Sabes São, eu já estava naquela fase em que não apetece fazer ponta de corno de depilação nenhuma, em que o cabelo pode estar espetado ou escorrido que é igual ao petróleo, em que as roupas são todas fardas pesadas e custosas de vestir, em que até o duche matinal se assemelha a uma mangueirada de água fria nos balneários de uma prisão ou numa praxe académica.
Nem sei como consegui distinguir o sorriso dele no meio da multidão da plataforma. Tinham passado anos que as cãs dele não escondiam mas os quinze minutos da viagem dissolveram-se na troca de relatos das profissões actuais, dos tempos de lazer, dos amores e desamores que consumimos no intervalo desde o último dia que nos vimos até aquele dia.
A conjuntura de ambos nos sabermos solitários nas voltas da vida, tornou imperiosa a troca dos números dos telemóveis que no fim de semana seguinte nos juntou numa cervejaria da memória, nos vodkas das ruas calcetadas e numa cama moderna de edredão com almofadas a condizer, onde movimentos lentos despiram cada peça de roupa, sorvendo em beijo cada pedaço de pele aparecida como se fosse um oásis. E na nudez total difundida pelo halogéneo fui a pele estendida que lhe comprimiu o cóccix para lhe acoplar o módulo no mais fundo de mim e me tornei águia para segurar o torso da presa, espetando as nádegas sobre as suas coxas e deslizando uma mão titilante pela linha do escroto até à linha aduaneira do rabo, na cumplicidade retardante do momento em que os olhos rodopiam como um divertimento de feira.
Findo o primeiro round ele desfiou os meus cabelos e os pormenores da construção do novo personagem em que trabalhava e apenas lhe pedi que continuasse a falar e não parasse, saboreando as suas palavras que mais do que o seu corpo me levavam ao orgasmo. O seu corpo podia seguir em telepatia.
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Uma por dia tira a azia