22 setembro 2014

«respostas a perguntas inexistentes (279)» - bagaço amarelo

Lembro-me da primeira vez que declarei Amor a uma mulher, que por acaso ainda não era mulher porque eu também ainda não era homem. Troquei-me todo nas palavras e nos movimentos, corei e gaguejei para no fim não conseguir dizer muito mais do que "gosto mais ou menos de ti!". O resultado, como poderão imaginar, não foi o melhor.
Quando somos crianças e nos apaixonamos pela primeira vez aprendemos que o Amor é uma barreira gigantesca entre aquilo que dizemos e aquilo que sentimos. Depois disso não aprendemos mais nada. Eu, pelo menos, não aprendi. Aos quarenta e dois ainda estou na mesma. Acho que é por isso que vou mantendo este blogue, para diminuir essa distância entre o que sinto e o que digo.
É uma verdade que os homens em geral não gostam de falar de Amor. Optam quase sempre por engoli-lo e andar com ele às voltas no estômago com uma impossível digestão. Tem uma certa lógica: são o sexo forte e falar de Amor fragiliza-os. Além disso, uma declaração de Amor é uma aposta total. Ou se ganha tudo ou se perde tudo.
Quando nos tornamos adultos a coisa muda um bocado, essencialmente por causa do sexo. Uma declaração de Amor não depende apenas do que se diz, mas também do corpo. Dois corpos podem aproximar-se lentamente um do outro sem se comprometerem tanto como se comprometem as palavras. Se a coisa funcionar, acaba em sexo. Se não funcionar, acaba em silêncio. Acaba bem ou menos bem. São as palavras as únicas que podem acabar mal.
De qualquer forma duma coisa tenho a certeza: é muito mais fácil dizer que se Ama depois do sexo. É por isso que, em caso de paixão, a primeira palavra deve ser um toque.


bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»