15 janeiro 2015

«A Natália – Ode» - poema de Luiz Pacheco?

Cópia dactilografada, de autor desconhecido, atribuível aos surrealistas do grupo do Café Gelo, mais provavelmente a Luiz Pacheco, reclamando da não inclusão da sua obra na


A Natália – Ode

Poesia respeitosíssima
pra que o leitor ou leitora
co'os olhos da alma a leia,
dedicada à Ilustríssima
e Excelentíssima Senhora
Cona Natália Correia.

Quando vi na Portugália
essa grande Selecção
publicada pla Natália,
a vaidade emocionou-me,
seguro de haver razão
para lá ver o meu nome,
ou a minha poesia,
pois em lugares dispersos
já publiquei muitos versos
bem dignos de Antologia!

Afinal nem uma linha,
nem uma nota mesquinha,
a Autora me concedeu!
Eu bem sei que pouco valho,
mas por que é que me esqueceu?
Ó Natália! Que caralho!

Acha acaso que os meus versos
não são bastante perversos,
obscenos e porcalhões,
e só por isso os recusa?
Não falam tanto em colhões
como exige a sua Musa?

– Pois vão ver como versejo,
a Natália e sua malta,
literatos de eleição.
Quero dar-lhes um ensejo
pra repararem a falta
numa 2.ª edição.

Bem sei que os versos que faço
não é co'o desembaraço
da Autora da Antologia,
que das Artes tem o ceptro:
ela de noite e de dia
fá-los finos e pequenos
e fá-los com grande metro.
Fá-los grossos e obscenos,
fá-los líricos e puros
e fá-los que até dá brado!
Fá-los erectos e duros
e fá-los de pé-quebrado.
Fá-los brancos, sem ter rima,
e fá-los muito vermelhos,
muito rubros, escarlates.
Fá-los de baixo pra cima,
fá-los até com pentelhos
e um grande par de tomates!,
que a Autora da Antologia
é mestra em falusofia!

Como eu sou da escola antiga,
se quiserem que lhes diga
qual a minha opinião,
não faço disso mistério:
nem sempre aprovo o critério
que serviu à Selecção.
Mas o crítico David,
com seu fino bisturi,
e talentosa centelha,
já afirmou nos jornais
que as poesias são daqui
(mimar atrás da orelha
ou nas partes genitais).

Natália,
Natália que o Tejo salga,
sabe a espuma, sabe a alga,
sabe mais: – sabe a algália!

Natália, não é chacota,
às vezes lembra Bocage:
quando apanha uma pichota,
como aquela boca age!
Só o que é belo a exalta.
A Poetisa, em maré alta,
nunca conhece declives.
E sans peur et sans reproche!
cinzela como um ourives:
cada poema é um broche!...

Adora qualquer manjar
(com tomates, então, pula!)
é simples, é popular,
ingénua, leve, garrula,
é ouvi-la perguntar:
– deito fora, ou quer que engula?

Com um notável desplante
e grande poder de acção,
leva sempre a sua avante.
Levar é sua ambição
pois tem alma até Almeida!:
leva na boca, na peida,
leva, é claro, na vagina,
leva em qualquer orifício,
e com algum sacrifício
até leva na narina!
Tão requintado é seu vício
que onde este amor goza mais
'inda é nas fossas nasais!

Se manda a criada ao talho
(outra rima do caralho)
a Natália, casta e pura,
a Deusa da maravilha,
a Poetisa da berguilha,
sempre obtém o que procura:
três doses de rabadilha
e uma dose de fressura.

Ninguém há que a ultrapasse,
é um vate de alta classe:
é Vat 69!

Põe casos de geometria
a quem dela se apaixone:
saber se alguém avalia
o volume do seu cone,
que não será conezia,
pois não há qual mais funcione,
seja de noite ou de dia!

Mas uma coisa consola:
quando passa pelas ruas
sua piedade é sem par:
se lhe pedem uma esmola,
Natália dá sempre duas
ou três, sem desencavar.

Em política é extremista
e acha que é preciso sermos
todos assim sem dilema.

Também no leito esta artista
não é lá de meios termos:
"tudo ou nádega" – é seu lema.
Seria uma grande perda
se ela fosse prá masmorra
por causa de tanta merda.
Não é lá por que discorra:
gosta de apartar prá esquerda
pra sentir melhor a porra!

Tão respeitável senhora
digna do tít'lo "honóris"
é ditosa detentora
dum tão comprido clitóris
que cada vate panasca
que ela enraba fica à rasca,
alguns com o seu rasgão,
que gostam de pôr a nu.
Pois tão Ínclitos varões
'stão todos na Selecção
(todos, todos não cab'rão,
porque há lá muitos cabrões!)
mas a doer-lhes o cu!

