Um homem quando está só, precisa tanto dum balcão de um bar como do ar para respirar. É que o balcão engrandece a solidão, uma mesa reprime-a. Um balcão é um tapete de boas-vindas a quem anda sozinho pelas ruas, uma mesa é um dedo acusador. "Estás sozinho e aqui só se sentam pessoas acompanhadas", diz-nos. É triste, mas é assim.
Quando um homem está sentado ao balcão de um café, está assumidamente só. Quando está numa mesa de café, não é possível perceber se está à espera de alguém, mas mesmo que não esteja, a tristeza é o ar que se lhe dá. As mesas de café, com uma só pessoa sentada, são um deserto de emoções.
O balcão sim, é uma verdadeira instituição de engate. O empregado de balcão, aliás, é outra. Um cliente pede uma cerveja mas compra também uma conversa sobre seja o que for, nem que seja o estado do tempo, e de repente tod@s @s solitári@s ali sentad@s estão a conversar através dele.
Foi assim que conheci a Luísa há alguns anos atrás. Sentei-me ao lado dela, deixando um lugar vazio entre nós para não parecer mal. Através do empregado, um tipo simpático de bigode ruivo, acabei por falar directamente com ela e saltar, em apenas alguns segundos, essa enorme distância dum pequeno banco giratório que nos separava. Ainda somos amigos e, uma vez por outra, ainda falamos desse dia com um misto de nostalgia e júbilo.
Hoje disseram-me que o Refúgio, o café com o maior balcão da cidade de Aveiro, já não existe. O tempo chamou-lhe velho e fechou-o. Resta-nos as trincheiras do café Ramona e da sala interior do Convívio. É uma pena. Hoje seria difícil conhecer a Luísa.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»