... os poderes estabelecidos, uma vez mais, pouco mais fizeram que silenciá-lo. E, no entanto, aí está um exemplo acabado de um escritor inconformista a quem devemos tanto da coragem das palavras e das ideias que elas nos dão como alimento.
Singela homenagem esta, a minha, mas aqui a deixo, recorrendo a um belíssimo texto de sua autoria que tem tanto a ver com tudo quanto por aqui se vai passando:
O Fim do Amor Trágico e Romântico?
Vivemos, de facto, numa época em que a noção de amor trágico e romântico, que herdámos do século dezanove, se tornou inactual, embora continue ainda a ser vivida por muitos - e até com o carácter de construção moral e estética - essa relação extremamente apaixonada, exigente e exclusiva. A reclamação da liberdade erótica não me parece que de algum modo tenda a degradar a vida, conquanto possa dessublimizá-la e do mesmo passo desmistificá-la, precisamente no propósito de a tornar mais lúcida e mais generosa. Afigura-se-me que na contestação de todas as prepotências firmadas em preconceitos, em princípios estabelecidos apriorísticamente, há sempre um nexo muito íntimo entre a reinvindicação da liberdade erótica, da liberdade no trabalho e da liberdade política. E, naturalmente, quando se dá uma explosão desta espécie, é como uma pedra que rola e que vai agregando uma série de materiais e descobrindo a sua própria composição até às zonas mais profundas da sua estrutura.
- Urbano Tavares Rodrigues, in "Ensaios de Escreviver".
A falta imensa que sempre nos fazem os espíritos lúcidos e esclarecidos...