe em Português...

... e a Infopédia confirmou-me que a cultura é uma coisa muito linda!

Do amor lento

E o corpo em cima do corpo, comboio em cima da linha, barco na linha do mar; a corrente e a direcção ajustam-se à rota pela cintura, fogem agora das rochas e ao longe, muito longe, perde-se o mundo e um porto e uma estação; e a pele do mar são as ondas, sempre foi assim; e o barco, veleiro soprado do peito ao ventre até à rosa dos ventos, a desenhar as linhas do mapa nos náufragos, a violar, incerto, determinado, a palidez da tempestade que ainda lhe sobra, entrega-se às ondas, inteiro; acertam o tempo e o rumo até se desfazerem em sal. Entretanto, um gato enorme tentava arranhar a pedra com as garras, uma mãe teve o filho, um homem gritava o nome da mulher, o autocarro passou, uma jarra espalhou os cacos pelo chão; o tempo deve ter passado por ali, na mesma, mesmo sem os encontrar e disse-os ausentes à solidão que, nesse dia, não lhes bateu à porta.

Trocando as bolas


Alexandre Affonso - nadaver.com

24 fevereiro 2011

O Bisturi de Damocles

Aqui há dias abordei o assunto de forma ligeira mas com estas histórias dos saca-rolhas e assim é impossível ignorar essa ameaça latente das mudanças de sexo à fartazana.
E não me venham com os considerandos do sofrimento psicológico de quem se vê amarrado/a a um género que não o seu pois basta porem-se na pele de pila para verem logo a coisa sob outro prisma.
As pirocas não têm o direito à escolha no que toca aos coisos agarrados a nós. Nascemos assim, com aquela enorme verruga nas costas (as nossas) e sem uma palavra a dizer quanto aos seus humores e outras oscilações físicas e psicológicas. Mas isso ainda vá.
Agora, uma piroca ver-se de repente à mercê de um mascarado com um bisturi na mão, um carrasco por encomenda só porque o coiso decide ser coisa, é algo de tão aterrador que quando penso nisso reduzo-me (encolho-me) à mínima expressão.
Ponham-se no meu lugar e logo percebem o porquê de neste assunto nenhuma pila ficar indiferente ou liberal. Não se trata de uma mentalidade conservadora mas de conservação, instintiva.

É por isso que eu, mesmo quem não tem cu tem medo, nunca falho quando o coiso agarrado a mim me requisita seja para o que for...

«Maria Magdala, a prostituta»

Esta foi a segunda publicação da Poesia Erótica, do nosso amigo Luís Gaspar.
Trata-se de um excerto de «O Evangelho Segundo Jesus Cristo», de José Saramago.
"Quando Maria Magdala, que dormia com os homens por dinheiro, pediu a Jesus que ficasse com ela por um dia, sem nada pagar, apenas que a guardasse na Sua memória."
Como é uma delícia que ainda não tinha recomendado aqui, vão lá e depois digam-me o que acharam:


nº 2 da Poesia Erótica do Estúdio Raposa

Velharias

GRIND MIX #1 from Django's Ghost on Vimeo.

Beijo

23 fevereiro 2011

Entrevista da Antena 1 a Maria Teresa Horta

Maria Teresa Horta considera que ainda há estigma em relação à poesia erótica quando é escrita por mulheres. “Há um certo incómodo das pessoas que me rodeiam, porque é um tema que foi sempre proibido às mulheres dentro da literatura”, sublinha.

Recomendo que ouçam. É aqui.

"Infidelidade e traição" ou "Pau de três bicos"

Traição é uma faca nas costas.

