Diz-se vulgarmente que o futebol é causa frequente de agruras para o enlevo conjugal, uma paixão que se manifesta de mão dada com o avançar da monotonia nas relações, etc. Não foi assim com este casal, cuja aventura me foi narrada por um amigo em comum.
Estavam ambos sentados no sofá da sala, diante da televisão, cumprindo a medíocre liturgia dos seus serões de Sábado. Ela passava o tempo lendo uma dessas revistas para a dona-de-casa badalhoca, célebre pelo correio dos leitores, em que pontificavam questões de grossa metafísica, tais como a possibilidade de se engravidar pelo cu. Ele assistia a um entediante Campomaiorense-Benfica, usando de uma paciência beneditina, sem qualquer interesse, não obstante ser benfiquista até debaixo de água. O marasmo espessava a atmosfera sobreaquecida da sala em que os dois vegetavam. Sem prelúdios de oratória, trejeitos físicos, nem desviando a vista da televisão, o fulano atirou casualmente: -"Vamos foder?" Em resposta recebeu um encolher de ombros, um descer de calça de fato de treino Quechua, um ás-de-copas oferecido e uma mão que desviava a cueca para o lado. Era sempre assim: entre eles, os preliminares tinham o encanto de uma repartição de finanças de província perto da hora do fecho. Montou-se o manfio na cachopa e deu início ao costumeiro martelanço, sem tirar os olhos do jogo de futebol. Juram-me que se ouviu um bocejo entre o slop! slop! de carnes. Mas eis que as papoilas saltitantes se agitaram e o Benfica marca um golo. No mesmo instante, o moço - tolo de alegria, a atenção colada ao ecrã com Araldite - retirou o malho da suave gruta e, fazendo o movimento de regresso segundo um ângulo errado, empalou com o caralho o esfíncter à cônjunge, a sangue-frio, enquanto gritava: -"Golo do Benfica!"
Não me contaram os instantes seguintes a tão bárbara invasão aos domínios do rego, mas sabe-se que as colegas de trabalho da menina, lá no call-center, estranharam que nessa segunda-feira ela se sentasse com mil cautelas e ostentasse um constante, misterioso, deliciado sorriso...