É coisa averiguada:
como a Natália é dotada
de grande ivaginação,
tudo a põe em excitação
(como melhor se diria
em termos de Antologia):
– tudo a enche de tesão!
De ir prá cama tem a ânsia
esta notável vedeta.
Não desdenha uma punheta,
mas fode com elegância:
tem garbo naquela greta!

Quando a Natália se vem,
quando a Natália se esvai,
até grita pela mãe,
até grita pelo pai!
E então a morder a fronha,
etérea Natália sonha
no seu leito, casta e pura,
nuvens fofas de langonha
e alguma esporra à mistura.

Se depois desta poesia
com tanta palavra erótica,
que um suave lirismo doura,
eu não for pra a Antologia,
pela vontade despótica
da ilustre Selectora,
é tão grave represália,
filha de inveja ou intriga,
que outra igual nunca se viu.
E então consinta, Natália,
que à puridade lhe diga:
– Vá prá puta que a pariu!»

Imagem de Nossa Senhora de Fátima... na colecção de arte erótica «a funda São»?!...

Peça em cristal da Vista Alegre Atlantis que, na altura do seu lançamento, gerou muita polémica por apresentar um formato fálico.
Tinha que vir para a minha colecção.

O Charlie comentou, no Facebook:
"Toda a veneração iconográfica remete à origem da vida, razão pela qual determinadas religiões professem a iconoclastia indo até mais longe e tornem os nomes desses ícones inefáveis. Nada de novo excepto tratar-se de uma obra magnifica que sintetiza a verdade absoluta que existe na observação do divino através da veneração dos símbolos"

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)

... e o Monstro


"Não há bela sem tesão". Pelo menos foi assim que aprendi.

Patife
@FF_Patife no Twitter

14 janeiro 2015

«Tangible [tangível]» - tratamento experimental para a anorexia

«Safei-me da pensão de alimentos!» - Bartolomeu

"Morder os mamilos e pisar o conão...
Será possível que a ordem dos factores seja alterada? Não sei mas, para mim, uma vindima deve começar pela limpeza do lagar, antes de lhe meter dentro o bago. Este post lembra-me uma burra que tínhamos lá em casa, enquanto vivi na aldeia antes de ter iniciado os estudos superiores e ter de mudar a residência para Braga. Como era o último a acordar, estava encarregue de aparelhar a burra, de a atrelar à carroça e de a levar até à vinha para carregar os cestos de uva já vindimada e levá-los para o lagar.
A distância desde a minha casa até à vinha ainda era longa e pelo meio, para atalhar caminho, atravessava um pinhal com mato muito alto.
Aí chegados, porque a visão da cona da burra, mesmo à frente dos meus olhos, provocava em mim uma erecção impossível de conter e porque o local era solitário, parava a carroça, soltava o nabo já a babar-se e colocando os pés nos varais da carroça e apoiando as mãos na garupa da «Ruça», enterrava-lhe o tronco até ao fundo.
De início, assaltava-me a sensação de estar a proceder a um ato moralmente condenável mas, como a burra não se queixava, antes pelo contrário, semicerrava os olhos e parecia até pedir que aquele momento fosse eterno, passavam-me os pruridos éticos e desatava a malhar na conaça da burra, como se o mundo não fosse durar mais de uma hora ou duas.
No fim, descia da carroça, limpava o mangalho a umas folhas de arbusto e seguia caminho.
Tive a sorte de a «Ruça» nunca ter emprenhado e, por conseguinte, não me vir a exigir o pagamento de pensões de alimentos."


Bartolomeu

a funda são mora na filosofia [VIII]


fotografia retirada DAQUI


o drama, o horror, a tragédia. a pequena Shiloh Jolie-Pitt gosta de se vestir "à rapaz" e - pasmem-se as alminhas - os pais permitem e apoiam a escolha da sua filha.


a filha do mediático casal só é notícia pelo facto de ser... filha do mediático casal. outros casos há de meninas que querem ser meninos e vice-versa que não aparecem nas colunas do DN nem são tópico de discussão em fóruns da internet. 

conheço uma menina, chamemos-lhe Vanessa, que tem quase 9 anos e que me foi apresentada como "a menina que quer ser um menino". anda sempre de calções ou calças e os seus melhores amigos são os outros rapazes com quem joga à bola e brinca. as suas colegas sabem que ela não gosta de usar laçarotes nem coisas cor de rosa. já se apaixonou por uma colega e a turma inteira lidou com isso de forma natural: a Vanessa gostava muito de uma rapariga, mas perceberam que só podem ser amigas. 

crianças de 8, 9 anos a revelar uma maturidade de calibre "jolie-pitt". disponíveis para aceitar, para compreender e lidar com a diferença.