Para “coisas” que não passam de um monte de pó temporariamente agregado, os humanos são um nadinha exigentes demais e um bocadinho megalómanos… é assim que às vezes lhes dá para terem ideias um tanto obtusas e de muito difícil concretização. Pedir, ou exigir a alguém que supostamente se ama que, para o resto da vida (ou seja, sempre, eternamente!), não foda com mais ninguém, é uma delas. Eu não tenho nada contra o amor, pelo contrário, tenho tudo a favor do amor e ainda mais a favor do verdadeiro amor. E também não tenho nada contra a monogamia e a fidelidade, mas parece-me que uma tal disposição, e a entrega exclusiva do corpo a alguém, só pode partir do exercício da livre escolha e da própria vontade, e nunca do rastreamento, invasão da privacidade, e vigilância abusiva e agressiva sobre a vida de outra pessoa, sendo ela, ainda por cima, a tal que supostamente se ama. Mas cada um lá faz e assina os contratos que entende por bem, e desde que tenha espinha dorsal para os honrar, por mais absurdos que sejam, nada há a apontar! Agora… que ande meio mundo a esconder-se atrás das moitas e a fugir da polícia e o outro meio com lanternas a espreitar para dentro dos armários e para debaixo dos tapetes de arma em punho à caça dos “traidores”, os tais ao lado de quem se deitam na cama e os mesmos a quem supostamente “amam”, é que não faz sentido nenhum. E depois lá vêm as tempestades em copos de água, com velas rasgadas, mastros partidos, incêndios, abordagens sanguinárias, criancinhas pelo ar, facadas, tiros de canhão, e sabe-se lá mais o quê! E ainda as grandes desilusões e os baldes de lágrimas, mais cedo ou mais tarde inevitáveis, quando a fasquia, logo à partida, é colocada bem acima da capacidade de salto… Mas voltando às tais “ideias obtusas” e aos “juízos obtusos”, para punir estes casos de “traição” parece que todas as penas infligidas são pequenas e nunca nenhum ressentimento é bastante. Vá lá, que por cá não se matam mulheres à pedrada! Mas a “brincadeira” também pode não sair barata… porque, ao contrário daquelas coisinhas que muita gente pode facilmente tolerar (maus tratos, desprezo, ausência, gestão ruinosa, abuso de confiança, imundície, ofensas extremas, discussões idiotas e péssimas quecas), para estes “crimes” não há atenuantes, nem importa que o outro seja ou não um companheiro/a exemplar, se mete a pata na argola e fode com outro/outra, forca com ele/ela!

Todos os gigantes que conheci tinham mais frio do que eu

Se me resumo, toda eu sobro em mim, como se ficasse a flutuar-me, demasiado espaço vazio à volta.; se me tento por extenso, aumento-me e já não consigo caber-me de volta, ainda me rebento de tanto tentar. Disto tudo me chega o medo, se não me ando a viver do meu próprio tamanho ainda me descubro a ilusão de mim. Mas, se me penso, os dedos tropeçam-me; se não me penso, os dedos deixam-me para trás, ignoram-me, escrevem-me sem mim; os dedos só se atrevem a voar no instante em que o pensamento se distrai, quando o sentem de olhos fixos ficam mais lentos, mais pesados, arrastam a razão. Queria ir directa a mim, sem resumos ou extensões, directa ao coração do acto. Mas, quando vou, sinto-me como se não me iniciasse, como se me tivesse saltado os preliminares, sinto-me como se não me terminasse, como se tivesse falhado a chave do meu ponto final, como se me faltasse dividir o cigarro pós-coital. Escolho escrever-me pequena, - não um resumo, apenas pequena - tão pequena que toda a roupa do Mundo sobra em mim e fico ali a flutuar; depois de vestir qualquer casaco, hei-de dar por mim nua, toda eu a conseguir morar apenas numa manga, encasacada, tapada, quente, despida, nua. Prefiro assim, uma casca de noz e estarei a salvo de todos os diluvios; qualquer criatura pequenina que encontre, qualquer estranha formiguinha, poderá comigo conversar. Todos os gigantes que conheci tinham mais frio do que eu.

O Navegante de Equinócios

Sim, quem é ele que navega por equinócios? E nas ondas geradas pelo mergulho no teu peito? Ondas que sobem a temperatura em contraste com o Outono amarelo das folhas caídas e brisas frescas.
Quem é ele?
É o mensageiro da vida que conta em fábula o passado que ainda não chegou. A vida que já viveu e ainda não mostrou.
Quem é ele que em sintonia com o universo, cerca o teu acontecer e expia o que dele é pérfido?
Ele é aquele que constrói nos solstícios e navega com os equinócios. Aquele que vive e acompanha os epílogos quando a própria essência deixou de ser manifestada.

Kiss




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