19 dezembro 2012

«carro de gaja» - bagaço amarelo

Talvez eu seja um dos poucos homens à Face da Terra que não gosta de conduzir. Aliás, abomino o automóvel como produto tecnológico e como solução de mobilidade. Acho que é um dos grande erros da humanidade, com consequências desastrosas a nível social, ambiental e económico, centrar a mobilidade de oitenta quilos de gente numa máquina de duas toneladas.
Infelizmente, e porque o nosso modelo político não deixa grandes alternativas a quem precisa e gosta de se deslocar frequentemente, também tenho um carrito. Está quase sempre parado e, em média, só o uso aí uma vez de quinze em quinze dias. De resto ando de bicicleta, a pé e nos transportes públicos que ainda existem.
Para além de ser um erro, esta utilização massiva do automóvel por tudo e por nada, é também uma demonstração das diferenças de género. Os homens, na generalidade, adoram carros. As mulheres nem adoram nem deixam de adorar. Estão-se nas tintas para eles e só os usam quando precisam. Nesse aspecto sou mesmo muito parecido com elas e, para confirmar esta minha tese, a última vez que peguei no meu pequeno Fiat houve um gajo que me mandou ir para casa com o meu "carro de gaja".
O que mais me confunde e entristece nesta ligação do género masculino ao automóvel, é o exibicionismo. Eu disse que não gosto de conduzir, não disse que conduzir é difícil. Conduzir é, aliás, uma coisa tão banal e fácil que não tem piada absolutamente nenhuma, e quem se exibe demonstrando as suas capacidades ao volante, é tão atado que parece que ainda não se deu conta que há milhões e milhões de pessoas a fazer exactamente o mesmo ao lado dele.
É claro que este gajo que me disse que eu tenho "carro de gaja", logo a seguir carregou no acelerador a fundo e desapareceu na estrada. A exibição dele foi essa, carregar num pedal. Puff! Eu, que estava a estacionar junto à estação de Aveiro, e que o tinha enervado por causa disso, desliguei o motor e pus-me a pensar naquela frase. O mundo era melhor se não existissem "carros de gajo", ou seja, montes de palermas a fazer asneiras na estrada porque descobriram um dia que sabem conduzir.
Aliás, talvez um dos problemas deste mundo seja as mulheres não mandarem mais. O modelo de desenvolvimento que seguimos, e que nos levou a esta coisa tão estúpida que é termos que gastar uma pipa de massa num automóvel para nos podermos deslocar, é capitalista mas também é masculino. Se as mulheres mandassem mais, talvez a mobilidade em transportes públicos fosse um direito de todos. Aí, teríamos todos "carros de gaja", só para andar de vez em quando.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

O blog Obscenatório foi eliminado pelo Wordpress...

... por "violação das condições de serviço".
Nada erótico!


Força, Vinni. Estamos contigo. O blog «a funda São» já passou várias vezes por isso.
Hás-de conseguir reconstruir o blog.

Terapia de casal



Via Testosterona

18 dezembro 2012

«Tempo desfolhado» - Susana Duarte

______o tempo traz as flores acomodadas no peito_________

desfolha-as, no impulso firme de ser vento,

desacomoda-as de si, do caule, da voz das águias,
no movimento forte de ser vento,

e volta a deixá-las ser flores,
...
apenas por um segundo,
quando os olhos se movem ao encontro das mãos

e o tempo volta a ser tempo

e o tempo acomoda o peito

e as flores

e o vento

e os caules
de ser ave
levada nas ondas sonoras

do dia em que as mãos partiram

e deixaram as flores desfolhadas no peito
do imenso desalento

da tua ausência

_________até que o Tempo volte a ser tempo

de me desfolhares o peito______________

e de escreveres as pétalas das flores

____________________________________________em mim.

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

Eva portuguesa - «Tarde»

É tarde... 
Tarde para começar a ganhar dinheiro num dia de trabalho que já começou há muito...
Tarde para tentar outra profissão que não esta...
Tarde para iniciar uma carreira...
É tarde, demasiado tarde, para conseguir continuar a sonhar, para acreditar na inocência, para viver outra vida... até para viver esta...
É tarde para começar, para recomeçar, para fugir e para desistir...

É tarde até para amar...
Fugi do que não queria, indo ao encontro do que não devia.
Subi vários degraus, apenas para escorregar por eles abaixo.
Ri apenas para não chorar, nadei para me salvar sem que isso me permitisse evitar a corrente.
Sigo, como todos os outros, rio abaixo, levada por uma corrente que não me permite lutar ou resistir...