esta notícia sobre a Shiloh e a história de vida da Vanessa fazem-nos questionar várias coisas: 
o que é isso de vestir à rapaz? 
há cortes de cabelo femininos e masculinos?
onde é que termina o feminino e começa o masculino?
como é que podemos agir na educação para que crianças como a Vanessa possam (con)viver a sua diferença, naturalmente?

há dias, estava a ajudar o meu afilhado, Bernardo, de 9 anos a fazer os trabalhos de estudo do meio. eu, que sou gaja que só veste preto e anda de doc martens com biqueira de aço, fui ao meu carro (btw, que é violeta) buscar o kit S.O.S. de professora. fita cola? cor de rosa. canetas de feltro? cor de rosa. "eu não quero essa fita cola, é cor de rosa", dizia-me o Bernardo. "é a única que tenho e precisas dela para terminar o trabalho, Bernardo. qual é o problema?" 

e eu que já estava à espera do discurso "isso é de menina e eu sou rapaz", preparava-me para debitar a cassete do "mas será que só coisas que são só de menino e bla bla" quando oiço da boca do Bernardo uma observação simples e honesta:

"Joana, eu não gosto de cor de rosa".

ainda assim, o Bernardo terminou o trabalho com a tal fita cola. não havia mesmo outra! e eu respeitei o facto dele ser um menino e não gostar de cor de rosa - insistir no contrário é ser tão ditadora como aqueles que acham que a menina Shiloh deveria usar saias e sabrinas - quando ela não gosta de o fazer. 


Mão querida, mão querida...


13 janeiro 2015

Areia inha


SANDY from Blink on Vimeo.

O Maradona do sexo


Perder a noção de tudo quanto estiver para lá da tua pele. E tornar a minha boca na mão de deus.

Sharkinho
@sharkinho no Twitter

«as mãos desfazem-se onde os olhares não chegam» - Susana Duarte

as mãos desfazem-se onde os olhares não chegam.
é onde os corpos se arqueiam, inundados por outros
corpos, navegantes estrangeiros dos mares profundos,
que os sonhos, como as mãos, despedaçam madeiras
das distâncias. as mãos desfazem-se onde os olhares
são fortuitas navegações entre um e outro olhar, entre
um e outro corpo, entre uma e outra suave aspiração
a ser. onde os olhares não chegam, não chegarão vozes,
e não chegará, certamente, o toque sedoso da pele.
as mãos desfazem-se onde se anuncia a madrugada só.
só onde as mãos se encontram, se anunciam
noites boreais.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

«Obscénica - textos eróticos & grotescos» - Hilda Hilst com ilustrações de André da Loba

Hilda Hilst é, juntamente com Clarice Lispector, uma das maiores escritoras brasileiras do século XX. Autora de uma obra eclética, que inclui ficção, poesia, crónicas e teatro, Hilda Hilst escreveu ainda alguns textos eróticos e grotescos para «alegrar-se um pouco», convencida de que «o erótico é uma santidade». Esta antologia reúne textos publicados em 1991 e 1992, textos ditos obscenos, sarcásticos e grotescos, que surgem agora acompanhados pelas ilustrações de André da Loba.
Exemplar com desenho original e dedicatória de André da Loba a um tal de Paulo... que veio para a minha colecção.

Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)









12 janeiro 2015

ManServants - «No strippers»

"Yes, this is a real service and yes, you need this in your life."
www.manservants.co

Prometeram começar a prestar serviços no Outono...

«Palma da mão» - João

"Estava quente. Eu estava quente, de corpo caído em cama macia, alva, muito quente, talvez demasiado quente apesar da tua ainda ausência. Não vi o teu caminho, não ouvi a tua chegada. Não sabia que vinhas a correr pela rua, a repetir o meu nome incessantemente. Não sabia que vinhas no elevador a desabotoar a blusa, ou que meteste mão à porta já com as calças ligeiramente desapertadas. Não te vi logo à entrada a atirar as botas para um canto, a roupa para outro, os objectos abandonados como ovos quentes que queimam as mãos. Não dei por ti a chegar deliciosamente nua ao meu lado, a deixar cair os cabelos sobre mim, mas foi aí que acordei, tendo sonhado contigo. Foi aí que abri os meus olhos e te vi, de gatas sobre mim, a desafiar-me, a dizer do quanto me querias, e a sorrir muito de mão aberta virada para mim, com um escrito na palma da mão, o mesmo que um dia viste, agora escrito na tua letra, para mim, e enquanto a tua roupa jazia no chão, enquanto os teus pertences desenhavam o caos, enquanto estávamos ali deitados, estava tudo."
João
Geografia das Curvas