De debaixo de uma pedra sai um lagarto, diziam as minhas tias e as outras mulheres da aldeia, em jeito de alento, não fossemos nós, raparigas despreocupadas, começar a preocupar-nos com namoricos e eles não aparecessem.
Apareciam sempre. Não eram lagartos, eram uma espécie de sapo com pila grande que mais não queriam do que umas fodas apressadas e mal jeitosas nos casões de trigo e erva doce ou encostados às árvores que ficavam por trás da fonte, a única da aldeia.Nós, raparigas que nos intervalos dos beijos, apalpões e mãos por dentro da roupa, ainda brincávamos com bonecas, não nos preocupávamos. O trabalho que dava fazer aqueles jantarinhos e depois limpar a sujidade e arrumar o caos, não nos deixava pensar em casamentos, em casinhas a sério.
As tias e as outras mulheres gostavam de nos ver assim, tão aparentemente femininas, e por parecermos tão atinadinhas podíamos correr pelas searas e desaparecer durante horas que ninguém reparava que os rapazes também não assomavam pelas ruas, nessas horas.
A ajeitar as saias e a puxar as meias descaídas, lá voltávamos as três, à hora do jantar. Afogueadas, despenteadas, risonhas, voltávamos às nossas bonecas.
Nunca nenhuma de nós teve uma foda triste, concluímos num destes fins de semana em que, mulheres feitas já de cidade, nos juntámos para jantar e contar dos últimos sapos, que lagartos, esses, ainda não sairam de debaixo de pedra nenhuma.
E tal como fazíamos com as bonecas, agora voltamos para os nossos trabalhos, para a vida de cada dia, com histórias feitas de sapos que vamos fodendo, sem lagartos que vamos amando.
Rosa, pura rosa
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Uma por dia tira a azia