Resta-me a rendição a esse caminho que não escolhi tentando manter-me à tona, tentando manter-me viva...
E, quando quis tudo isto contrariar, quando quis o meu destino mudar... já era tarde... tarde para mudar, tarde para me rebelar, tarde para lutar... tarde para viver, tarde para morrer...
É tarde... muito tarde...


Eva
blog Eva portuguesa - porque o prazer não é pecado

Querem lá ver...

... que agora as palmeiras...


... vão começar...


... a dar caralhos?!


O tarot mais recente da minha colecção

Recebido de fresco dos E.U.A., «Le Tarot des Femmes Erotiques» (o tarot das mulheres eróticas), que se junta agora aos mais de 10 tarots que já estavam na minha colecção de arte erótica.







17 dezembro 2012

Ragga Magazine - «Cuida do teu» e «Cuida da tua»

Videos com imagens usadas no calão do Brasil para os órgãos sexuais masculino e feminino, respectivamente:



«pensamentos catatónicos (280)» - bagaço amarelo

abraços

Numa das primeiras noites em que saí com a Cláudia, abracei-a enquanto olhávamos para a montra duma loja de chocolates. Ela pediu-me que eu tirasse o braço. Que não se sentia ainda à vontade comigo, disse. Eu tirei, e continuei caminho tentando perceber porque é que uma mulher com quem eu já tinha dormido não se sentia à vontade com o meu abraço.
Entrámos num bar onde ela escolheu a mesa do canto. Fez questão de ficar virada para o centro e eu, de costas, só a via a ela e à parede. Estive calado a noite toda enquanto ela me falava dos clientes atrás de mim. Dois deles, que eu não cheguei a ver, estavam aos beijos enquanto as suas cervejas aqueciam, e ela tinha a mão entre as pernas dele. Não percebi, no seu tom de voz, se havia crítica, inveja ou admiração.
Naqueles primeiros dias, percebi que a Cláudia nunca falava dela própria, apesar de nunca estar em silêncio. Eu sabia que ela era divorciada e que tinha um filho que eu nunca tinha visto. Mais nada. Tinha-a conhecido naquele mesmo bar algum tempo antes e, desde então, dormido com ela algumas vezes, sempre na casa dela. Ela acordava antes de mim para ir trabalhar. Eu limitava-me a lavar a loiça, fazer a cama, e bater com a porta antes de sair. À hora do jantar, mais coisa menos coisa, ela telefonava-me para marcar um encontro e a história repetia-se. Saíamos, conversávamos, dormíamos juntos e eu nunca a podia abraçar.
Estávamos a olhar para a mesma montra da loja de chocolates quando eu lhe perguntei se o podia fazer. Para mim já era demasiado esquisito ter que lhe pedir licença para tal mas, ainda assim, foi o que fiz.

- Preferia que não. Eu não gosto nada de abraços, principalmente em público.

Nessa noite bebi mais do que o habitual. Estávamos sentados no mesmo canto do mesmo bar quando ela me disse que estava uma mulher a olhar para mim há muito tempo. Virei-me e o meu olhar cruzou-se com o de uma amiga que eu já não via há muito tempo. Estava de férias em Aveiro, depois de ter emigrado para a Alemanha. Levantámo-nos e demos um abraço longo. Perdi a noção do tempo nos braços dela. Quando tornei a olhar para a mesa do canto, a Cláudia já não lá estava. Ainda pensei que tinha ido à casa de banho ou coisa parecida, mas não. Nunca mais apareceu. Nunca mais a vi.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Quer vender seu carro? Use sua filha em fotos sensuais!

Fonte: HuffPost



Um vendedor de carros usados em Oregon (EUA) fez anúncios dos veículos com sua filha posando de forma sensual. Bem, na verdade isso foi o que ele disse. Uma mentira. A belezura da foto é na verdade uma modelo contratada, é a filha de outra pessoa. O carinha trollou todo mundo!

Achando que a loirinha era filha do cara, milhares de pessoas se interessaram pelo anúncio no Ebay. Muitos perguntaram se a loira vinha com o carro. No que o vendedor respondeu: "!jeito bonito de falar da minha filha" - "Mas claro - compre já!".

Mas tudo ficou estranho quando procuraram em uma página do facebook, que parece ser a de Kim Ridley, o vendedor, com fotos de familiares, mas de nenhuma filha, menos ainda uma filha loirinha e sexy.

