19 fevereiro 2006
Da espera
Meu querido
Quero que venhas depressa e chegues cansado de subir escadas, porque a pressa é tanta que o elevador é lento e não suportas esperas e corres e sobes e abres a porta e vens até mim, e eu dormindo sem saber que vinhas, sem ver a roupa que despes e deixas no chão, sem ver o teu corpo nu escorrendo pressa, sem ver os teus olhos que me procuram no escuro, sem ver a tua boca quando me murmuras nem as tuas mãos quando me destapam de lençóis e sono e sonhos que não tu, e como uma sombra mais escura que a noite como um contorno de um corpo que sei deitaste no meu e eu tão indefesa e eu tão surpresa de te ver ali, e só ouço de ti aquilo que respiras e o que a tua língua diz dentro do meu ouvido tão dentro a tua língua que me dá palavras que me molha o rosto quando as respiras, e as tuas mãos… ai as tuas mãos… que me apertam os ombros que me marcam o corpo e eu tão indefesa o rosto molhado com as tuas palavras e o que respiras, e as tuas pernas húmidas de escadas húmidas de pressa e urgência de mim que afastam as minhas procurando espaço, e a tua mão que me larga o ombro e te agarra o sexo e procura o meu, e eu…
Meu querido, ai como eu te espero.
Foto: José Gama
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Uma por dia tira a azia