Lisboa dos anos vinte era o refúgio para a pobreza e a má língua da província e ela com dezasseis anos feitos e o peito empinado para cá abalou com um homem de posição, daqueles que cobram pelos conselhos que dão e que estrategicamente lhe deu guarida numa casinha para os lados da Bica e afastada da sua morada de família de Campo de Ourique que ele já tinha idade para ter juízo e as aparências são uma lei mais velha que a Sé de Braga.
A ela não lhe pareceu bem a bigamia que para além das voltas na cama em que até já se despia todinha outras eram as expectativas que trazia e quando o disse claramente ele deu às de vila-diogo como quem vai tirar o pai da forca. O remédio foi ir à cata de trabalho e vá de servir de dia numa farmácia e à noite nas mesas do Olímpia Club. Um cliente habitual engraçou com o seu jeito desembaraçado em cinturinha de vespa a remexer o traseiro redondinho e a espevitar a imaginação masculina descobrindo até que um bocadinho abaixo dos largos caracóis acobreados que lhe pendiam no pescoço limpinho havia um mimoso par de rolinhas onde lhe apetecia aninhar a cara, o nariz e o mais que pudesse. E um dia convidou-a para o seu escritório e pediu-lhe para cantar.
O simpático e afável careca era empresário de artistas e rendeu-se à sua voz maviosa e ala moça a levá-la para actuar em retiros fora de portas, pelas bandas de Benfica e Carnide e até em esperas de toiros. Ensinou-a a respirar para modular a voz, escolheu-lhe o repertório e a roupa, até ao detalhe do chapéu, e ainda o nome artístico mesmo que não lhe confessasse que também a sua legítima esposa se chamava Amélia. Como contrapartida deixava-a escolher a roupa interior com que o surpreendia com risos gaiatos e a energia e viço dos gestos com que o trotava alheada da proeminente barriga dele como se fosse apenas a imprescindível sela num passeio por esses campos fora.
E mesmo quando o senhor, como Amélia sempre o tratou, sentado na sua poltrona se virou para ela com um ó filha que doravante cantas só para mim, que estava divorciado de fresco, ela aproximou os lábios da calva branquinha para um sonoro beijinho sentindo as mãos dele a amarinhar-lhe por dentro da saia para rubricar a sua aceitação de apenas chilrear dentro de portas e galopar no leito conjugal o selim do senhor empresário.
A ela não lhe pareceu bem a bigamia que para além das voltas na cama em que até já se despia todinha outras eram as expectativas que trazia e quando o disse claramente ele deu às de vila-diogo como quem vai tirar o pai da forca. O remédio foi ir à cata de trabalho e vá de servir de dia numa farmácia e à noite nas mesas do Olímpia Club. Um cliente habitual engraçou com o seu jeito desembaraçado em cinturinha de vespa a remexer o traseiro redondinho e a espevitar a imaginação masculina descobrindo até que um bocadinho abaixo dos largos caracóis acobreados que lhe pendiam no pescoço limpinho havia um mimoso par de rolinhas onde lhe apetecia aninhar a cara, o nariz e o mais que pudesse. E um dia convidou-a para o seu escritório e pediu-lhe para cantar.
O simpático e afável careca era empresário de artistas e rendeu-se à sua voz maviosa e ala moça a levá-la para actuar em retiros fora de portas, pelas bandas de Benfica e Carnide e até em esperas de toiros. Ensinou-a a respirar para modular a voz, escolheu-lhe o repertório e a roupa, até ao detalhe do chapéu, e ainda o nome artístico mesmo que não lhe confessasse que também a sua legítima esposa se chamava Amélia. Como contrapartida deixava-a escolher a roupa interior com que o surpreendia com risos gaiatos e a energia e viço dos gestos com que o trotava alheada da proeminente barriga dele como se fosse apenas a imprescindível sela num passeio por esses campos fora.
E mesmo quando o senhor, como Amélia sempre o tratou, sentado na sua poltrona se virou para ela com um ó filha que doravante cantas só para mim, que estava divorciado de fresco, ela aproximou os lábios da calva branquinha para um sonoro beijinho sentindo as mãos dele a amarinhar-lhe por dentro da saia para rubricar a sua aceitação de apenas chilrear dentro de portas e galopar no leito conjugal o selim do senhor empresário.
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