01 junho 2006

Querida Lola, obrigas-me a ir às gavetas :)

Tinhas-me dito nesse dia que te fazia lembrar a Duras. Fizeste-me o maior de todos os elogios e saíste. Foi por ela e também por ti que, depois de te ter visto pela última vez fiz as malas e rumei a Oriente. Qualquer país me servia desde que fosse para longe de ti, mas escolhi ir para bem longe. Era como se não me deixasses respirar bem, como se me apertasses os pulmões e eu não conseguisse inalar. Dirias que era de fumar tanto. Eu diria que não e daí nasceria mais um conflito (nunca precisámos de muito para conflituar).
Foi ainda no aeroporto que o conheci. Eu não era uma jovem, mas ele parecia tiradinho do filme do Resnais. E não foi ele quem me abordou, mas sim eu que fui sentar-me junto dele.
Entre inglês e francês entendemo-nos suficientemente bem para passarmos essa noite, e mais umas, mas só te vou falar da primeira, juntos.
O homem era atraente, certamente, mas acima de tudo fez-me sentir a mais bela mulher daquele aeroporto apinhado de executivos e turistas.
No hotel, pedi-lhe para correr os estores, depois de ter escolhido um quarto no piso térreo. Assim na penumbra quase me sentia a Riva, ou melhor, Elle.
Também estava calor nesse dia, como no filme, e continuou a fazer calor pela noite. Suponho que os nossos corpos juntos tenham gerado energia suficiente para alimentar todo o piso.
Contra todas as regras, chorei nessa primeira noite com ele, mas não foi por tristeza ou por perda. Foi quase por amor. Sabias que quase se pode amar um estranho quando depois de muita aridez nos trata bem?
O que melhor fixei do corpo deste homem foi a forma redonda e firme das nádegas. E estava bronzeado, imagina.
Esqueci-me de tudo o que me tinhas dito e deixei que fodesse, de todas as formas que quis, cada poro do meu corpo. Ai, desculpa, não devia ter dito “fodesse”? Bem, apesar de tudo, não poderia ter dito “amasse”, que foi apenas um quase amor. Se bem que quase amor é melhor do que nada. Pronto, cá estou eu a perder-me por atalhos, não era de amor ou falta dele que te queria falar. Era desse homem. E da noite que passámos juntos, a primeira.
Consegues imaginar o que é deitares-te e não te sentires avaliado, medido, comparado? Sentires-te desejado, simplesmente.
Dizem que os orientais, alguns, suponho, conseguem ver a beleza onde ela esteja, independentemente do que a disfarça. Este homem viu a minha. Eu fiquei a saber que a tenho.
Mas sabes?, não vou afinal falar-te deste homem.
Tu não compreenderias.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia