28 fevereiro 2011

Verão no seu olhar


Uma borboleta no seu voo irregular, difícil de seguir com o olhar prisioneiro da beleza que o hipnotiza, entretida no seu tempo, na sua vida, asas pintadas a rigor com o empenho e o amor que a Natureza aplica nas suas criações.
O vento suave, rasteiro, sobre o campo espigado no pino do Verão, e o olhar enfeitiçado a seguir a ondulação de um mar diferente desenhado a cada instante por uma brisa a soprar, de passagem, a meio do caminho na sua viagem para um destino qualquer.
O contorno difuso de uma mulher, bela apesar de desfocada pelas ondas de calor que turvam o olhar maravilhado a acompanhar o movimento gracioso de uma mão que acaricia as espigas, feliz, o amor diante do seu nariz cada vez mais próximo da boca no rosto onde o olhar, apaixonado, por momentos desligou.

Santinho


Cada santinho costuma ter uma oração.
Escrevam a adequada.

Sorte, Qualidade e Oportunidade

Uma vez por outra "alguém" rejubila publicamente o seu estado de vida, a sua sorte, num espasmo de felicidade, contentamento e resposta às questões que se lhe vão deparando aqui e ali.
De quando em vez congratula-se a sorte pelos acontecimentos supostamente aleatórios que marcam contundente e positivamente um qualquer estado de alma exteriorizado por arrepios, sorrisos ternos e palavras de aconchego.
Contudo, parafraseando alguém que respeito, "a sorte acontece quando a qualidade encontra a oportunidade".

Esta máxima não poderia estar mais de acordo com o enquadramento que pretendo imprimir. Se esse alguém tem sorte, não é mais do que pelo simples facto de ser digno de tal. Se esse alguém congratula o acontecimento apelidando-o de sorte, será indubitavelmente pelas qualidades que lhe são inerentes, inatas, e que assinalam a receptividade a que se predispõe aos parâmetros elevados que a sua essência exige.
Não falo conceptualmente de "salpicos de sorte", situações efémeras que em nada estabelecem padrão de coisa alguma. Falo naturalmente de acontecimentos duradouros, prolongados e sustentados só disponíveis a quem esculpiu a sua génese à Luz de uma serenidade superior, espiritualmente elevada e com uma conduta de aprendizagem em nada serôdia.
Não me refiro a um histrião, sem nada de profundo para ofertar aos demais, ausente de elementos que acrescentem valor a quem o rodeia.
Falo de eremitas espirituais, não necessariamente religiosos, que aproximam-se do ermo para se aconchegarem em si próprios, longe do trato confuso do materialismo, carácter predominante da sociedade de consumo. Falo de seres que valorizam o sentir, o Amar, o cuidar.
Falo de ti que encontras o que mereces e não o que a sorte te ofereceu.

Em que pensas, cachopa?



Via Sweetlicious

27 fevereiro 2011

Peça de teatro espanhola - «The Guarry Men»


"Bienvenidos al universo Guarry. Un mundo donde la reflexión, los buenos modales y la corrección política brillan por su ausencia. Aquí sólo interesa vivir el momento y celebrar cada noche, función tras función, la PARTYFIESTA FOREVER. Esta apasionante misión corre a cargo de los protagonistas de ‘The Guarry Men Show’: cuatro actores que se dejan la piel en escena para recrear situaciones desternillantes propias del día a día, y tres curiosos músicos que ejercen como la voz de la conciencia de todo este tinglado. El resultado son 15 gags independientes en los que se combinan situaciones llevadas al extremo con humor, una pequeña dosis de amargura, música y grandes dosis de diversión.
‘The Guarry Men Show’ estará en cartelera en el Teatre Poliorama de Barcelona a partir del 25 de febrero."
Para quando em Portugal? A malta da Tuna Meliches bem que poderia fazer algo do género para um Encontra-a-Funda...

«A vizinha do lado» - por Rui Felício


Empregada numa panificadora ali para os lados da Achada, perto de Mafra, a Sónia tem os horários trocados. Trabalha de noite, dorme de dia.
Por isso, raramente a vejo, excepto nalgumas tardes de fim de semana quando fico em casa. Quando calha, trocamos palavras de circunstância de quintal a quintal...
Simpática, bonita, boa conversadora, vive sozinha com a mãe e um filho pequeno, desde que se separou do marido.
O quintal dela confina com o meu, separados apenas por uma fiada de arbustos baixos que se podem galgar facilmente com um simples alçar da perna.
Naquele sábado frio e soalheiro, ela chamou-me e ofereceu-me uma caixa de bolos que trouxera da fábrica, como já o fizera de outras vezes. Agradeci-lhe e fiquei a observá-la, tentando afastar maus pensamentos, enquanto ela cirandava por entre as plantas e as flores, cortando aqui, regando ali, ajeitando acolá. Por vezes debruçava-se e a roupa colava-se-lhe mais ao corpo, deixando antever as curvas bem desenhadas das pernas, das ancas.
Quando se agachava para apanhar alguma coisa, a saia curta subia e destapava-lhe as coxas um pouco acima dos joelhos, As pernas assim descuidadamente entreabertas, faziam-me imaginar o tesouro quente ainda oculto, daquela mulher apetitosa.
Para afastar as tentações, eu fingia concentrar-me nas nuvens pesadas que se começavam a acantonar do lado do mar, e comentei: - vamos ter chuva, Sónia!
Pois vamos, concordou ela, tentando adivinhar quando começariam a cair os primeiros pingos.
De súbito, sem aviso, ela tirou o gorro e a bata branca. Esticou os braços para cima, como quem se espreguiça, deixando-me adivinhar os contornos dos seus seios firmes debaixo da blusa justa.
Sem parar e olhando-me de soslaio, tirou a saia, depois a blusa, logo a seguir o soutien, as meias e, por fim, o par de cuecas.
Durante esse tempo todo, não falei, não sabia o que dizer, a garganta secava-se-me...
Sorrindo, ela aproximou-se de mim, com aquelas peças de roupa, todas debaixo do braço, estranhando eu estar tão calado.
- É sempre tão falador e está há tanto tempo aí parado, sem dizer nada, atirou-me ela...
Arrepiei-me quando aquela bela mulher, a seguir, me agarrou suavemente no braço e me perguntou:
- Está frio não é? Podia ter aquecido um pouco se, como é alto, me tivesse ajudado a tirar toda esta roupa do estendal...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações



(pintura a óleo: «Mulher a lavar roupa» de Henry Robert Morland)

Tu...

Não desejo as estrelas,
nunca poderei ser delas;
não desejo o mar,
mesmo o quente é demasiado frio;
não desejo sequer um rio,
corre depressa, não se deixa amar;
não desejo nada
que só possa ser ímpar,
seja a manhã, seja a madrugada
o pôr-do-sol ou o ocaso lunar.
O que desejo não é senão
tão simples quanto apanhar uma flor,
a tua mão na minha mão,
o gesto em par do nosso amor.

A criatividade é biunívoca (seja lá o que for que isto quer dizer)

crica para visitares a página John & John de d!o

25 fevereiro 2011

As Despedidas

– Há regressos que nunca se devem fazer. As coisas nunca voltam a ser as mesmas. Nós já não somos os mesmos. Se voltamos é porque esquecemos o porquê da separação; as razões da separação. A própria separação. Fantasiamos sobre um idílio que acabou e a que queremos regressar como se fossemos menos os que nos separámos do que os que estiveram juntos. Não há retornos felizes. As peças não tornam a encaixar. As peças depois de separadas, partidas, doridas, nunca mais se tornam a encaixar. Os regressos nunca se devem concretizar.
– Assim, definitivamente?
– Assim.
– Então… – Os olhares cruzaram-se. Ele fez uma pausa e perguntou: – O que estamos nós aqui a fazer?
– A despedirmo-nos.
– Definitivamente?
– Sim. – Ela sorriu, primeiro com os lábios e com os olhos, depois com todo o rosto, e completou: – Sim, definitivamente ou até à próxima despedida – e beijou-o, primeiro com os lábios e com a língua, depois com todo o corpo.