Depois de muito questionado, vendo-se sem saída, a falcatrua foi descoberta, e Ridley admitiu que a moça não era sua filha. Uma passada pelo site do vendedor demonstrou que ele usava várias modelos para chamar a atenção dos consumidores.

Obscenatório
http://obscenatorio.wordpress.com/

O Homem de Aço

Precisa de uma cueca de aço.



Imagina ele na praia!

Capinaremos.com

16 dezembro 2012

Porta-Curtas - «Máscara Negra»

Ficção (Comédia)
Director: Rene Brasil
Elenco: Beno Bider, Eduardo Acaiabe, Élder Fraga, Júlio Machado, Rafael Rodarte
Duração: 15 min Ano: 2011
País: Brasil Local de Produção: SP

Sinopse: Gregório é apaixonado por uma mascarada de carnaval. Ele todos os anos vai atrás dela. Seus amigos tiram sarro, mas ele é um romântico convicto. Luisette é uma travesti em busca de carinho. Juntos eles passam uma noite de amor intenso. No dia seguinte, Gregório leva Luisette a um jogo de futebol beneficente com amigos vestidos de mulher. Conforme ela vai jogando bola, ele vai se apaixonando. Luisette o cativa pelo seu amor sincero.

Tio Sam Football Club


Obscenatório
http://obscenatorio.wordpress.com/

PI das brincadeiras de inverno







Mas... o que é aquilo?!...

15 dezembro 2012

Vanessão do Paraná

«conversa 1934» - bagaço amarelo

Eu - Temos que pôr a conversa em dia.
Ela - Qual conversa?
Eu - A conversa... a conversa em geral.
Ela - Pensei que tinhas alguma coisa concreta para me dizer.
Eu - Não, não tenho. Estava só a dizer que já não falamos há muito tempo.
Ela - Ah! Que interessante.
Eu - Noto alguma ironia na tua voz...
Ela - E eu noto alguma ironia no facto de quereres pôr a conversa em dia sem teres nada de concreto para dizer.
Eu - Epá! Eu gosto muito de ti, mas às vezes a sério que nem sei que te diga.
Ela - Já reparei.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»

Azulejo - Marina 2008

Um dos azulejos da minha colecção.
Este foi comprado em 2008 e está assinado, no suporte em madeira que serve de moldura, por Marina.


Um sábado qualquer... - «Pescaria 5»



Um sábado qualquer...

14 dezembro 2012

As pedras da calçada


Eu perguntei “Então e a…?” depois de o cumprimentar e de termos dito e concordado que já não nos víamos há muito tempo mas ele levantou a mão direita, da qual me mostrou a palma e calou-me.
– Nem me digas nada – suspirou, voltando a palma da mão para si e ficando a olhar para ela.
– Não? – perguntei, abanando a cabeça para reforçar a solidária negativa.
– Não – repetiu ele, também a abanar a cabeça com uma expressão de cão sem dono. – Nem me fales nessa gaja. – Eu encolhi os ombros noutro gesto prenhe de compreensão e solidariedade e olhei para o chão. As pedras da calçada pareceram-me estranhamente tristes. Ele agradeceu com a cabeça e continuou: – A gaja foi o pior que me aconteceu na vida, pá. O pior!
Sorri do ar trágico com que o pior foi dito e lancei como se fosse um desafio:
– Pior do que quando partiste a perna?
– Muito pior.
– Pior do que quando estampaste o carro do teu pai?
Ele riu com displicência.
Eu insisti:
– E ficaste em coma três semanas e perdeste o ano e partiste a omoplata, a perna e o colo do fémur?
Ele hesitou, olhou-me fixamente, moveu o ombro para cima e para baixo e depois em movimentos circulares, esticou a perna e olhou para o pé.
– Pior – anunciou, depois de voltar a cruzar o olhar com o meu. – A gaja foi pior que isso tudo, pá. Foi mesmo a pior coisa que me aconteceu na vida – concluiu com suspirada convicção e deslocados olhos de carneiro mal-morto.
– Bolas… – deixei escapar.
– E sabes o que é pior?
– Ainda pior?! – Espantei-me e olhei para o chão. Apesar do calor, as pedras da calçada apresentavam uma inexplicável humidade. “Provavelmente já conhecem a história”, pensei.
– É que se ela me ligasse agora para ir ter com ela, eu ia, pá. Eu ia…

Tempo frio na corrida seminua de trenó na Alemanha


Corrida de Trenó em topless
Fonte: thelocal.de

O V campeonato internacional de Corrida Nua de Trenó, que ocorreria em Braunlage, Alemanha, em fevereiro de 2013, foi cancelado. O motivo do cancelamento seria a preocupação com a segurança no evento, pois a cada edição o público aumentava surpreendentemente, com um número maior do que o de habitantes da pequena cidade.

