29 julho 2013

Luís Gaspar lê «Corpo de Mulher» de Pablo Neruda

Corpo de mulher, brancas colinas, coxas brancas,

assemelhas-te ao mundo no teu jeito de entrega.

O meu corpo de lavrador selvagem escava em ti
e faz saltar o filho do mais fundo da terra.
Fui só como um túnel. De mim fugiam os pássaros,

e em mim a noite forçava a sua invasão poderosa.

Para sobreviver forjei-te como uma arma,

como uma flecha no meu arco, como uma pedra na minha funda.

Mas desce a hora da vingança, e eu amo-te.

Corpo de pele, de musgo, de leite ávido e firme.

Ah os copos do peito! Ah os olhos de ausência!
Ah as rosas do púbis! Ah a tua voz lenta e triste!
Corpo de mulher minha, persistirei na tua graça.
Minha sede, minha ânsia sem limite, meu caminho indeciso!

Escuros regos onde a sede eterna continua,

e a fadiga continua, e a dor infinita.

Pablo Neruda
Ouçam este poema na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa