Quando terminamos e ele se deita de costas, a fumar um cigarro, sou capaz de ficar horas ali, de barriga para baixo, apoiada nos cotovelos, a brincar com os pelinhos grisalhos do seu peito, roçando os mamilos na sua barriga, a ouvir as histórias dos seus vinte anos. De como o «Último Tango em Paris» fez filas intermináveis às portas dos cinemas, com homens e mulheres de todas as idades, dias e dias a fio. De como corriam pelo país as campanhas de alfabetização, os grupos de teatro e de música e até amplas simultâneas de xadrez, acompanhadas de recolhas de fundos em autocolantes para isto tudo e até para a construção de creches e infantários. De como o tempo e o FMI impuseram o aperto do cinto, o cancelamento do 13º mês e a tristeza solitária passou a encher as sessões contínuas do Odéon e no dia de finados de 1975 foi encontrado Pasolini assassinado numa praia.
Numa traquinice, enfio-lhe rapidamente a minha língua no umbigo e abraço-lhe as ancas escondendo a cara no seu baixo ventre, para levantar a cara de repente e lhe sorrir. Não lhe ofereço chocolates belgas em forma de búzio mas com as mãos em concha vou-lhe teclando as bolsinhas esponjosas e polindo o monumento digno de Cutileiro como se fosse um gelado a derreter no pino do verão, no vão desejo que esses breves instantes iludam a faixa cinzenta de Bruxelas que sustenta verbalmente o crescente preço da gasolina e da electricidade com tudo o resto a seguir o mesmo caminho em bichinha de pirilau, tal qual a falta de aumento de salário que ele ali à minha frente aguenta desde há uns anos com a perspectiva de ter ainda a reforma adiada para uma idade cada vez mais tardia.
Numa traquinice, enfio-lhe rapidamente a minha língua no umbigo e abraço-lhe as ancas escondendo a cara no seu baixo ventre, para levantar a cara de repente e lhe sorrir. Não lhe ofereço chocolates belgas em forma de búzio mas com as mãos em concha vou-lhe teclando as bolsinhas esponjosas e polindo o monumento digno de Cutileiro como se fosse um gelado a derreter no pino do verão, no vão desejo que esses breves instantes iludam a faixa cinzenta de Bruxelas que sustenta verbalmente o crescente preço da gasolina e da electricidade com tudo o resto a seguir o mesmo caminho em bichinha de pirilau, tal qual a falta de aumento de salário que ele ali à minha frente aguenta desde há uns anos com a perspectiva de ter ainda a reforma adiada para uma idade cada vez mais tardia.
O Dom OrCa já há muito que não odia:
uma língua que perturba
que me turva o olhar digo
percorrida curva a curva
comida a glande se expande
e grande se faz enorme
no corpo a corpo se entende
sorve a sede mata a fome
sacia o cio que o frio
dos dias não compadece
e faz desse frio um rio
de desejo que apetece"
O Charlie não pode ver oder sem querer oder também:
Ode de qualquer maneira
Ode de trás e de frente
É Odida, minha gente
Esta Orca Odideira
Duma letra faz cinquenta
duma frase, epopeia
Sem oder não se aguenta
esta Orca letropeia
Deus lhe dê vida eterna
E mão livre p'ra bater
com jeitinho nestas teclas
Onde gosta de oder... "
O Meteórico salta por detrás do arbusto para oder também o OrCa:
que o OrCa é genial,
com as palavras é um portento
usando o corpo como material...
Mais houvesse quem assim odêsse
e mais tempo aqui eu passaria
e quem quer que aqui passasse
talvez também lhe odaria...
Ao grande OrCa longa vida
e que ôda sem parar
que ôda até ter ferida
e que ôda até sarar!"
Já sabemos que o Dom OrCa nunca se fica sem se vir:
de tanto agrado e requinte
de tanto encómio o vosso
que nem sei bem como o pinte
pintá-lo-ei de azul
de verde-mar
de amarelo
de chinelo ou de joelhos
e mesmo àquele que me disse
que só me dava conselhos
num abraço muito belo
eu fui-me a ele... e pintei-lhos!
àquele outro que do encómio
de perturbada audição
entendeu ouvir "encone-o"
que se sirva de feição
fará dele a refeição
coza-o antes
depois come-o"
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Uma por dia tira a azia