Na edição de 2012 o público chegou a 25.000 pessoas. O evento terá uma pausa em 2013 para ver a possibilidade de continuar nos outros anos.

Veja algumas fotos e vídeos das edições anteriores:

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução



Obscenatório
http://obscenatorio.wordpress.com/

«Corpo» - Susana Duarte

transformar-me-ia em ave,
se as asas dos teus dedos me ouvissem

e condensassem, em nós,
as gotas acontecidas

nas costas,
onde te deixei estradas

quando, em mim,
e nos dedos,
e no rosto,
e no ventre,

deixaste rotas marinheiras,

flor de sal do teu corpo,

sabedoria nua das marés,
ave de todos os dias

negro irresoluto de todas as noites

Susana Duarte
Blog Terra de Encanto

Como pegar as gatas



Via Testosterona

13 dezembro 2012

Aubrey Beardsley


Lysistrata

Aubrey Vincent Beardsley (1872 - 1898) foi um importante ilustrador inglês. O seu estilo, influenciado pelos pré-rafaelitas e pela estampa japonesa, enfatizava o grotesco, o decadente e o erótico.

Apesar da sua carreira ter terminado precocemente aos 26 anos, devido à tuberculose, Beardsley foi uma figura eminente no movimento esteta, juntamente com Oscar Wilde e James A. McNeill Whistler.

Famoso pelas suas ilustrações perversas e grotescamente eróticas, Beardsley buscou inspiração na shunga japonesa. As suas ilustrações eróticas mais famosas basearam-se em temas mitológicos, nomeadamente, as ilustrações para uma edição privada de Lysistrata, de Aristófanes.


Lysistrata

Beardsley também escreveu um conto erótico - Under the Hill. Contudo não chegou a concluí-lo.

Apesar de identificado com o círculo homossexual que incluia Oscar Wilde e outros estetas ingleses, algumas dúvidas persistem relativamente à sua sexualidade, sendo encarado até por muitos como assexual, devido à sua doença crónica e à total devoção ao seu trabalho.

A toilette de Lampito

As especulações sobre a sua sexualidade incluem também rumores sobre uma relação incestuosa com a sua irmã Mabel, que poderá ter engravidado do seu irmão e ter, posteriormente, abortado.

Beardsley converteu-se ao Catolicismo em 1897 e pediu ao seu editor, Leonard Smithers, que destruísse todas as cópias de Lysistrata e todos os seus desenhos obscenos.Smithers ignorou os desejos de Beardsley e continou a vender reproduções das suas obras e até falsificações.

Lysistrata´


blog A Pérola

«Dar à posta» - Patife

Há qualquer coisa de doentio na forma sôfrega como um certo tipo de mulher deseja ver o homem que quer conquistar na mó de baixo. Não domina a suprema arte do engate e então pergunta a todo instante se ele está bem. E não aceita um sim como resposta: A sério? Não pareces bem. Passa-se alguma coisa. Vejo que algo não está bem contigo. Precisas de desabafar? Estou aqui para ti. Se precisares podes contar comigo. E toda essa ladainha para tratar dele, fazendo-se passar por querida e útil. É tão obsessivo que eu, enquanto cavalheiro, lhes faço muitas vezes a vontade. Finjo-me deprimido e forjo ser uma mente atormentada pela agruras da vida, só para as ver satisfeitas a pensarem que estão a tratar de mim. What´s the catch? Perguntam vocês. E perguntam bem: também é muito eficaz para as levar para a cama directamente. É um pouco como jogar monopólio e nunca ter de sair da chacha de partida. Não estás bem para conversar, pois não? Perguntam invariavelmente. Eu abano a cabeça intermitentemente, em sinal de acordo. E então elas falam e falam e falam, normalmente só a dizer clichés emocionais sem sentido a ver se aplacam a minha dor forjada. Falam mal mas costumam pinar bem. E este tipo de mulheres está sempre a dar à costa. Melhor: a dar aqui à posta. Mas pronto. A deste fim-de-semana tinha um palminho de cara e eu também tenho um palminho e meio de cara lho. Por isso estava mortinho para metê-la a sugar-me o besugo. Há qualquer coisa de magnético entre a boca de uma mulher que diz disparates e o meu pincel. É quase como que por justiça divina que o faço. Começo a ouvir vozes celestiais que me impelem a encher-lhes aquelas boquinhas de onde só sai asneira. Abocanha-me mazé a trombeta! É o que me apetece dizer sempre. Ao menos sempre vias o que é ter coisas de qualidade a sair pela boca. Mas depois lembro-me que estou a brincar às angústias e acabo por dar a entender que preciso de silêncio enquanto solto uns suspiros bem vincados. E elas, como não querem ir embora mas querem respeitar o silêncio solicitado, sentem que têm de fazer alguma coisa para ajudar e catrapumba. Como sempre digo, é tiro e queca.

