26 março 2016

«O diário dela e o diário dele» - por Rui Felício

O DIÁRIO DELA

Querido diário,
Macambúzio, calado, era assim que ele estava ontem ao fim do dia. Convenci-o a irmos jantar fora para desanuviar e tentar que ele animasse.
Escolhi um restaurante romântico, intimo. Mas ele passou o tempo calado, distante, quase sem olhar para mim.
Aliás, já andava assim estranho há uns tempos.
A pergunta minha apressou-se a dizer que não era nada comigo, mas não explicou mais nada.
Pelo caminho, de regresso a casa, declarei-lhe o meu grande amor por ele. Acariciei-o. Limitou-se a passar o braço pelo meu ombro, mas continuou calado.
Chegados a casa, atirou-se para cima do sofá e ligou a televisão. Mas o seu olhar estava distante,fitando o vácuo.
Disse-lhe que me ia deitar.
Um quarto de hora depois ele veio para a cama também.
Sempre calado, para minha surpresa, ele correspondeu às minhas caricias e fizemos amor.
Adormeceu logo a seguir sem sequer se aperceber dos meus beijos ternos.
Fartei-me de chorar.
Não tenho dúvidas, ele tem outra. Só não teve ainda coragem de me dar a noticia. Sei que em breve me vai deixar.

«Eusébio»
Boneco de cordel das Caldas,
com peso de chumbo na ponta do cordel
Colecção de arte erótica «a funda São»





O DIÁRIO DELE

Maldito Diário
Passei a noite toda chateado.
O Sporting perdeu.
O treinador e o presidente já nem se falam.
O sonho do campeonato já lá vai.
Ao menos ainda fiz amor com a minha mulher antes de adormecer.
Mas já nada me alegra. Tenho de mudar de clube...

Rui Felício
Facebook
Blog Escrito e Lido