Se me resumo, toda eu sobro em mim, como se ficasse a flutuar-me, demasiado espaço vazio à volta.; se me tento por extenso, aumento-me e já não consigo caber-me de volta, ainda me rebento de tanto tentar. Disto tudo me chega o medo, se não me ando a viver do meu próprio tamanho ainda me descubro a ilusão de mim. Mas, se me penso, os dedos tropeçam-me; se não me penso, os dedos deixam-me para trás, ignoram-me, escrevem-me sem mim; os dedos só se atrevem a voar no instante em que o pensamento se distrai, quando o sentem de olhos fixos ficam mais lentos, mais pesados, arrastam a razão. Queria ir directa a mim, sem resumos ou extensões, directa ao coração do acto. Mas, quando vou, sinto-me como se não me iniciasse, como se me tivesse saltado os preliminares, sinto-me como se não me terminasse, como se tivesse falhado a chave do meu ponto final, como se me faltasse dividir o cigarro pós-coital. Escolho escrever-me pequena, - não um resumo, apenas pequena - tão pequena que toda a roupa do Mundo sobra em mim e fico ali a flutuar; depois de vestir qualquer casaco, hei-de dar por mim nua, toda eu a conseguir morar apenas numa manga, encasacada, tapada, quente, despida, nua. Prefiro assim, uma casca de noz e estarei a salvo de todos os diluvios; qualquer criatura pequenina que encontre, qualquer estranha formiguinha, poderá comigo conversar. Todos os gigantes que conheci tinham mais frio do que eu.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Uma por dia tira a azia