Como quem desce no sono
num frágil mas espesso barco
até onde uma baía de areia
espera um réptil sedoso
e lhe oferece o seio vermelho.
Entre os calhaus e as ervas
as bocas de água murmuram
sílabas de lua branca.
Um fabuloso sexo
sob entrançados cabelos
ergue o agudo clítoris
de um ouro redondo e puro.
Uma veia azul de mármore
sulca a preciosa prata
de um astro adormecido.
Uma proa branca exala
um núbil perfume
de canela e sémen.
O réptil toca a vulva
incandescente e lisa
e no mais lento júbilo
entra no centro perfeito
do mundo adormecido.
Como se fosse um pássaro
de pedra, de água e fogo
o sexo o absorve
na harmonia ardente
das suas plumas vermelhas.
Uma lua aparece
abrindo um espaço novo.
(António Ramos Rosa - "Os Volúveis Diademas")
Foto de Vincent O'Byrne recolhida por Xupacabras
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Uma por dia tira a azia