Patife
Blog «fode, fode, patife»

publicidade...

É sabido que os publicitários são uns exagerados. Mas quando deles se evola o pendor poético.... que dizer? Ora, pois, que amem e façam o que quiserem! 



Luís Gaspar lê «Entre Ciência e Paixão» de Leonor Nascimento

"Espantoso mal me atingiu
um dia, quando não esperava;
tudo o que é Lei infringiu,
toda a Razão me fugiu
e hoje, do Amor sou escrava.

Vou entrar em confidências:
resposta para este Amor
fui procurar nas Ciências;
interrogar sapiências
de físico e pensador.

Ai de mim! Para mal meu,
não explicam esta paixão
nem Freud, nem Galileu,
nem Einstein, nem Ptolomeu,
nem mesmo o próprio Platão!

Corri então os poetas,
li romances com afã;
vidas de heróis e ascetas;
teatro de marionetas,
de Molière e de Rostand…

Continuei, pressurosa;
li Voltaire, li Descartes,
Nietzsche, Cervantes, Espinoza…
Qualquer poesia ou prosa,
filosofia ou arte.

Corri todos os museus,
exposições e concertos.
Vi Picasso, admirei Zeus,
ouvi Wolfgang Amadeus -
obras completas e excertos…

Estudei as religiões,
tantas quantas achar pude;
e fiz peregrinações,
jejuns e meditações…
Li a Bíblia e o Talmude.

O Alcorão li também,
e, para salvar a alma,
dei esmolas, fiz o bem;
mas não pude encontrar quem
me restituísse a calma…

Procurei na Biblioteca,
do Mar Morto, os manuscritos;
mas, mesmo virada a Meca,
não me surgiu um Eureka!
da leitura desses escritos…

Estudo a Pedra de Roseta,
já sei Sânscrito e Latim,
vão correndo a ampulheta
e a clépsidra obsoleta
nesta pesquisa sem fim…

Quer de noite, quer de dia,
devoro, afincadamente,
Matemática, Poesia…
História e Antropologia
leio até ficar doente…

Já ninguém me reconhece,
nem pais, nem primos, nem tias.
O tino já me falece,
já tenho a espinha em s
e subi dez dioptrias!

Ao microscópio analiso
as lágrimas que chorei…
E um relatório conciso
cada noite realizo
das penas que suportei.

E, telescópio na mão,
noite alta, no firmamento,
procuro a constelação
que se encontra em conjunção
com Vénus, nesse momento…

Infelizmente, porém,
não ponho fim neste enigma;
não resolvo esta equação;
e, nem por integração,
acho alfa, gama ou sigma…

Desde a Relatividade
à Teoria do Eu,
procurei com ansiedade
descobrir uma Verdade
que me tirasse do breu.

Já vi no televisor
tudo o que é curso em cassette;
sei operetas de cór;
fui para o computador
e liguei-me à Internet…

Apesar desta procura,
continuei ignorante;
de Amor, o mal não tem cura
e eu, que era tão segura,
vivo hoje periclitante…

E, fartas do turbilhão
que me avassala por dentro,
a Cabeça e a Razão
ordenam ao Coração
que mate este sentimento.

O Coração, no entanto,
responde: “Procurai mais!
Apesar desse quebranto
não me tireis deste encanto
em que também navegais…”

E presa nestes dilemas,
vasculho as Enciclopédias,
equaciono problemas,
demonstro leis, teoremas,
leio farsas e tragédias…

Com tanto estudo, afinal,
tirei três licenciaturas:
Quântica Medieval,
Genética Sideral
E Fisio-Literaturas!!!

E, apesar de não achar
para meu mal solução,
vou, para me graduar,
em breve, tentar tirar
Doutoramento em Paixão…

1994"

Leonor Nascimento

Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

CiberPapa



HenriCartoon